Por Rogério Bertani
Biólogo, mestre e doutor em Zoologia pela Universidade de São Paulo (USP). Especializado em aracnídeos, é pesquisador do Instituto Butantan
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O sol do outono incide nos fios amarelados, fazendo-os brilhar. No meio da enorme teia, a aranha permanece atenta à presença de insetos ou outras presas que se prendam nos seus fios. A aranha-do-fio-dourado, ou néfila, compreende 12 espécies do gênero Trichonephila, espalhados pela África, Ásia, Oceania e Américas. A Trichonephila clavipes é a mais comum no Brasil, encontrada em todo o território nacional, e com distribuição mais ampla, desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina.
O abdome é alongado, esverdeado e com manchas amarelas arredondadas. A carapaça é esbranquiçada, as pernas são amarelas com faixas escuras e tufos de cerdas negras. Podem chegar a 5 centímetros de comprimento corporal (excetuando-se as pernas), o que as coloca entre as maiores aranhas tecedeiras, aquelas que constroem teias para captura de presas voadoras. Essas teias, construídas com característicos fios de seda amarelados, alcançam facilmente mais de um metro de comprimento.
É comum encontrar néfilas vivendo próximas umas das outras, muitas vezes com as teias interligadas. A cena costuma ser apavorante para indivíduos aracnofóbicos, pelo tamanho das aranhas e pelo número de indivíduos que podem ser vistos ao mesmo tempo. Devido a esse aspecto aterrorizante para alguns e por serem muito comuns, muitas vezes as suas imagens são reproduzidas em filmagens e documentários sobre a natureza, na tentativa de mostrar a região como local cheio de perigos, habitado por aranhas enormes, o que valorizar a intrépida aventura dos exploradores em uma região selvagem. Esse comportamento acaba reforçando a imagem ruim que muitas aranhas possuem.
De forma geral, aranhas tecedeiras, que constroem teias grandes ou geométricas, não são perigosas ao ser humano. No caso das néfilas, são inofensivas e bastante úteis pela enorme quantidade de insetos que consomem, muitos dos quais são vetores de doenças. Aranhas tecedeiras têm grande dificuldade em se locomover fora das teias, são lentas e dificilmente conseguem picar. Às vezes, constroem suas teias próximas ou justamente nos espaços de trilhas, o que faz com essas estruturas sejam quebradas por pessoas que estejam caminhando e acabam as carregando no corpo. Porém, mesmo nesse contato físico mais próximo, é bastante improvável que consigam picar alguém.
As fêmeas são muito maiores do que os machos, que são encontrados na mesma teia das delas durante o período reprodutivo e podem ser observados com um pouco de atenção. Além dos machos, é comum encontrarmos outras aranhas, bem pequenas, chamadas de cleptoparasitas por se alimentarem de restos de insetos que ficam presos na teia.
Habitantes de bordas de florestas, as néfilas estão aos poucos se tornando mais comuns em áreas urbanizadas, em manchas de matas, como parques públicos, onde formam grandes populações. Dessa forma, está havendo mais contato com pessoas que vivem em cidades, que acabam se assustando com o tamanho dessas aranhas, causando certa preocupação. É necessário insistir que se trata de animal inofensivo.
Os indivíduos de Trichonephila plumipes, uma néfila comum nos arredores de Sidney, na Austrália, estão se tornando maiores em áreas urbanas. Algumas das hipóteses para explicar esse aumento do tamanho corporal dos indivíduos estaria no ambiente urbano, mais quente e cm maior quantidade de alimento disponível (insetos). A julgar pela forma como essas aranhas estão se tornando comuns em ambientes urbanos do Brasil, é possível que um fenômeno semelhante esteja ocorrendo por aqui, nas áreas verdes dos parques das grandes cidades.
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