Por Daniel Nogueira
Biólogo, especialista em Ecoturismo e analista ambiental do Ibama. É o responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas) do Ibama localizado em Lorena
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Em artigo publicado em 5 de agosto aqui na coluna Universo Cetras (Uma rede de cooperação para um objetivo único: repatriando animais para o RS), trouxemos um pouco de uma ação de cooperação de recebimento e destinação de animais ocorrida entre os centros de triagem de animas silvestres (Cetas) do Ibama de São Paulo e do Rio Grande do Sul.
Naquela ocasião, a intenção foi mostrar a cooperação entre os Cetas do Ibama no país, já que são mais de vinte. Vale citar, a título de informação, que o Ibama não utiliza a sigla Cetras (centro de triagem e de reabilitação de animais silvestres), mantendo o uso de Cetas, sem a inclusão do “r”.
A prática de cooperação entre Cetras, começando com a aqueles operados pelo Ibama, mas podendo e devendo se estender para todos os outros, é o que mais se espera para criarmos uma cultura própria e linhas gerais de atuação com base em conhecimentos técnicos e as nossas práticas cotidianas.
Contudo, essa cooperação passa a ter uma tintura mais dramática quando somada ao intento de solidariedade, principalmente quando ocorre em uma situação emergencial.
Todos nós acompanhamos os eventos calamitosos referentes ao apagão ocorrido no Amapá iniciado no mês passado. E o Cetas do Ibama no Amapá, como ficou diante do apagão?
Notícias preocupantes começaram a chegar através dos colegas que trabalham naquele centro a partir do 3 de novembro e davam conta que a falta de energia afetara seriamente o funcionamento daquele centro de triagem.
É sabido que muito pouco se faz hoje em termos de gestão sem poder ter acesso a equipamentos de informática e sistemas on-line, desde registros de entrada de animais até a solicitação e a recepção de recursos necessários para a gestão de um Cetras. Isso tudo ficou parado com a impossibilidade de funcionamento desses equipamentos. Contudo, a situação mais emergencial e preocupante ficou explícita com o prejuízo que a falta de energia elétrica começou a causar diretamente aos animais.
A falta de energia afetou seriamente o fornecimento de água, já que o Cetas do Ibama do Amapá tem o seu abastecimento dependendo do bombeamento de poços porque não conta com fornecimento de companhia de abastecimento. E, também muito grave, a alimentação armazenada e fornecida para os animais passa a estragar pelo não funcionamento dos equipamentos de refrigeração.
Diante desse quadro potencialmente trágico, como manter o Cetas do Ibama do Amapá funcionando e como manter a vida dos animais?
Nesse momento, a cooperação solidária se manifestou a partir do Cetas do Ibama do Rio Grande do Sul, que se dispôs a fornecer um gerador de energia elétrica à gasolina aos colegas do Amapá. Mas como levar esse equipamento até lá da forma mais rápida possível?
Nesse caso, somaram-se ao esforço cooperativo os colegas da Diretoria de Biodiversidade e Florestas do Ibama sede, através da Coordenação de Biodiversidade (Cobio/DBFLO) ligada àquela Diretoria, que intermediou o contato com a Empresa Aérea LATAM, que se dispôs a realizar o envio do equipamento até o estado do Amapá. Nesse ponto, a cooperação avança as fronteiras institucionais e a empresa aérea realiza o transporte do equipamento gratuitamente.
A ajuda se concretizou em 21 de novembro com a chegada do equipamento naquele estado.
Diante dessa situação, a calamidade pode expor o melhor das pessoas, além do melhor e a capacidade das instituições em cooperarem. Neste caso, no sentido raiz da palavra: co-operar, ou seja, trabalhar juntos na resolução dos problemas que não necessariamente são de todos, mas da parte. E, no momento, com o acréscimo da solidariedade.
Cooperar é o caminho, ainda mais quando se trata de uma estrutura de âmbito nacional, como é o Ibama, e quando falamos de fauna silvestre.
Parabéns aos colegas do Cetas do Ibama do Rio Grande do Sul, Cobio/DBFLO Ibama e nossos agradecimentos à LATAM Airlines Brasil.
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