Mitologia grega como fonte de inspiração para educação ambiental

Ao assistir a um filme no Frost Museum de Ciências para crianças em Miami (EUA), me deparei com uma história inspiradora de Ártemis, deusa grega, protetora da vida em diversas dimensões. Exímia caçadora, mas amante dos animais selvagens, Ártemis se encantou por Órion, gigante e belo caçador, que, segundo o filme, exagerou na caça e foi castigado e enviado aos céus por ela para se tornar uma constelação.

As versões que consultei divergem um pouco dessa história. Ártemis é conhecida por sua expertise com arco e flexa, mas matou Órion por engano. Seu irmão Apolo a desafiou para acertar uma flecha num ponto específico à distância, que seria exatamente seu amor. Apolo não queria que ela perdesse seu compromisso com a prometida castidade e, por isso, queria Órion fora da vida da irmã. Em desespero, Ártemis pede a Zeus, deus soberano, que transforme Órion em constelação, o honrando eternamente.

A versão do Frost Museum me pareceu um convite para aplicarmos mitologia e outras lendas literárias na educação ambiental, além dos pensamentos, projetos e modelos mais comumente utilizados. O princípio continua sendo sensibilizar e trazer novos conhecimentos que instiguem comportamentos construtivos e sustentáveis. No caso da mitologia, seria mais uma forma de instigar a imaginação com lendas que despertem interesse.

Outro enredo mitológico que inspira é o de Ulisses, que ao comandar seu navio, pede aos seus subordinados para ser amarrado ao mastro. Queria ter a certeza de não cair na tentação de mudar o rumo de sua rota pela sedução do canto das sereias. “Quanto mais cantarem, mais me amarrem”, gritou ele à sua equipe de bordo!

O professor Kent Redford usou essa metáfora na inauguração do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, em 1992, como exemplo do que precisamos nos atentar para evitar cair nas tentações do “progresso” que devasta florestas e outros hábitats naturais, consumo exagerado e práticas insustentáveis. Quanto mais tentador, mais atenção é necessário para evitarmos as perdas dos ambientes naturais.

Ideias de como utilizar a mitologia (e literatura) na educação ambiental

Histórias mitológicos devem ser bem escolhidas para que tenham mensagens a serem repassadas. Uma vez selecionadas, podem virar roteiros de teatro, desenhos e pinturas ou redações que expressem similaridades com os momentos atuais. Incentivar a realização de entrevistas e narrativas com pessoas ilustres, ou mesmo familiares que inspiram, tem chances de serem fontes de sensibilização ao tornar heróis aqueles que de alguma forma fazem diferença.

Na história de Ártemis, quem seriam os protetores das florestas e dos animais selvagens que merecem ser enaltecidos? Quem são os destruidores de hábitats ou caçadores causadores de perdas que afetam a natureza? As pesquisas podem ser das regiões onde se está ou exemplos internacionais.

Às crianças menores, as atividades devem se ater a atividades mais simples como desenhos e textos, mas as mais maduras podem, inclusive, realizar pesquisas sobre quem seriam essas pessoas (que causam o bem e o mal) e preparar textos a serem divulgados em formato tradicional, como poemas e redações, ou até virtualmente em suas mídias sociais.

Órion pode ainda ser estudado pelo olhar da astronomia, de modo que os alunos sejam capazes de identificar sua constelação quando olharem para o céu. A imensidão do universo certamente é um convite a trazer outras perspectivas do papel de cada indivíduo e sua responsabilidade de ser cuidador do planeta onde habitamos.

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