Por Dimas Marques
Editor-chefe
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Seu primeiro voo foi em janeiro, com cerca de três meses de vida. Cheia de vida e com um mundo a explorar, uma jovem arara-canindé (Ara ararauna) vivia livre com seus pais em um ninho monitorado pelos profissionais do Instituto Arara Azul no Jardim das Nações, em Campo Grande (MS). Mas tudo isso acabou na sexta-feira, 15 de maio: a ave ficou enroscada em uma linha de pipa com cerol e quase teve uma das asas decepadas.
Sobreviveu, nunca mais voará e passará o resto da vida em cativeiro.
“De janeiro até agora foram pelo menos cinco aves atingidas, o que revolta pesquisadores que monitoram as aves desde o ovo. No caso mais recente, ocorrido na manhã de sexta-feira (15) um animal jovem perdeu a capacidade de voar apenas cinco meses depois de deixar o ninho pela primeira vez.
A ararinha era monitorada desde o seu nascimento pelas biólogas Larissa Tinoco e Fernanda Fontoura, que também fizeram o resgate em uma empresa da Rua Manoel da Costa Lima, próximo ao cruzamento com a Avenida Ernesto Geisel.
“É muito triste e revoltante ao mesmo tempo. Eu chorei muito. A monitorávamos desde o ninho, acompanhamos todo o processo de desenvolvimento e ver o animal daquele jeito… Perdendo a liberdade por causa da irresponsabilidade das pessoas que usam esse tipo material…”, desabafa Larissa.” – texto da matéria “Linhas com cerol ferem araras e ameaçam ave que é um dos símbolos da Capital”, publicada pelo portal Campo Grande News em 16 de maio de 2020
O cerol (mistura feita, geralmente, com cola de madeira e vidro moído que é espalhado na linha comum) ou a linha chilena (feita a partir de quartzo moído e óxido de alumínio) são usados em competições entre as pessoas que empinam pipas. A intenção é cortar a linha de seu oponente para que ele perca a pipa.
Utilizar linha com cerol ou a linha chilena é proibido em Campo Grande. Não há uma lei federal específica sobre a utilização dessas linhas, que funcionam como uma lâmina cortante se algum ser vivo, por exemplo, se enroscar nela em velocidade. Em geral, Estados e municípios legislam localmente sobre o tema. Ainda assim, o uso dessas linhas é reprimido com base em artigos do Código Penal pelo risco a vidas humanas.
“Em operação no último final de semana de combate a aglomerações com foco em locais onde ocorrem as disputas com pipa a Guarda Municipal recolheu 192 materiais (linha de cerol e chilena) e 124 pipas e conduziu três pessoas à delegacia.
O material foi incinerado nesta sexta-feira (15) no Parque Ayrton Senna. Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul e referência nacional na preservação de aves cobra mais fiscalização das autoridades e conscientização da população.
Pedimos a população que denuncie. Que as autoridades fiscalizem e que os culpados sejam punidos. A arara Canindé é ave símbolo da cidade. Devemos monitorá-la protegê-la para que continue colorindo e alegrando o nosso dia a dia”, comenta” – texto do Campo Grande News
Para reduzir o uso de cerol ou linhas chilenas, o poder público tem de ir além da repressão que também tem de existir. É preciso fazer campanhas educativas constantes para mudar essa antigo hábito dos amantes das pipas de Campo Grande e de todo o país, já que o problema não é restrito à capital do Mato Grosso do Sul.