Biólogo, mestre em Ecologia e agente de fiscalização ambiental federal
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Existe cachorro na rua. Cães são animais domésticos e os cães que estão na rua foram abandonados por seus donos (tutores verdadeiros não abandonam os animais). Algumas pessoas criticam cães em apartamento. Dá para entender, afinal, se você gosta dos animais, é óbvio que os imagina em uma casa com quintal e grama para correrem e brincarem. Mas estar em uma casa não é garantia de uma boa vida, pode ser que esteja preso a uma corrente de 1,5 metro e passe a vida limitado a esta distância do ponto de prisão. Já aquele cachorro do apartamento pode, muitas vezes, passear três vezes por dia, sentir novos cheiros e interagir com outros cães. Tudo é uma questão de bem-estar dos animais e o quanto esse bem-estar faz parte do repertório de preocupação dos tutores.
No entanto, isso não aplaca as preocupações de um abolicionista. Afinal, em qualquer dos casos, os animais permanecem presos. Limitados em sua liberdade e em seu direito de escolha de ir e vir. Sendo assim, eu deveria ter cães, então, apenas se tivesse um sítio para eles poderem usufruir de uma maior liberdade? Essa dúvida moral pode atormentar quem gosta dos animais e de sua companhia.
Mas existe uma forma de amenizá-la ou contorná-la: adote um cão. Não compre, adote! Ao comprar um cão, você contribuirá com uma indústria de exploração animal que até hoje não possui regulamentação. Quantas vezes uma fêmea engravidará em sua vida? Qual o intervalo entre as ninhadas? Por quanto tempo deixarei a mãe com os filhotes? Qual o limite da seleção artificial (poderei achatar tanto o nariz que o cachorro da raça terá dificuldade para respirar?). Qual o limite estético para a raça? Será correto mutilar a orelha ou a cauda porque quero orelha pontuda ou sem cauda? Para não contribuir com essa exploração ou se assegurar que de nenhuma forma participe dela, basta adotar.
Ao adotar um animal, você estará dando a ele a melhor opção de vida, mudará o mundo e a vida desse animal e não estará participando de um mercado que não possui leis que regrem a produção (sim, produção mesmo) dos animais e nem sua comercialização.
Mas e se eu soltasse o meu cão para ele ser livre? Aí o nome disso seria abandono. Porque, como dissemos, não existe cão de rua, mas existe cão na rua. Ao falarmos cão de rua, estamos normalizando uma situação que é absurda. Não existe mais lugar para os cães na natureza. Eles são uma espécie que nós inventamos. Então, agora somos responsáveis por eles e precisamos cuidar de cada um.
Mas isso é diferente quando falamos em papagaios. No próximo mês falaremos sobre eles. Afinal, se tem lugar para papagaios nas florestas, por que os prendemos?
– Leia outros artigos da coluna NA LINHA DE FRENTE
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)