
Por Dimas Marques
Jornalista, pesquisador do Diversitas-USP e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
O jornal O Vale, de São José dos Campos (SP), em sua edição de 5 de abril de 2017, publicou o artigo “Animais sob a mira”, do deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP). Em seu texto, o parlamentar, hoje líder da bancada tucana na Câmara dos Deputados, se posiciona contra duas propostas que tramitam no parlamento para legalizar a vaquejada e ampliar a prática da caça no Brasil (esse último de autoria do deputado federal das bancadas ruralista e da bala Valdir Colatto, do PMSD-SC). Sobre a caça, ele escreveu:
“(…) É preciso verdadeiro malabarismo para justificar o projeto da caça. A explicação oficial é o prejuízo causado por animais invasores – aqueles estranhos os nossos ecossistemas e sem predadores naturais.
Mas, olhado de perto, essa desculpa simplesmente não se sustenta. A lei em vigor já permite exceções, como a caça do javali europeu, espécie invasora mais comum, liberada desde 2013.
Mas qual a desculpa para incluir na lei a liberação da caça esportiva de animais selvagens, inclusive ameaçados de extinção? Ou o abrandamento de multas para a caça ilegal?”
Mais adiante, no texto, Tripoli responde:
“Convenhamos, não dá para defender que essas práticas (Tripoli inclui também a vaquejada – comentário do Fauna News) seja esporte, cultura ou diversão. Ao contrário, são resquícios de um barbarismo primitivo e cruel, incompatível com a civilização.
Por que então legalizar tais atividades, se elas primam pela violência contra os animais? É que por trás da selvageria há fortes interesses econômicos. Depois de 30 anos de dedicação à proteção animal, posso assegurar: as vitórias que obtivemos nesse período só foram possíveis com o engajamento e a mobilização da sociedade. Sem isso, o lucro tende a se impor.”
E o Fauna News, no post “Fauna News entra na campanha contra projeto que legaliza caça no Brasil”, de 14 de fevereiro de 2017, escancarou parte de tais interesses:
"Colatto é parte da chamada Bancada da Bala, como é conhecido o grupo de parlamentares que recebem dinheiro da indústria de armas e munições para financiar suas campanhas. Em 2011, o portal de notícias UOL publicou uma matéria sobre essa bancada. A partir de pesquisa realizada no Tribunal Superior Eleitoral, descobriu-se que o deputado recebeu uma doação de R$ 30 mil desse setor industrial.
“A indústria de armas e munições doou mais de R$ 2 milhões a campanhas parlamentares. Forjas Taurus, Aniam (Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições) e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) ajudaram a financiar diretamente 27 dos parlamentares hoje em Brasília. Essa quantia pode ser ainda maior porque as empresas também doaram a comitês que, sem identificar as doações, repassaram em 2010 valores a candidatos a cargos nos poderes Executivo e Legislativo em todo o país.” – texto da matéria “Gaúchos formam metade da bancada da bala no Congresso; conheça os parlamentares”, publicada em 25 de abril de 2011 pelo UOL Notícias
Não é um absurdo, portanto, imaginar que Colatto está trabalhando na Câmara dos Deputados para defender os interesses das empresas que fabricam armas e munições. O parlamentar, que também integra a bancada ruralista, tem tentado defender o projeto da oposição dos ambientalistas alegando que está previsto o repasse de 30 % do lucro líquido anual de cada reserva de caça para ser aplicado na recuperação e proteção de espécies da fauna silvestre brasileira. Será preciso causar dor e sofrimento em animais para conseguir dinheiro para a conservação de outros animais? É um tanto contraditório pensar assim, além de estarmos reabrindo um caminho para uma atividade que, na verdade, satisfaz um desejo por um entretenimento mórbido e interesses não claros de um setor atrasado do agronegócio e da indústria das armas.
Alguém já parou para pensar na quantidade de armas a mais que passará a circular na sociedade?”
Concordamos com a convocação abaixo feita por Tripoli no final do artigo:
“Felizmente, a maioria esmagadora da população deplora maus tratos contra animais. Mas tanto no caso da caça, como no da vaquejada, não basta ser contra: é preciso derrotar essas propostas dentro do Congresso, no voto. Se a população não se mobilizar e cobrar de seus representantes, sairemos derrotados.
(…) Há tempo de virar o jogo, mas temos de agir já.”
Por isso, envie e-mails para os deputados de seu Estado solicitando que eles se posicionem publicamente (na Câmara dos Deputados, nos sites deles, nas redes sociais, na imprensa). Muitos parlamentares tomam decisões a partir da pressão popular.
Pressione. Cobre. É seu direito.
O Fauna News está apoiando a campanha da Aliança Pró Biodiversidade (APB) contra o projeto de lei 6.268/16, de Valdir Colatto. Faça parte dessa campanha!
Ajude a lutar contra esse projeto! A Aliança Pró Biodiversidade está colaborando com a divulgação de um abaixo-assinado que já conta com mais de 46 mil assinaturas. Assine e compartilhe com seus amigos.
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E lembre-se, compartilhe: #CAÇANÃOCOLATTO
– Procure e conheça os deputados de seu Estado
– Entre em contato com os deputados
– Conheça o projeto de lei 6268/16
– Releia o post “Projeto de lei que autoriza a caça no Brasil pode facilitar o tráfico de fauna”, publicado pelo Fauna News em 14 de fevereiro de 2017