Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
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No ano de 2021, além das milhares de mortes causadas pela pandemia da Covid-19, perdemos, no dia de Natal, Thomas E. Lovejoy. A sua passagem representa uma grande perda para a conservação da biodiversidade e para as mudanças climáticas. Além das diversas atividades que desenvolveu, ele era apaixonado pela floresta Amazônica e fundou no Brasil, em 1979, o Programa Dinâmica Biológica dos Fragmentos Florestais (PDBFF). Esse programa é o maior e mais antigo estudo sobre a fragmentação de habitat e acompanha os impactos da derrubada das florestas na diversidade dos ecossistemas, animais e plantas da floresta Amazônica.
Sabemos hoje que o desmatamento e a consequente fragmentação da floresta Amazônica causa diversos efeitos deletérios. Dentre esses afeitos estão as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, perdas econômicas, impactos nas comunidades indígenas e ribeirinhas e impactos na saúde regional e até mesmo global.
Quanto ao impacto na saúde humana e animal, as alterações que causam o aumento da temperatura e a intensificação de eventos climáticos extremos podem levar à emergência de doenças infecciosas e a alterações da distribuição de doenças transmitidas por vetores como a febre amarela, a dengue e a chicungunya.
O desmatamento descontrolado na Amazônia causa a perda da biodiversidade, que pode alterar as dinâmicas das infecções. Essa destruição também pode induzir a migrações de espécies da fauna selvagem para outros ambientes, facilitando o contato com humanos e animais domésticos. Esse contato pode facilitar o transbordamento de um patógeno de uma espécie, sob risco de introduzir novas infecções nas populações humanas.
Outras alterações humanas na região amazônica, como a implantação de hidrelétricas, a construção de rodovias e a expansão dos meios de transporte, de atividades de mineração, do extrativismos e da agropecuária acabam por impactar, da mesma forma, a saúde humana e animal.
A conservação da biodiversidade e da floresta Amazônica, pela qual Lovejoy tanto defendeu, está intimamente ligada à essas questões relativas à saúde humana, dos animais e dos ambientes. Não há como pensar em uma população humana saudável sem um ambiente saudável. O mundo se tornou mais árido com a partida de Lovejoy, no entanto ele nos deixou um vasto conhecimento e um exemplo na luta pela conservação da biodiversidade e da Amazônia, que vai continuar a inspirar a atual e as futuras gerações a honrarem seu legado.
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