Por Kamila Bandeira
Bióloga com mestrado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É doutoranda no mesmo programa, além de pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Suas pesquisas estão focadas em Paleontologia de vertebrados
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Os dinossauros foram um grupo extremamente bem-sucedido, apresentando uma grande gama de adaptações em seus esqueletos. Uma das características que mais tem chamado atenção nos últimos anos, entretanto, é a descoberta da presença da pneumatização dos seus ossos, encontrada exclusivamente em dinossauros saurísquios, ou seja, os terópodes (como o Ypupiara) e os saurópodes. Essa pneumatização é evidenciada por recortes e cavidades ocas (por exemplo, forames, fossas e lâminas), quase sempre nas vértebras (ossos que compõem a coluna vertebral) que haviam sido invadidas por eles. Ossos pneumáticos e ocos são uma característica de todos os saurópodes.
Essa pneumatização é um reflexo de um sistema de divertículos (ou sacos aéreos) originários de uma extensão dos pulmões. Isso significa que, apesar de muitas espécies serem enormes, seus ossos eram ocos por dentro – uma condição que é encontrada hoje somente nos pássaros modernos. Graças aos sacos aéreos, as aves conseguem voar com eficiência, já que ficam bem mais leves com o esqueleto pneumatizado internamente, além de que, como esses divertículos são extensões dos pulmões, as aves (e consequentemente, os dinossauros) respiram melhor e isso acaba impactando no metabolismo mais acelerado desses animais.
Recentemente, um time de pesquisadores brasileiros trouxe ainda mais novidades sobre a pneumatização em dinossauros, especialmente nos saurópodes. Através do uso da tomografia computadorizada, os paleontólogos brasileiros analisaram uma vértebra dorsal (um osso da coluna) de um titanossauro (como o Gondwanatitan), que representa uma espécie nova, ainda a ser descrita, escavada no interior do estado de São Paulo. Além da vértebra dorsal, também foram encontrados outros fósseis, pertencentes a outros dois indivíduos da mesma espécie; algo raro no registro fóssil.
Graças à tomografia, o time de pesquisadores conseguiu analisar essa vértebra por dentro sem prejudicar ou destruir a peça, o que auxiliará na descrição da espécie. Minúsculas amostras histológicas (tiras muito finas de ossos para serem analisadas em microscópio) também foram necessárias para observar características mais delicadas. E os resultados de ambas as análises foram muito animadoras: esse novo dinossauro apresentava um grande grau de pneumatização.
Isso pode ser reflexo não apenas de um traço evolutivo (já que outros dinossauros apresentam pneumatização, como já foi dito), mas também um reflexo do clima quente que dominava o final do período Cretáceo, época em que esse dinossauro viveu. Quanto mais quente é o clima, mais difícil é para um animal regular sua temperatura interna. Porém, os ossos ocos dos titanossauros poderiam atuar como um “ar-condicionado” ambulante, tornando-o mais bem adaptado para sobreviver a esse ambiente hostil. Essa descoberta foi essencial para ajudar na compreensão da evolução do sistema respiratório em dinossauros. Ainda teremos muitas novidades para a paleontologia brasileira.
Para saber mais
– Tito Aureliano, Aline M. Ghilardi, Bruno A. Navarro, Marcelo A. Fernandes, Fresia Ricardi-Branco & Mathew J. Wedel. 2021. Exquisite air sac histological traces in a hyperpneumatized nanoid sauropod dinosaur from South America. Scientific Reports 11: 24207 doi: https://doi.org/10.1038/s41598-021-03689-8
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