Análise de Ricardo Melo
Jornalista em formação
ricardomelo@faunanews.com.br
Desde maio deste ano, um novo surto epidemiológico vem se espalhando pelos países. Trata-se da denominada varíola dos macacos, zoonose viral provocada por um vírus (monkeypox virus, do inglês) pertencente ao gênero Orthopoxvirus, da família Poxviridae, a mesma que provoca a tradicional varíola humana. Apesar do nome sugestivo, o atual surto não é transmitido por esses primatas e sim entre seres humanos.
Segundo a veterinária e pesquisadora em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses na Universidade de São Paulo (USP), Elisângela de Albuquerque Sobreira, em artigo publicado no Fauna News, o nome da doença vem da descoberta, em 1958, do vírus em macacos em um laboratório dinamarquês. Somente em 1970, aconteceria o primeiro caso em humanos, na República Democrática do Congo. Em 2022, a doença chegou à Europa.
Preocupada com a segurança dos macacos, a Sociedade Brasileira de Primatologia (SBPr) enfatizou: “O atual surto não tem a participação de macacos na transmissão para seres humanos. Todas as transmissões identificadas até o momento pelas agências de saúde no mundo foram atribuídas à contaminação por transmissão entre pessoas. Os macacos não são ‘vilões’ e sim vítimas como os humanos”. Apesar disso, alguns acontecimentos no Brasil indicam que a associação entre a doença e os primatas não-humanos está sendo prejudicial a eles.
O Liberal (PA) noticiou, no dia 28 de julho, que a morte de um macaco assustou a população de Belterra, no Pará, justamente por conta do atual surto. Em Senador Canedo, município de Goiás, dois macacos foram encontrados mortos, relatou o G1 em 6 de julho. Um deles estava com sinais de trauma e foi colocado em cima de uma placa de sinalização.
Em matéria da Folha de S. Paulo de 5 de agosto, a situação apresentada é mais grave, com a morte de 5 macacos em São José do Rio Preto, interior paulista. Na Mata dos Macacos, região rural da cidade, três macacos-prego foram encontrados com sinais de intoxicação, com uma fêmea possuindo ferimentos no rosto e uma fratura completa no fêmur. Os três foram resgatados pelo zoológico do município e estão estáveis. Contudo, um filhote de macaco-prego encontrado no mesmo local estava morto. Já no Parque Ecológico Educativo Danilo Santos de Miranda, no sul da cidade, quatro saguis-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata) foram encontrados intoxicados e não resistiram. A suspeita que ganha força é de que tais ataques também sejam por conta do surto da nova varíola.
Em entrevista ao Repórter Eco de 31 de julho, o ecólogo e presidente da SBPr, Gustavo Canale, relembra que esses tipos de ataques aos macacos por conta de doença já aconteceram com surtos de febre amarela, em que vários animais foram mortos por pauladas. Contra essa desinformação, a SBPr lançou uma campanha para conscientização que pode ser acessada em seu perfil no Instagram.
Ciente de algumas consequências que o nome pode gerar, Margaret Harris, epidemiologista e porta-voz da Organização Mundial da Saúde, declarou que uma movimentação já se iniciou entre os cientistas para mudar o nome da doença, visando evitar qualquer estigma, noticiou o G1 no dia 9 de agosto. Apesar de não estipular uma data, a cientista disse que em breve haverá novos anúncios.
Portanto é importante deixar claro que os macacos nativos do Brasil não transmitem a nova varíola. Qualquer tipo de agressão a esses animais é crime e deve ser denunciada.