
Em 7 de outubro de 2014, o Fauna News comentou a apreensão de 100 filhotes de papagaios-verdadeiros com três homens em Tianguá, no Ceará (“Tráfico: filhotes de papagaios-verdadeiros apreendidos no Ceará”). O fato ocorre no período de reprodução da espécie (outubro e novembro) no cerrado do Mato Grosso do Sul e de regiões vizinhas, o que permite que traficantes coletem os filhotes e ovos para abastecer os centros consumidores (normalmente no Sudeste).
E mais uma apreensão foi registrada. Desta vez em Frutal, Minas Gerais.
“Um homem foi preso e 72 aves foram apreendidas na manhã desta segunda-feira (20), em Frutal, após uma denúncia anônima. Segundo a Polícia Militar, 58 filhotes de papagaio e 14 canários da terra foram localizados na casa do homem, localizada no Bairro Nossa Senhora Aparecida.
Ainda de acordo com a polícia, o homem informou que capturava os pássaros no estado de Goiás, levava para Frutal e comercializava cada ave para um comprador de São Paulo por R$ 150.” – texto da matéria “Polícia apreende mais de 70 aves em situação irregular em Frutal”, publicada em 20 de outubro de 2014 pelo portal G1
O presidente da ONG paulista SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha, um dos maiores conhecedores do tráfico de fauna no Brasil e, em especial, do mercado negro de papagaios-verdadeiros, escreveu o seguinte comentário ontem (21 de outubro) em seu perfil no Facebook:
“Já finalizando o período reprodutivo de filhotes de papagaios e outras aves da família no cerrado brasileiro e que ocorre entre os meses de setembro e outubro, neste ano, 2014, é lamentável o número de apreensões ocorridas, até o momento, já em 21 de outubro, foram apreendidos cerca de 100 filhotes em Tianguá no Ceará e no domingo passado mais 58 filhotes no município de Frutal, Minas Gerais. Este número, pelos indicadores que podem ser encontrados em campo, não representam nem mesmo 1% do volume traficado em todo o território brasileiro. Acorda Brasil!!!! Isso é um crime contra a humanidade, não "somente" contra animais silvestres.”
Vale destacar: essas apreensões não representam 1% da quantidade de papagaios retirados da natureza nesta temporada reprodutiva.
Infelizmente, não se vê nenhuma ação dos órgãos de repressão nas áreas de coleta e captura, para evitar que os animais saiam de seu hábitat. Mesmo quando apreendidos ainda nas estradas para a distribuição, essas aves passam a ter o mesmo destino das apreendidas nas casas das pessoas que as compram: elas têm de passar por centros de triagem ou de reabilitação (Cetas ou Cras), serem enviadas para alguma entidade que invista na recuperação e soltura. Muito melhor se a ação de fiscalização impedisse a saída dos bichos ainda em seus locais de origem.
Conscientização
Também não são realizados pelo poder público trabalhos educativos efetivos e duradouros para conscientizar a população a não comprar os papagaios.
O Projeto Papagaio-verdadeiro, coordenado pela Doutora em Ecologia e Conservação da Natureza Gláucia Helena Fernandes Seixas na Fundação Neotrópica do Brasil, desenvolve um trabalho único para a conservação da espécie e combate ao tráfico no Pantanal do Mato Grosso do Sul. A equipe da ONG, conta a ambientalista, “realiza diferentes atividades de informação e sensibilização das populações locais, proprietários de terras e turistas que visitam a região do Pantanal. Entre os públicos alvos estão: comunidade científica, como pesquisadores, professores e estudantes; comunidade em contato direto com o Projeto, como proprietários rurais, funcionários das fazendas, turistas e guias de turismo; e sociedade em geral. Em parceria com a Cia das ARTES, de Campo Grande, criamos e apresentamos o teatro de bonecos “Nas Asas do Vento”, uma história lúdica e educativa que busca sensibilizar as comunidades quanto à necessidade de proteção da espécie.”
Outra iniciativa pela conscientização é a parceria com a Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB). “O objetivo é fazer “chegar” as informações e conhecimentos gerados pelo Projeto a um grande número de pessoas, incluindo aquelas que visitam os Zoológicos do país, e alertar sobre os impactos do tráfico de animais silvestres nas populações nativas. Por ser carismático e amplamente conhecido, acreditamos que o papagaio-verdadeiro pode ser considerada uma “espécie bandeira” nessa luta, em todo o Brasil. Assim, se não houver comprador para essa e outras espécies da nossa fauna, o tráfico de animais certamente será reduzido”, afirma Gláucia.
“Para tanto, passamos a disponibilizar informações, por meio de uma exposição fotográfica, a ser produzida pela instituição interessada, com fotos feitas ao longo dos 18 anos de existência do Projeto. No futuro, o Projeto também pretende disponibilizar, com apoio da SZB, caixas palco e um vídeo-manual para replicar o teatro de bonecos “Nas Asas do Vento” nas instituições interessadas. O objetivo é ampliar, ainda mais, as ações de educação ambientais já realizadas pelos zoológicos”, conclui a ambientalista.
– Leia a matéria completa do portal G1
– Leia o comentário de Marcelo Pavlenco Rocha no Facebook
– Conheça a SOS Fauna
– Conheça o Projeto Papagaio-verdadeiro
– Releia o post do Fauna News "Tráfico: filhotes de papagaios-verdadeiros apreendidos no Ceará", publicado em 7 de outubro de 2014