Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS).
Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
Talvez para a maioria das pessoas que vivem em centros urbanos seja difícil imaginar que ainda existam locais sem estradas, casas ou qualquer resquício de presença humana. Nesses locais, quando há intervenções humanas, normalmente são poucas e isoladas, sem acesso a muitas das facilidades de uma rotina antropocêntrica.
Graças à resistência desses ambientes, ainda é possível observar a abundância de diferentes formas de vida que contribuem para o equilíbrio ecossistêmico e para a qualidade de vida, inclusive em áreas onde essa biodiversidade já não existe mais. Um exemplo prático são os “rios voadores”, que levam água das florestas amazônicas para diversas regiões do país. Quando o desmatamento é excessivo, as consequências são sentidas diretamente nos centros urbanos. Situações similares ocorrem no Pantanal, em que a qualidade do ar em diferentes regiões do Brasil foi impactada pelos intensos incêndios no bioma.
Para muitos que não estão conectados com as causas ambientais, pode ser difícil compreender a relação entre degradações da natureza e os constantes desastres ambientais (enchentes, deslizamento de terras, secas extremas etc.). Essa desconexão torna ainda mais desafiador associar tais impactos à ausência de políticas públicas eficazes ou às consequências de decisões políticas inadequadas.
Infelizmente, vivemos em um sistema capitalista que prioriza o lucro acima de tudo, incentivando a exploração de recursos além do necessário. Essa dinâmica cria a ilusão de progresso ao justificar a degradação ambiental em nome do avanço tecnológico. Essa pressão afeta regiões como o Pantanal, onde o ser humano, por muito tempo, conviveu em harmonia com a natureza, aceitando a dinâmica das águas que transformam drasticamente a paisagem ao longo do ano.
No entanto, as mudanças climáticas têm alterado esse equilíbrio. Locais antes inviáveis para atividades como a agricultura de larga escala, devido às inundações, agora estão sendo ocupados para o cultivo de monoculturas, uma vez que as cheias se tornaram menos frequentes e até mesmo ausentes em muitas regiões.
Um exemplo recente dessa pressão por “progresso” é a intenção de finalizar a rodovia Transpantaneira. Construída originalmente na década de 1970 para conectar os pantanais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a estrada nunca foi concluída devido às dificuldades impostas pelo bioma. Atualmente, ela funciona como uma estrada-parque, voltada para o ecoturismo e protegida por legislação ambiental. Entretanto, foi anunciado o projeto de construção de uma ponte para conectar as cidades de Poconé (MT) e Corumbá (MS), o que despertou preocupações entre ambientalistas.
Embora pareça uma iniciativa benéfica à população local, os objetivos reais incluem facilitar o transporte de grãos e outros produtos agrícolas entre os Estados, promovendo atividades que podem resultar em degradação ambiental significativa.
A construção da ponte e, consequentemente, a ampliação viária da região ameaçam o ecossistema do Pantanal de diversas formas. A estrada principal pode desencadear o efeito “espinha de peixe”, em que vias secundárias e terciárias são abertas para atender às demandas de exploração. O aumento do fluxo de pessoas e veículos trazem impactos diretos a fauna como a mortalidade através de atropelamentos, perda de hábitat, além das poluições sonora, atmosférica e visual. Mesmo sem o asfaltamento planejado, é inevitável que a pressão antrópica aumente, levando à necessidade de maior infraestrutura na região, com consequente aumento do desmatamento e perda de biodiversidade.
O Brasil possui um enorme potencial econômico no ecoturismo, em que a conservação da biodiversidade se mostra mais lucrativa no longo prazo do que sua exploração destrutiva. Um exemplo é a região de Porto Jofre, próxima ao local da nova ponte, onde as onças-pintadas atraem turistas do mundo todo, gerando receitas que superam os ganhos da pecuária tradicional. Investir em soluções sustentáveis e na conservação ambiental é essencial para garantir a continuidade desses benefícios econômicos e ambientais.
A mobilização contra a obra já começou, com ambientalistas e instituições promovendo uma carta aberta para impedir a construção da ponte. Essa ação busca gerar visibilidade midiática e pressão política para que a obra não avance. O Pantanal é um bioma que já enfrenta diversos desafios, como incêndios, seca, desmatamento, garimpo e caça ilegal. Adicionar mais um impacto significativo é uma tragédia anunciada que comprometerá permanentemente sua integridade ecológica.
Valorizar os locais que mantêm um equilíbrio entre a natureza e as atividades humanas é fundamental. A proteção ambiental deve ser uma prioridade em todas as tomadas de decisão. O Brasil tem uma responsabilidade global na conservação de biomas como o Pantanal, que são cruciais para a qualidade de vida humana no planeta. Grandes obras em ambientes remotos devem ser evitadas, pois o preço da destruição ambiental é alto demais, tanto para o presente quanto para as gerações futuras.
Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS). Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
