Engenheiro agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador do programa MarBrasil Ciência e Mergulho da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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O peixe-leão, conhecido mundialmente pelo nome Lion Fish, é uma espécie natural do Indo-Pacífico que chegou ao Caribe no início dos anos 2000 e se espalhou rapidamente pela região, causando muitos danos à fauna aquática. Com um apetite voraz, esses animais se alimentam de muitas espécies de peixes importantes para o equilíbrio da biodiversidade e da cadeia trófica marinha.
Os peixes-leões podem viver até 15 anos e chegam a pesar até 500 gramas. Habitantes de recifes e costões rochosos, preferem se abrigar em cavernas ou fendas durante o dia, sendo, portanto, animais de hábitos noturnos. Conhecidos também como peixe-dragão, são venenosos, apresentando vários e longos espinhos nas regiões dorsal, pélvica e anal. Os espinhos possuem glândulas que produzem e armazenam veneno. Dificilmente algum predador se alimenta desses peixes, apenas alguns tubarões ocasionalmente. Por praticamente não terem predadores e serem grandes predadores, eles se tornaram uma ameaça.
Pertencente à família Scorpianidae, a espécie mais conhecida é a Pterois volitans, com listras vermelhas ou laranjas ao longo do corpo.
Agora, o que muitos pesquisadores brasileiros temiam está acontecendo. Essa perigosa espécie está no Brasil e sua ocorrência vem aumentando.
O primeiro registro foi em Arraial do Cabo (RJ), em 2014, por mergulhadores. O segundo em 2015, nesse mesmo município, também por mergulhadores. Em 2020 mais registros aconteceram. Dois a 200 quilômetros da costa do Amapá, no norte do país, por pescadores de lagostas em recifes profundos localizados abaixo da pluma da foz do rio Amazonas, onde recentemente foi descoberto um corredor ecológico marinho de corrais que pode ser a rota de passagem da fauna do Caribe para o Atlântico Sul.
Em Fernando de Noronha (PE), o primeiro registro foi a 28 metros de profundidade, em dezembro de 2020, por pesquisadores. Há poucos dias, em 03 de agosto de 2021, foi capturado mais um indivíduo no arquipélago nordestino. O novo registro deixou os ecologistas em alerta por causa do risco que representa ao meio ambiente marinho.
Se o peixe-leão conseguir se estabelecer em Fernando de Noronha, os danos podem ser irreversíveis, pois na ilha existem muitas espécies endêmicas (que só ocorrem numa região específica), o que poder facilitar a extinção de importantes espécies.
Para a cadeia alimentar marinha de peixes, o impacto ecológico pode ser enorme, pois o peixe-leão consome espécies menores, que seriam alimento para peixes maiores, como o atum. Portanto, o desequilíbrio tende a acontecer.
São muitas as hipóteses de como esses animais chegaram ao Brasil. O problema ainda precisa ser mais bem estudado. A criação de projetos ambientais de monitoramento de espécies invasoras é fundamental em toda a costa brasileira para tentar erradicar essa espécie. No Caribe, por exemplo, já não se consegue mais controlar a população desse peixe.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pede que, caso alguém registre mais algum peixe-leão, qie comunique imediatamente a instituição.
É importante que condutores de visitantes, mergulhadores, pesquisadores, pescadores, entre outros, que frequentem ilhas e costões rochosos e de corais do Brasil, registrem e informem ao ICMBio e aos pesquisadores associados ao tema caso encontrem peixes dessa espécie. Dessa forma, serão acionados, com a maior brevidade, planos de emergência para identificação, captura e sequenciamento genético, entre outras ações capazes de avaliar ou reparar potenciais danos.O monitoramento da invasão do peixe-leão é uma ação alinhada com o objetivo sete do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN/Corais).
Algumas unidades de conservação marinhas já iniciaram campanhas de sensibilização e divulgação sobre a temática, como a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais (PE/AL), a APA de Fernando de Noronha (PE) e Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Arraial do Cabo/ (RJ).A mobilização de pesquisadores, condutores e empresas de turismo, visitantes e pescadores, entre outros, é fundamental para que se tenha maior vigilância e monitoramento para essa ameaça aos recifes brasileiros.
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