Nossa primeira imperatriz, Dona Leopoldina, e sua contribuição científica

Neste artigo faço questão de homenagear uma importante precursora da Ciência no Brasil. Sua curiosidade e conhecimentos científicos contribuíram, em muito, nos primórdios de nossa nação. Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena nasceu em 22 de janeiro de 1797, filha do imperador da Áustria, Francisco I, e da princesa Maria Teresa Carolina de Nápoles e da Sicília. Nossa primeira imperatriz ficou conhecida nessas terras como Imperatriz Leopoldina, Dona Maria Leopoldina ou Maria Leopoldina de Áustria (era tradição da família real portuguesa incluir “Maria” entre os nomes das filhas de um rei e Leopoldina optou por fazê-lo após seu casamento).

Desde pequena – em torno de seus 14 anos, segundo registros austríacos –, Dona Maria Leopoldina era apaixonada pela natureza, principalmente por Botânica e mineralogia (Geologia). Após seu casamento com Dom Pedro I, em 1817 (por procuração), fez questão de aprender o português e leu várias cartas em que viajantes descreviam as belezas naturais das “novas terras”.

Já prevendo um grande “laboratório” de novidades no seu destino além-mar, ao chegar no Brasil trouxe consigo a Missão Científica Austro-Bávara, composta por cientistas, entre eles o botânico Carl Friedrich Philipp von Martius, o zoólogo Johann Baptist von Spix, o assistente de zoologia Johann Natterer, o botânico, zoólogo e entomologista Johann Sebastian Mikan, o botânico, zoólogo e entomologista Johann Emanuel Pohl e Rochus Schüch, mineralogista, matemático e professor de ciências naturais. Em apenas dois anos e percorrendo boa parte do nosso território, coletaram, estudaram e catalogaram várias espécies de plantas, animais e minerais. Hoje, se perguntamos, por exemplo, quem identificou os cinco ecossistemas brasileiros, a resposta está no trabalho dessa equipe.

O Museu Real, criado por Dom João VI em 1818, hoje Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro (a mais antiga instituição científica do Brasil), teve a maior parte do seu acervo – animais taxidermizados, fosseis, minerais, artefatos indígenas entre outros – oriundos das pesquisas e coletas dessa equipe. Infelizmente, a totalidade dessas relíquias foi perdida no incêndio no ano de 2018.

Seria demasiado demorado detalhar todos os resultados de suas pesquisas, mas podemos exemplificar alguns: Mikan descreveu muitas novas espécies, incluindo o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) e a jararaca-dormideira (Dipsas mikanii). Natterer descobriu a espécie, Lepidosiren paradoxa, conhecida como piramboia (peixe pulmonado); o espécime foi enviado para o zoólogo Leopold Fitzinger, na Áustria, que o catalogou e nomeou. Von Martius, antropólogo, botânico e médico alemão publicou vários estudos, o mais notável foi Flora Brasiliensis, escrito em parceria com outros seis pesquisadores – a obra tinha 15 volumes totalmente dedicada à flora nacional. Schüch foi professor de matemática e ciências da imperatriz e, posteriormente, se tornou professor das mesmas disciplinas para Dom Pedro II; sua extensa coleção de plantas brasileiras pode ser encontrada, ainda, no departamento de botânica do Museu de História Natural de Viena. Spix catalogou cerca de 9 mil espécies de plantas e animais (pássaros, macacos, morcegos e repteis). Talvez as mais conhecidas sejam a Cyanopsitta spixii, nossa ararinha-azul e a Chironius spixii, cobra-coral venenosa. Os estudos de Spix são leitura obrigatória nos bons cursos de ciências biológicas. Pohl, além de geólogo e botânico, era um excelente desenhista – após o fim da expedição Austro-Bávara, iniciou sua própria que durou até 1821. Seus trabalhos mais marcantes foram na área de mineralogia na região Centro-Oeste.

Dom Pedro II herdou interesse pela Ciência

Se imaginarmos os parcos recursos disponíveis para pesquisas, incluído dificuldades de deslocamentos nesse imenso território, limitações nos transportes – lembrando que estamos falando em século XIX –, podemos deduzir que a paixão pela pesquisa superou o quase intransponível. Uma mãe com grande intelecto científico nos presenteou com um filho com as mesmas paixões: Dom Pedro II dedicou-se à Ciência, à Filosofia e à Astronomia; estimulou vários avanços tecnológicos, ajudou financiando o trabalho de vários cientistas e se mantinha atualizado se correspondendo com as principais sociedades científicas europeias.

Vivemos, hoje, apesar de todas as facilidades e recursos destinados às pesquisas (talvez mal distribuídos ou mal aproveitados), um momento de relativa pobreza nos resultados. O que falta? Interesse? Seriam destinados para questões ideológicas e não cientificas? Que o exemplo de nossa imperatriz, algum dia, frutifique.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).