Médica veterinária, mestranda em Saúde, Medicina Laboratorial e Tecnologia Forense pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e agente da Polícia Federal com especialização em Polícia Ambiental
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Em meu último artigo (“A mudança na lei de maus-tratos a animais: é para comemorar?“), abordei a importância de apoiarmos a mudança da lei de maus-tratos a animais, mesmo que ela tenha contemplado apenas cães de gatos. Agora farei uma reflexão sobre o porquê de não terem incluído os animais silvestres, mesmo que a quantidade de crimes contra esses animais aumenta a cada dia.
O tráfico de fauna silvestre teve início com a chegada dos portugueses ao Brasil. Devido a beleza e a exuberância dos nossos animais, eles começaram a ser enviados para Europa. Nossos animais chamavam tanta atenção dos europeus que eles passaram a ser símbolo de status.
Com o tempo, algumas pessoas viram o potencial econômico desses animais e eles passaram a ser vendidos.
Infelizmente esse tipo de crime se alastra até hoje e já causou a extinção de centenas de espécies. O tráfico não causa apenas um sofrimento aos animais, mas também um grande desequilíbrio ecológico.
Mas por que esse crime não teve aumento de pena como ocorreu com os maus-tratos a cães de gatos? Talvez a resposta seja porque o dano causado pelo tráfico de animais não seja um dano direto ao ser humano. Demorará muitos anos ainda para a sociedade perceber o quanto a retirada de animais da natureza nos prejudica.
Outra situação é que nós estamos acostumados a conviver com cães e gatos, que são animais domesticados e de companhia. Esse convívio fez criar uma grande empatia por eles. Ao contrário dos animais silvestres, que são independentes, não precisando da presença humana para sobreviver e, pelo contrário, quanto mais distante das pessoas, melhor para eles.
Porém, não devemos proteger apenas os animais não-humanos que de alguma forma atendem nossas expectativas. Precisamos ter consciência da enorme diversidade de espécies que existem no planeta e que todas devem ser protegidas de forma igual. Se a legislação continuar considerando o comércio ilegal de animais silvestres como um crime de menor potencial ofensivo, daqui a uns anos não deixaremos nenhuma espécie para as futuras gerações.
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