Novo empreendimento no Vale do Paraíba (SP) voltado à soltura de fauna

Esta coluna é dedicada a áreas de solturas e solturas de animais silvestres que eventualmente tenham sido recolhidos a centros de triagem e reabilitação (Cetras) por terem sofrido algum tipo de restrição em sua trajetória de vida livre, seja por acidentes ou tráfico de fauna. Daí o nome Segunda Chance, uma vez que a devolução de espécimes à vida livre é uma forma de reequilibrar, localmente, as populações de silvestres. É preciso repetir sempre que, sem Cetras, a soltura perde um importante aliado na recuperação dos animais, uma vez que, soltura responsável exige infraestrutura de reabilitação sanitária, clínica e comportamental.

O Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, é cortado por importantes rodovias pelas quais passam animais traficados, sem contar os casos de atropelamento e outros problemas que afetam diretamente as populações de fauna silvestre.

Hoje vamos falar sobre o Parque Três Pescadores, localizado em Aparecida (SP), no coração do vale do Paraíba. Inaugurado em julho de 2024, o empreendimento é um atrativo turístico que une história, fé, arte e proteção ambiental. Está localizado às margens do rio Paraíba do Sul, próximo ao Porto do Itaguaçu. Entre as atrações do parque encontramos o Refúgio de Aves, que abriga espécies ameaçadas da fauna brasileira.

O Refúgio das Aves está localizado em área próxima da área de preservação permanente do rio Paraíba do Sul. Essa APP recebeu um primoroso projeto de recomposição florestal, integrado a uma passarela aérea que permite a visitação da área com acessibilidade. Sem contar a deslumbrante vista do rio, com direito a passeio de barco. Lindo. Vale a visita.

O Refúgio das Aves conta com dois responsáveis técnicos:  a bióloga Juliana de Souza e o veterinário Gerson Norberto.

Juliana, coordenadora ambiental e especialista em bem-estar animal, que morava em outro Estado, veio “de mala e cuia” se jogando com tudo no projeto, que foi pensado como exemplo para a conservação ambiental.

O plantel e seu manejo

Os animais são mantidos em um único viveiro telado, com características naturais, tanto que eles chegam a se reproduzir na área. O primeiro caso, desde a inauguração, foi o de uma pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro) – o que caiu muito bem, já que o animal é a representação do Espírito Santo e o empreendimento está localizado no município com o maior centro de peregrinação religiosa do Brasil: o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, também conhecido como Basílica. 

O empreendimento, que possui um foco na conservação de biodiversidade, identifica os animais com potencial de soltura e que exibam repertório comportamental diverso, sempre comprovado por etograma (ferramenta de estudo comportamental). De acordo com a bióloga Juliana, alguns espécimes chegam já em condição de soltura. “Temos araras nessa condição, com habilidade de voo e capacidade de ovoposição para soltura em parceria com o projeto Refauna, que acontece na floresta da Tijuca (RJ). Esses animais, duas fêmeas, passarão por laparoscopia garantindo a integridade do sistema reprodutor”.

O aviário promove os cinco domínios do bem-estar animal, incluindo os aspectos físicos e estruturais do viveiro para que ele se torne um “recorte do mundo natural”. Além disso, também promove a socialização, uma vez que lá se encontram várias espécies, inclusive de répteis e mamíferos. O cuidado vai até o enriquecimento alimentar, com oferecimento de picolés feitos especialmente para cada espécie em períodos de calor intenso e presença de ervas no aviário para promover estímulo olfativo.

As aves recebem marcação de penas para que possam ser identificados à distância, evitando o estresse da captura.

Outro aspecto importante é o treinamento periódico da equipe, com programa oficial de estágios através de acordos de cooperação com instituições técnicas ligadas ao manejo de fauna e com universidades.

Um caso interessante de soltura

O plantel também é composto por animais com imprinting (fenômeno em que um espécime se identifica com o ser com quem convive logo após o nascimento)  com humanos, que são utilizados para educação ambiental, mas que não ficam na área de visitação – inclusive, quando animais no aviário eventualmente abordam pessoas na área de visitação, são retirados para que os visitantes possam apreciar os animais com o comportamento mais natural possível.

Então voltemos ao caso dos animais com necessidades especiais. Adivinha a espécie? Claro, eles, um casal de periquitões maracanã (Psittacara leucophthalmus)! Dá um look nas figuras!

E claro, pergunta se eles amaram o viveiro? Resultado? Ganharam até post no Instagram!

E o trabalho? Anilhar, treinar, explicando para eles que ser humano não é legal e soltar!

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