Por Bruna Milori, Gabriel Gatti e Renata Otaviano
Jornalistas em formação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Projeto Nova Geração
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Após enfrentar cinco extinções em massa, o planeta vive o mesmo cenário. Desta vez, provocado pela espécie humana.
Eventos de extinção em massa ocorrem de maneira intervalada no ecossistema terrestre, que já passou por cinco deles. São períodos desencadeados por diferentes influências, mas com um mesmo resultado: a eliminação de diversas espécies da fauna global. A primeira resultou no desaparecimento de 85% dos organismos marinhos em função de uma mudança climática, enquanto a última, e mais conhecida de todas, tornou os seres a quem chamamos dinossauros um mistério a ser desvendado pela humanidade – assim como o fenômeno responsável pelo seu desaparecimento.
Há milhões de anos, os dinossauros marcaram a história do planeta em função do domínio que exerciam na Terra. Impactos de asteroides e erupções vulcânicas foram fatores potentes nos primeiros processos de extinção, incluindo o que culminou na aniquilação desses gigantes.
De acordo com o The Conversation, uma onda de extinção em massa é percebida quando três quartos da população de todas as espécies são eliminadas em um curto espaço de tempo. Evidências percebidas no estudo dos cinco momentos em que isso aconteceu são notadas, também, na atualidade, o que categoriza a ocorrência da sexta extinção em massa do planeta Terra. Desta vez, provocada por mudanças climáticas resultantes das atividades humanas, o evento extintivo tem potencial de eliminar um milhão de espécies.
Uma viagem pelos eventos de extinção
Durante a existência da Terra, acredita-se que os seres vivos passaram por cinco extinções em massa, tendo o planeta colocado um fim nos períodos Ordoviciano, Devoniano, Permiano, Triássico e Cretáceo. Sendo assim, o primeiro episódio que se enquadra nesse perfil remonta ao período Ordoviciano, ocorrido durante a era Paleozóica Nessa fase, a vida era predominantemente marinha, tendo a área ao norte do globo terrestre coberta quase que em sua totalidade pelo oceano, enquanto o hemisfério sul apresentava um supercontinente chamado Gondwana. Nesse cenário, a flora e a fauna que se destacavam consistiam em algas, animais invertebrados e peixes primitivos que não possuíam mandíbula.
No entanto, o florescer da biodiversidade ordoviciana foi cessada com uma onda glacial que propiciou a formação de calotas de gelo. O evento gerou um intemperismo rochoso em larga escala, isto é, um atrito entre as superfícies que ocasionou em um desgaste. Esse evento sugou o dióxido de carbono da atmosfera e, consequentemente, resfriou o planeta. Além disso, o episódio que deu fim ao Ordoviciano também foi marcado pela alteração do nível do oceano devido ao congelamento das águas, o que comprometeu o oxigênio das espécies marinhas. Como resultado dessas alterações climáticas, cerca de 85% das formas de vida foram extintas.
Com o tempo, a vida no planeta Terra foi se recuperando e dando origem a novas espécies, mais complexas e preparadas para sobreviverem naquele ambiente. Com isso, se iniciou o período Devoniano, que apresentou os primeiros anfíbios, insetos voadores e pré-gimnospermas (plantas), que viriam a ganhar mais destaque nos milênios seguintes. Assim como o período Ordoviciano, o Devoniano atingiu seu apogeu e, em seguida, declinou. Com essa derrocada da vida, cerca de 75% das espécies marinhas sofreram o processo de extinção. Esse fenômeno ocorreu pela ocorrência de eventos de magmatismo que fizeram o nível de oxigênio nos oceanos despencar, afetando novamente a biodiversidade aquática.
Milênios após esses incidentes, iniciou-se o período Permiano, que encerra o ciclo da era Paleozóica. Nele, os continentes se uniram, formando um bloco único chamado de Pangeia. Nessa fase, a biodiversidade terrestre era composta por insetos e cordados primitivos, enquanto os oceanos eram dominados por anfíbios enormes, moluscos artrópodes gigantescos, entre outros. Já a flora característica do período era marcada por plantas do gênero Glossopteris. No entanto, a vida permiana sofreu a maior extinção já estudada na Terra, exterminando ao menos 90% das espécies. Esse cataclismo ocorreu após atividades vulcânicas na região onde hoje é a Sibéria, que liberaram ao menos 14,5 toneladas de carbono na atmosfera. O aquecimento global elevou a temperatura dos oceanos nas proximidades da linha do Equador a 40º.
