Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
Todos os anos, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Catalão (GO) recebe tamanduás-bandeiras (Myrmecophaga tridactyla) saudáveis e que foram encontrados na área urbana, vítimas de queimadas e de conflitos com cães domésticos e atropelados em rodovias. Desde o início do ano de 2021, o centro recebeu 10 animais da espécie, sendo que quatro estavam aptos a soltura e seis foram vítimas de atropelamento em rodovias próximas. Nas colisões, as lesões mais comuns são fraturas em membros anteriores e posteriores, pelve, coluna, luxações, traumas cranianos, lesões neurológicas, lesões em órgãos internos, hemorragias e lacerações de pele.
Essa espécie apresenta características morfológicas, comportamentais e hábitos alimentares peculiares, tornando-se um grande desafio o manejo em cativeiro, especialmente dos indivíduos adultos de vida livre e que necessitam de reabilitação. Na natureza, sua dieta consiste principalmente de cupins, formigas, larvas de besouros e, em períodos específicos, de frutas, que são fontes importantes de proteínas, vitaminas e minerais. Diante da dificuldade em criar e manter esses insetos em cativeiro para alimentação dos tamanduás, os empreendimentos de fauna silvestre formulam dietas específicas, buscando suprir as necessidades nutricionais da espécie. As “papas” são constituídas de água, leite específico de baixa lactose, ovos cozidos ou crus, carne bovina, rações de gato ou cachorro, suplementos vitamínicos, frutas e mel.
No Cetas de Catalão, as dietas são formuladas conforme a aceitação dos tamanduás em reabilitação, respeitando os aspectos nutricionais necessários à espécie. Porém, é extremamente dificil a alimentação dos individuos que encontram-se debilitados, pois além de muitos não possuirem força e energia suficiente para quebrar cupinzeiros, tambem é comum apresentarem alterações neurológicas e/ou lesões musculares que dificultam a apreensão e a ingestão das papas. Nesses casos, utilizamos papas mais concentradas em nutrientes de alto valor calórico e excelente aceitação, como o Nutralife – um hiper calórico rico em proteínas, vitaminas e minerais, juntamente com ovos e rações com alto valor de taurina. Para cada caso clínico, vamos ajustando as dietas formuladas e, gradativamente, subsituindo pelos cupins coletados pela equipe técnica.
Devido às particularidades dos tamanduás-bandeiras, diversos estudos foram realizados sobre as principais doenças animais cativos. Eles mostraram que grande parte das enfermidades está relacionada a problemas nutricionais, como as ocasionadas por dietas inadequadas e as relacionadas à má absorção. Dessa forma, a elaboração da alimentação para a espécie deve considerar os nutrientes essenciais para o desenvolvimento e o crescimento dos filhotes e a manutenção de individuos adultos, visando a conservação da espécie que encontra-se vulnerável de extinção, de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Apesar da crescente incidência de tamanduás em cativeiro, pesquisas relacionadas à nutrição devem ser realizadas no intuito de reduzir o índice de doenças e óbitos de indivíduos. É importante tentar padronizar uma dieta eficaz e acessível aos empreendimentos de fauna que abrigam animais dessa espécie.
Registramos aqui nossos agradecimentos ao Instituto de Pesquisa da Vida Silvestre (Ipevis), uma organização não governamental que realiza semanalmente a doação de ovos de galinha caipira e leite de cabra, e a distribuidora de produtos veterinários Vetnil (Goiás), especialmente a Renata Carelli, pela doação mensal do suplemento Nutralife. Essas parcerias são fundamentais para a reabilitação e a nutrição dos tamanduás-bandeira e dos tamanduás-mirins que são encaminhados ao Cetas de Catalão.
– Leia outros artigos da coluna UNIVERSO CETRAS
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).