
Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
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Nomes populares: boicininga, boicinunga, boiquira, cascavel, cascavel-de-quatro-ventas, cobra-de-guizo, maracá e maraca-boia
Nome científico: Crotalus durissus
Estado de conservação: “pouco preocupante” (LC) na lista vermelha da IUCN e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (ICMBio)
O chocalho (ou guizo) presente na ponta da cauda não deixa dúvidas ao nos depararmos com uma cascavel: é ela!
A estrutura, presente em todas as serpentes desta espécie desde seu nascimento, é responsável pelo som inconfundível que emite quando o animal sente-se ameaçado. É formado por anéis ocos de queratina que são depositados a cada troca de pele e, ao contrário do que muitos pensam, não indica a idade do indivíduo. Os filhotes apresentam apenas um anel à época do nascimento.
Apesar de serem responsáveis pelo maior número de mortes por picada de serpentes no Brasil, as cascavéis são pouco agressivas, fugindo rapidamente ao avistarem algum perigo em potencial.
A espécie à qual pertencem as representantes brasileiras apresenta várias subespécies, distribuídas do México à Argentina. No Brasil, ocorre em quase todos os Estados. Seu habitat compreende campos abertos, áreas pedregosas e secas e cerrados.
As cascavéis podem chegar a dois metros de comprimento. Suas escamas são grandes, o que dá a seu corpo um aspecto áspero. Alimentam-se de outros vertebrados: os jovens consomem principalmente lagartos, enquanto os adultos dão preferência a pequenos mamíferos (basicamente pequenos roedores) e aves.
São animais noturnos e crepusculares e detectam suas presas através de dois orifícios localizados um de cada lado do focinho, entre os olhos e as narinas. Esses orifícios, conhecidos como fossetas loreais, permitem a captação do calor do corpo da presa, permitindo sua localização.

São vivíparas, ou seja, seus filhotes já nascem completamente formados e com peçonha (substância injetada pelos dentes) suficiente para matar suas presas. Aliás, a peçonha da cascavel é neurotóxica, miotóxica e nefrotóxica, causando lesões e rupturas das fibras musculares, paralisia dos músculos da face e falência renal. Os sintomas mais comuns após a picada são flacidez na face, visão turva, visão dupla, paralisia dos músculos oculares, mal-estar, vômitos, sonolência ou inquietação, podendo haver insuficiência respiratória aguda em casos mais graves, se a vítima não receber socorro adequado em tempo hábil (em torno de duas a seis horas após o acidente).
As peçonhas de serpentes brasileiras têm sido estudadas e utilizadas como componentes em diversos medicamentos. Com a da cascavel não é diferente: pesquisas mostram que substâncias presentes em sua peçonha podem ser usadas no combate a tumores. Já há substâncias com uso potencial no tratamento de trombos que causam AVC e na coagulação do sangue em fluidos de difícil cicatrização.
Infelizmente o medo, aliado ao costume das pessoas em perseguir e matar serpentes, além da perda de habitat devido ao avanço urbano e agrícola, colocam esses animais em perigo. A conscientização da população em relação à importância desses animais, não como fornecedores de matéria prima para medicamentos, mas como elementos fundamentais dos ecossistemas, é urgente e essencial.

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