Com o fim da era Paleozóica, inicia-se a Mesozóica, com o período Triássico tardio, que se destacou por apresentar os primeiros dinossauros. Os grandes répteis que dominaram o planeta se dividiam em vários grupos, dando destaque para os terapsídeos e arcossauros. Outro destaque marcante foi o surgimento dos primeiros mamíferos ovíparos. Já a flora triássica se destacava por suas florestas de coníferas. E novamente, as atividades vulcânicas comprometeram a vida terrestre ao elevar a temperatura em 6° C. O aquecimento do clima global quadruplicou a quantidade de CO2 na atmosfera, acidificando os oceanos. Como resultado desses processos, cerca de 50% de todas as espécies foram extintas.
Por fim, o período Cretáceo foi o último da era Mesozóica e o último a apresentar uma extinção em massa. Nele, o planeta começou a adquirir uma aparência continental similar à dos dias de hoje. Os dinossauros alcançaram seu apogeu, com grandes répteis e a região onde está localizada a floresta Amazônica repleta de coníferas, além de algumas plantas rasteiras. Esse período teve seu fim há cerca de 65 milhões de anos com a colisão de um gigante asteroide onde hoje é a península de Yucatán, no México. A onda de poeira tóxica que cobriu o planeta por aproximadamente 10 anos provocou a extinção de, ao menos, 75% de todas as espécies da Terra.
Todos esses processos de extinção de massa levaram um longo tempo para moldarem o planeta, chegando a milhões de anos para dizimar as espécies e, assim, dar início a uma nova fase. Mas o que parecem ser fenômenos isolados podem apresentar certos padrões. Segundo um estudo publicado na revista Historical Biology, esses eventos ocorrem de forma cíclica a cada 27,5 milhões de anos em média. Nesse cenário, levantar a hipótese de uma sexta extinção em massa, desta vez motivada pela ação humana, se torna uma realidade.
É o fim do mundo?
Um estudo que foi publicado na revista Communications Earth & Environment, em maio de 2021, investigou e comparou as taxas de extinção de espécies de água doce no período Cretáceo com as taxas atuais. O resultado indicou que os dados do presente são três vezes maiores que os do período dos dinossauros. Apesar de os resultados serem restritos ao bioma de água doce, os resultados alarmantes evidenciam o que está ocorrendo em todos os ecossistemas.
Segundo o artigo Accelerated modern human–induced species losses: Entering the sixth mass extinction do pesquisador do Instituto de Ecologia da Universidade Nacional Autônoma do México, Gerardo Ceballos, um dos pioneiros nos estudos da sexta grande extinção, a totalidade de espécies perdidas nos últimos 100 anos levaria, em condições normais, cerca de 10 mil anos para acontecer. A magnitude desses dados possibilita afirmar que estamos presenciando uma extinção em massa.
Chamada de Extinção Antropogênica por alguns estudiosos, o fenômeno extintivo atual difere dos cinco anteriores devido às suas causas. Embora existam fatores naturais geológicos que levam à extinção de algumas espécies, a perda intensa de fauna que se vê hoje é resultado de ações humanas. A aceleração das mudanças climáticas, a acidificação dos oceanos, a poluição e o desmatamento de florestas para a expansão da agropecuária são apenas alguns dos fortes fatores que acarretam o extermínio de espécies.
Em conversa com a pesquisadora e doutora em Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Alagoas, Luisa Diele-Viegas, perguntamos sobre as condições de sobrevivência humana em um cenário de extinção massiva. “Estima-se que a espécie humana sobreviveria apenas cerca de seis meses no caso de extinção total das espécies polinizadoras. Nossa sobrevivência também depende da manutenção de condições ambientais adequadas para o cultivo das espécies que são utilizadas na nossa alimentação”, explicou.
Sobre os recursos que podem ser utilizados para frear o avanço da perda de espécies, Luisa afirma que é necessária uma reformulação do modo de consumo atual, sendo preciso minimizar a exploração animal e combater o uso imoderado dos recursos naturais. A pecuária deve ter atenção especial por ser hoje a maior responsável pelas emissões de gases do efeito estufa com seus processos industriais, transporte de carga, desmatamento e queimadas.
No entanto, felizmente, o quadro ainda pode ser revertido, acredita Luisa. Para isso, é preciso reestruturar o modo de vida na Terra, migrar para uma economia sustentável e estabelecer novos modos de consumo.