Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica veterinária, mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu)
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Infelizmente, temos visto na imprensa o grande número de animais selvagens que sofreram queimaduras em incêndios no Pantanal, Cerrado e Amazônia. O manejo adequado pode salvar várias vidas.
A causa da queimadura é a perda de todos os tipos de funções da pele, perda de plasma, colapso das células vermelhas do sangue, bem como distúrbios metabólicos. A probabilidade de desenvolvimento, a gravidade e o prognóstico nessa patologia são determinados pela idade do animal, a condição geral de seu corpo e alguns outros fatores, mas o principal problema é a extensão de área da lesão.
De acordo com estudo da Universidade Federal do Mato Grosso, mais de mil animais morreram em incêndios apenas em setembro na Amazônia.
O tratamento para os animais selvagens resgatados inclui terapia com antibióticos, infusão e terapia de desintoxicação para a correção de todos os órgãos e sistemas.
O tratamento de queimaduras de primeiro e de segundo grau é mais frequentemente limitado ao uso local de medicamentos que reduzem a sensibilidade à dor, promovem a regeneração mais rápida de tecidos e ajudam a prevenir infecções, que levam ao prolongamento dos processos de cura e outras complicações. No caso de queimaduras de terceiro e de quarto grau, a limpeza completa regular das áreas afetadas também é feita, sendo que às vezes é necessária intervenção cirúrgica.
A formação repentina de queimaduras extensas causa a liberação de um grande número de toxinas e elementos de células sanguíneas entram em decomposição. Os níveis sanguíneos de prostaglandinas, serotonina, histamina, sódio, potássio e enzimas proteolíticas crescem drasticamente. Isso leva a um aumento da permeabilidade capilar. O plasma sai do leito vascular (veias e artérias), acumula-se nos tecidos e, como resultado, a troca de sangue circulante é significativamente reduzida. Em resposta, o corpo libera hormônios na corrente sanguínea – noradrenalina, adrenalina e catecolamina – que causam vasoconstrição.
O mecanismo de centralização da circulação sanguínea começa. Partes periféricas do corpo e órgãos internos começam a sofrer por falta de sangue e, consequentemente, há o desenvolvimento de hipovolemia/choque. Junto com isso, há espessamento do sangue e distúrbios do metabolismo, ocasionando o mau funcionamento de vários órgãos. A oligúria (eliminação de urina menor que o necessário) se desenvolve. Posteriormente, as mudanças patológicas são exacerbadas pelo esgotamento dos sistemas imunológico e endócrino, bem como pelo efeito tóxico dos produtos de degradação dos tecidos nos órgãos internos. Mudanças degenerativas ocorrem no coração e fígado, pneumonia, úlceras são formadas no trato gastrointestinal, paresia intestinal, embolia e trombose de vasos mesentéricos.
Nas primeiras 24-72 horas após a queimadura, o número de glóbulos vermelhos aumenta para 10-15 milhões em 1mm 3, de leucócitos para até 20-30 mil, o conteúdo de hemoglobina sobre para 120%-130%. Distúrbios metabólicos são caracterizados por desidratação, acidose, baixo teor de cloreto no sangue e problemas nos processos oxidativos. O espessamento do sangue com queimaduras extensas é explicado por uma perda significativa da parte líquida do sangue (plasma) e regeneração intensificada dos glóbulos vermelhos, resultante da irritação dos produtos da degradação das proteínas da medula óssea. O sangue condensado começa a liquefazer e entre uma a duas semanas após a queimadura, a anemia se desenvolve, sendo associada à intoxicação do corpo e uma grande perda de proteínas pela superfície queimada.
O estímulo térmico excessivo, agindo no aparelho receptor da pele e outros tecidos no momento da queimadura provoca um grande fluxo de impulsos de dor para o sistema nervoso central. Deve-se observar que o fluxo de impulsos de dor para o sistema nervoso central não para com a eliminação da ação da alta temperatura no tecido, sendo continuado pela compressão dos tecidos inchados de inflamação dos nervos periféricos e suas terminações, irritação com seus produtos de decomposição de tecidos e por toxinas de microrganismos.
A queimadura não apenas causa dano ao tecido local, mas acarreta sérios problemas na saúde em geral, sendo divididas em queimaduras na pele, queimaduras nos olhos, lesões por inalação e queimaduras do trato respiratório. A gravidade da queimadura, o prognóstico e a escolha das medidas terapêuticas não dependem apenas da profundidade, mas também da área da superfície queimada.
Os primeiros socorros para queimaduras são muito importantes. Incluem prevenção de choque, luta contra a desidratação, o espessamento do sangue e a intoxicação, além de tratamento primário da área queimada e prevenção de infecção.
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