Márcio Urselino da Costa
Analista ambiental do Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama em Seropédica (RJ).
O final de março de 2025 foi marcado por um feito inédito nas atividades de conservação da fauna silvestre no estado do Rio de Janeiro e do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Seropédica (RJ): ocorreu a soltura de um gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi) portando um rádiocolar.
Para chegar a esse fato, foi preciso apoio às atividades do Cetas e dedicação dos servidores. O suporte foi fornecido pela Coordenação de Biodiversidade/DBFlo do Ibama, que proporcionou treinamento sobre a utilização de telemetria como ferramenta de monitoramento de fauna aos servidores do centro e forneceu o rádiocolar para monitoramento do animal.
É essencial aos Cetas irem além da combinação – na verdade complicada e trabalhosa – de atividades de triagem, readaptação e soltura. Devemos, cada vez mais, acompanhar e compreender o comportamento dos animais no pós-soltura, seja para avaliar o sucesso da readaptação, seja para identificar e corrigir eventuais falhas. Assim, vemos como missão, a partir do momento que declaramos o animal reabilitado e apto a soltura, aferir o êxito na devolução do animal ao seu hábitat natural.
Nesse sentido, os Cetas do Ibama estão desenvolvendo trabalhos de monitoramento de pós soltura de diversas espécies, formando, assim, um valioso banco de dados para uso futuro.
No caso particular do gato-mourisco, a tarefa de devolução do animal a seu hábitat natural foi relativamente facilitada por se tratar de um animal oriundo de vida livre e que permaneceu no Cetas de Seropédica apenas o tempo necessário para avaliar suas condições clínicas e considerá-lo apto a soltura.
Após a soltura, inicia-se a atividade de rastreamento do animal, uma tarefa árdua e trabalhosa, em que temos que corrigir variáveis locais que aumentam o esforço de busca. Ele foi solto nas proximidades do local onde fora resgatado, em uma área que, segundo Aziz Ab’Saber, está no domínio morfoclimático denominado Mar de Morros. As diversas elevações e a densa cobertura vegetal da exuberante Mata Atlântica por vezes prejudicam a captação do sinal do rádiocolar, mesmo estando relativamente próximo ao animal.
Esse é um começo, no qual nos adaptamos as uso de novas tecnologias no trabalho com a fauna silvestre e, certamente, novas atividades de monitoramento estão por vir. Com esse trabalho, esperamos aprimorar a nossa contribuição para a manutenção da biodiversidade no Rio de Janeiro.
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