
Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Um tempo atrás, enquanto organizava uns documentos no armário, encontrei a apostila do Detran-RS utilizada nas minhas aulas teóricas do processo de obtenção da carteira de habilitação. Folheando a apostila, me deparei com a ausência do tópico sobre atropelamentos de fauna, tanto na parte ambiental quanto em relação à segurança do usuário. Achei intrigante pensar que quando fiz a autoescola, essa ausência não me chamou a atenção, mesmo já tendo conhecimento sobre esse impacto das rodovias. Acredito que parte disso se deve ao fato de nunca ter olhado para as estradas sob o ponto de vista de condutora de um veículo e do quanto a minha segurança (e dos meus passageiros) estaria em risco ao atropelar um animal.
Novos condutores são vulneráveis às ameaças impostas pela presença da fauna nas estradas, pois presume-se que possuem menos habilidades e segurança na direção para evitar acidentes, ou até mesmo para não provocar um, pela falta de experiência. Porém, a forma de evitar o problema também pode estar relacionada ao conhecimento e à consciência sobre esses riscos, que deveriam ser transmitidos pelos manuais de direção defensiva. Se nunca ouvirem falar dos riscos e de como evitá-los, como condutores recém habilitados poderão evita-los?
No Rio Grande do Sul, desde 2011 existe um programa do Estado – o Viagem Segura – que tem o objetivo de fiscalizar o trânsito durante períodos de maior movimento a fim de reduzir o número de acidentes nas rodovias. Além desse programa, as concessionárias CCR ViaSul e EGR (Empresa Gaúcha de Rodovias) também têm realizado campanhas de sensibilização dos usuários, dando dicas sobre como tornar as viagens mais seguras e agradáveis para os condutores e passageiros dos veículos. Nessas ações são distribuídos materiais educativos e informativos e colocados painéis publicitários chamando atenção dos condutores sobre sua segurança, principalmente em relação aos limites de velocidade.

Entretanto, assim como no caso da apostila que mencionei, o atropelamento de fauna e a possível presença de animais nas estradas estão ausentes nesses materiais informativos.
Precisamos atuar junto a órgãos como Detran e às concessionárias de rodovias para que haja inclusão do tópico de atropelamento de fauna nas autoescolas e nas campanhas de sensibilização dos motoristas. Poucas frases podem ser suficientes, tanto na apostila do curso de formação de condutores como nos materiais das campanhas de conscientização no trânsito. A inclusão desse assunto poderá alertar os condutores, desde o processo de formação, quanto ao impacto do atropelamento de fauna (inclusive em outros níveis de aprendizado).
Considerando os conflitos entre animais e rodovias que trazemos frequentemente aqui, a conscientização sobre o tema pelos usuários de estradas se faz imprescindível, tanto para sua segurança pessoal quanto para a dos animais.
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