Inteligência artificial: uma nova era para os observadores de aves

A observação de aves é uma atividade que tem sua evolução intimamente relacionada ao desenvolvimento de ferramentas e ao acesso a informações importantes para que a atividade aconteça de forma cada vez mais simples e motivadora. Ferramentas como os binóculos, as máquinas fotográficas e sites como o Wikiaves e eBird,  que organizam fotos e gravações sonoras, contribuíram significativamente para o desenvolvimento e abrangência da atividade, pois a colheita de informações visuais e auditivas ficou muito mais fácil, precisa e organizada.

Esse processo, porém, gerou um problema: o alto volume de dados que precisavam ser revisados por pessoas que não conseguiam analisar tanta informação de maneira rápida e precisa. Dessa forma, as valiosas informações colhidas poderiam se perder ou não serem devidamente aproveitadas.

Com o advento da inteligência artificial (IA), está sendo possível resolver esses problemas de forma simples. É o caso da geração de aplicativos e recursos que aprimoram a experiência dos observadores e ampliam o impacto científico de suas atividades.

Inteligência artificial e a identificação de espécies

Uma das principais contribuições da inteligência articificial na observação de aves é a identificação automática de espécies. Aplicativos móveis como Merlin Bird ID e o BirdNet, desenvolvidos pelo Laboratório de Ornitologia da Universidade de Cornell, utilizam algoritmos de aprendizado de máquina treinados em vastos bancos de dados de imagens e sons de aves.

Esses aplicativos permitem que os observadores capturem fotos ou gravações de áudio e recebam identificações precisas em questão de segundos. A inteligência artificial analisa características como padrões de plumagem, formatos de corpo e cantos das aves, comparando-os com seu extenso banco de dados para sugerir possíveis espécies. Isso não só facilita a identificação para iniciantes como também ajuda observadores experientes a confirmar avistamentos raros ou difíceis.

Com o Merlin Bird ID é possível receber sugestões de identificação de fotos que foram tiradas com o celular ou transferidas para o aparelho em poucos segundos.

Também é possível receber sugestões de identificação de fotos muito assertivas no site do Wikiaves, que utiliza o maior banco de fotos de aves brasileiras, para favorecer a identificação de fotos dos animais, mesmo em situações mais desafiadoras, como no caso de jovens, filhotes e fêmeas – que, na maioria dos casos, apresentam plumagem muito parecida com a de outras espécies.

A inteligência artificial revolucionou também a identificação das espécies de aves pelo canto. Dois aplicativos principais, o Merlin Bird ID e o BirdNet, são capazes de dar sugestões de identificação de aves em poucos segundos.

O aplicativo Merlin é poderoso demais porque constrói uma lista das espécies que estão vocalizando, mesmo sem sinal de internet, e ainda aponta na tela quem é a espécie que está cantando no momento. O aplicativo BirdNet, não é capaz de identificar as espécies de aves em locais onde não há sinal de internet, mas permite que os sons sejam gravados para posterior análise com acurácia maior em relação ao Merlin. Ambas as ferramentas são indispensáveis para auxiliar na identificação das aves pelo canto, mas nunca se esqueça que elas dão sugestões de identificação, que você deve conferir de acordo com seus conhecimentos e, se possível, unir com os dados de visualização da espécie.

Informações para a Ciência e a conservação

Além da identificação, a inteligência artificial também auxilia na análise e interpretação dos dados coletados pelos observadores. Plataformas como eBird, que acumulam milhões de registros de avistamentos de aves ao redor do mundo, utilizam inteligência artificial para detectar padrões e tendências nas populações de aves. Estes diagnósticos são essenciais para pesquisadores, conservacionistas e observadores de aves – também conhecidos como cidadãos-cientistas – pois ajudam descobrir a frequência dos animais em cada local, assim como monitorar mudanças na distribuição, identificar áreas de alta biodiversidade e detectar possíveis ameaças, como perda de hábitat ou mudanças climáticas.

Outro aspecto em que a inteligência artificial tem sido fundamental é na previsão de movimentos e migrações de aves. Modelos avançados, alimentados por dados históricos e atuais de avistamentos, condições climáticas e padrões migratórios, podem prever quando e onde certas espécies de aves aparecerão. Isso é particularmente útil para observadores que desejam maximizar suas chances de avistar espécies específicas durante períodos de migração.

Além disso, essas previsões são valiosas para a implementação de estratégias de conservação, ajudando a proteger rotas migratórias críticas, locais de parada para descanso e até prevenção de colisão de aves migratórias com vidraças, principalmente durante a noite.

A inteligência artificial está revolucionando a observação de aves, tornando-a mais acessível, precisa e impactante. Mas ela não é capaz de gerar resultados sólidos para a conservação das espécies sem a participação essencial do observador de aves, que colhe as informações e as examina criteriosamente para que seja possível contribuir de forma significativa para a ciência da conservação.

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