Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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A implantação de medidas para reduzir os impactos de rodovias na fauna tem sido uma prática cada vez mais comum nos projetos de construção, pavimentação e duplicação de estradas. Há uma grande diversidade de medidas mitigadoras existentes, desde passagens de fauna como túneis e pontes de corda até cercas de diferentes formatos para uma variedade de espécies. Mas, uma vez instaladas, como avaliar se essas medidas funcionam?
Quero dizer: essas medidas fazem o que nós esperamos que elas façam? O quanto elas de fato contribuem para reduzir os impactos de uma estrada?
Para responder a essas perguntas, nós precisamos definir quais são os objetivos das medidas instaladas em cada caso. Isso porque a efetividade de uma mitigação depende do quanto os seus objetivos foram atingidos. Pode parecer óbvio quando falamos, mas pode ser um tanto complicado pensar como avaliar isso na prática. Por exemplo, podemos pensar que uma medida mitigadora em uma estrada pode ter diferentes objetivos, como reduzir o número de acidentes com humanos envolvendo a fauna, evitar o impacto dos atropelamentos em uma espécie ameaçada ou ainda evitar qualquer atropelamento em função do bem-estar eanimal. Para cada um desses objetivos, a definição do que faz uma medida ser efetiva vai ser diferente e é importante que haja clareza sobre o que significa sucesso em cada caso, pois isso ajuda a definir o que deve ser medido num programa de monitoramento.
Uma avaliação adequada da efetividade das medidas que estão sendo instaladas em estradas é fundamental para garantir que os recursos estão sendo bem aplicados. Para isso, precisamos de estudos bem planejados, clareza sobre as variáveis que devem ser coletadas para avaliar o sucesso de uma mitigação, seguida de uma análise adequada dos dados. E esse monitoramento precisa ser planejado antes mesmo da implantação das medidas, especialmente para garantir que desenhos amostrais adequados sejam aplicados, como incluir a coleta de dados anteriores à implantação da medida mitigadora para que sirvam como uma referência para comparação com os resultados posteriores.
Alguns podem argumentar que é melhor implementar medidas, mesmo sem a garantia de que vamos poder monitorá-las adequadamente. Ou ainda que é melhor ter um monitoramento incompleto do que nenhum monitoramento. Mas será mesmo?
Vamos ser otimistas: num cenário em que as medidas são mais efetivas do que nós imaginamos, estaríamos desperdiçando recursos, pois poderíamos ter menos medidas ou medidas mais baratas sendo implementadas por aí. Por outro lado (um lado que acho bem mais provável), se as medidas são menos efetivas do que imaginamos, todos nossos esforços podem estar sendo em vão, pois precisaríamos mitigar muito mais (ou de forma diferente). Independentemente de qual cenário tivermos, o que não podemos abrir mão é de fazer uma avaliação adequada dos nossos esforços.
Podemos somar a tudo isso a importância da transparência e a publicização dos resultados, pois o aprendizado gerado em um caso (mesmo um caso de “insucesso”) é muito importante de ser incorporado em casos futuros. Não podemos perder a oportunidade de aprender com os erros e acertos que estão ao nosso redor e qualificar a mitigação das futuras estradas.
Pra finalizar, recomendo a leitura de um capítulo de livro e de um artigo que apresentam algumas diretrizes importantes para planejar o monitoramento da efetividade de medidas mitigadoras:
– “Guidelines for Evaluating the Effectiveness of Road Mitigation Measures”, publicado no livro Handbook of Road Ecology, de 2015
– “Evaluating the effectiveness of road mitigation measures”, publicado na revista Biodiversity and Conservation em 2013
– Leia outros artigos da coluna FAUNA E TRANSPORTES
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