Por Daniel Campesan¹ e Larissa Ferreira²
¹Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental atuando no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS)
²Graduanda em Gestão e Análise Ambiental. É estagiária na Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
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Todas as nossas ações individuais e, principalmente, coletivas são orientadas pelos juízos de valores que criamos a partir de nossas experiências e vivências. O conjunto desses valores moldam nossa sociedade e as formas como vemos e reagimos para com o mundo. Você já parou para pensar como suas vivências influenciam na sua tomada de decisão? É exatamente esse um dos focos que a educação ambiental crítica trabalha.
Quando pensamos em ações educativas voltadas para a conservação, a autorreflexão tem um grandioso papel na missão da revisão de valores éticos e estéticos. Só mudamos realmente nossa visão e ação perante o meio ambiente e todos os seres vivos e não vivos que o habitam quando migramos a nossa visão para esse “eu interno” e quando somos fomentados a nos “reolhar” e revisar.
A partir do momento que temos essa oportunidade de refletir e reavaliar nossos próprios valores, tornam-se mais completas e integradas as discussões e reflexões feitas no coletivo. Ao compreendermos com maior clareza o que acreditamos sobre determinados assuntos, como nos sentimos em relação a eles, com a postura aberta ao diálogo, podemos construir coletivamente discussões mais coerentes e criativas.
As ações educativas que possibilitam a ação-reflexão são necessárias para todas as pessoas, independentemente da faixa etária. Para que uma sociedade equitativa, solidária e mais consciente dos efeitos das suas ações sob o meio ambiente exista, todos devem ter sua importância e responsabilidade. Mas como trabalhar ao mesmo tempo a autorreflexão e as discussões coletivas com os diversos grupos?
Uma maneira interessante são os jogos cooperativos. Com eles podemos propor que as jogadoras e jogadores busquem por soluções coletivamente para ações conservacionistas. Como exemplo, apresentamos o jogo cooperativo Equipe em Ação, elaborado para o Projeto Tatu-Canastra do Instituto de Conservação de Animais Silvestres – ICAS em parceria com a Fubá Educação Ambiental. Esse jogo possibilita a construção de conhecimentos, revisão de valores e o diálogo e a tomada de decisões de maneira participativa.
A partir da apresentação do tatu-canastra como verdadeiro engenheiro ecológico, pois constrói tocas e buracos no chão para descansar e procurar alimentos, que são utilizadas por outros animais como abrigo, para procurar alimentos ou simplesmente para fugir do calor ou do frio, o jogo convida as pessoas a se imaginarem como uma equipe de pesquisadoras e pesquisadores e partirem para uma nobre missão: solucionar situações de perigo que aparecem pela frente e descobrir quais animais utilizam a toca do tatu-canastra e que, assim como ele, enfrentam inúmeros desafios.
Ao propor a abordagem cooperativa, esse jogo possibilita que as jogadoras e jogadores conversem à todo momento sobre quais são as melhores estratégias para solucionar o perigo de cada rodada, apresentando também diversas espécies da fauna do Pantanal e do Cerrado que são afetadas por esse perigo. As problemáticas reais que ameaçam esses biomas são apresentadas, assim como possibilidades de estratégias que podem solucioná-las, trazendo para a perspectiva mais lúdica, a temática da conservação da fauna. E vale ressaltar que a proposta, além da cooperação, é que não tenham respostas finais definidas como certas, mas sim que as pessoas possam discutir ao final do jogo, a partir das sugestões que são propostas, se a equipe chegou a pensamentos similares ou se associaram outras estratégias para os perigos levantados. Isso instiga ainda mais o debate e as reflexões!
Os jogos cooperativos apresentam o enorme potencial na busca pela ressignificação de nossos valores, pois trabalham com a autorreflexão e as discussões coletivas de forma leve, descontraída, com linguagem coerente e possibilitam a interação entre diferentes faixas etárias. Esse último ponto relatado é algo considerado muito importante para momentos de tomadas de decisão, pois as diferentes visões sobre algo trazem respostas mais concretas sobre uma problemática.
Compartilhamos a seguinte reflexão: nas sociedades em que a competitividade entre as pessoas costuma ser habitual, que tal reavaliarmos nossos valores e olharmos para a cooperação como alternativa possível?
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