Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Na segunda-feira, 25 de outubro, o Fauna News publicou “Tráfico de animais: 1.158 animais apreendidos por todo o país“, sobre ações de repressão ao tráfico de fauna realizadas em vários Estados nos dias anteriores. Uma ocorrência bastante relevante, que merece ser comentada, acabou passando desapercebida de nossa apuração.
“A Polícia Militar de Meio Ambiente resgatou 150 papagaios-verdadeiros, 45 araras-canindé, cinco trinca-ferros e um sofrê, em Januária, nessa sexta-feira (22). Mais de R$ 4 milhões em autuações foram aplicados.
Os policiais chegaram ao local, na comunidade de Tabua, após denúncia anônima e encontraram as 201 aves em cativeiro irregular, com sinais de maus-tratos. Uma veterinária acompanhou a ocorrência e avaliou que as espécies precisam de cuidados, já que estavam bastante debilitadas.
Segundo a PM, um homem, de 57 anos, e uma adolescente, de 17, estavam no imóvel e foram autuados em flagrante. Cada um recebeu uma infração no valor de R$2,3 milhões. A suspeita da PM é de que eles vendiam os pássaros em outras cidades, como São Paulo.
Os dois suspeitos e a responsável pela menor foram encaminhados à Polícia Civil, em Januária.
As aves foram levadas ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Montes Claros (MG), onde vão receber atendimento veterinário, para, então, retornar à fauna.” – texto da matéria “PM resgata 201 pássaros com sinais de maus-tratos de cativeiro ilegal em MG e aplica R$ 4 milhões em autuações”, publicada em 23 de outubro de 2021 pelo portal G1
O imóvel funcionava como depósito de animais, que, provavelmente, são enviados para outras localidades do país. De acordo com o presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha, que conhece a região, a divisa de Minas Gerais com a Bahia tem intensa atividade de coleta e captura de papagaios, araras e pássaros por traficantes de fauna. Ele aponta a região entre Cocos (BA) e os municípios mineiros de Manga, Januária e Espinosa como centrais dessa atividade criminosa.
Vale lembrar que estamos em pleno período reprodutivo de psitaciformes (araras, papagaios, maritacas, periquitos), o que facilita a retirada de filhotes dos ninhos. Após retiradas da natureza, as aves são enviadas para depósitos como o localizado em Januária, para serem enviadas em quantidade aos centros consumidores no Sudeste e do Nordeste – onde “pessoas de bem” os compram para criá-los por décadas como bichos de estimação em ambientes inadequados e insalubres, oferecendo dieta imprópria e uma vida de sofrimento.
Na região onde essas aves foram retiradas, os ecossistemas vão ficando mais pobres e tendendo ao desequilíbrio. Papagaios e araras, por exemplo, são competentes dispersores das sementes existentes nos frutos com que se alimentam. Essas sementes são devolvidas para a natureza com os excrementos em locais longe de onde foram ingeridas, garantindo a manutenção da flora. E lembre-se: sem a vegetação nativa compromete-se a “produção” de água para nossa sobrevivência e as atividades econômicas.
A matéria do portal G1 não informou se os suspeitos foram soltos.