História em quadrinhos une Paleontologia e diversão na divulgação científica

A comunicação científica usando meios modernos e criativos está se tornando cada vez mais importante (e necessária) para as instituições de pesquisa. As pessoas têm um interesse em tópicos paleontológicos, especialmente quando se trata de dinossauros. Sabemos que a pesquisa de dinossauros acaba recebendo atenção, podendo até ganhar destaque internacional na mídia, dependendo das notícias em voga. No entanto, existe uma desvantagem nessa abordagem: a informação divulgada muitas vezes tem uma duração curta. Em questão de dias, artigos e textos de revistas ou blogs desaparecem da mídia e, infelizmente, são rapidamente esquecidos.

Por outro lado, os livros e revistas costumam ser mais duradouros. Lamentavelmente, livros populares de Ciência, com muito texto, não alcançam igualmente todos os grupos da sociedade, como crianças de condições sociais diversas, devido a inúmeras barreiras. Além disso, livros sobre paleontologia normalmente são voltados para a idade do ensino fundamental, enquanto histórias em quadrinhos oferecem uma maneira mais acessível de transmitir Ciência para partes da sociedade que podem ser negligenciadas.

Muitos autores salientam que os quadrinhos têm se mostrado uma ferramenta eficaz para divulgar ciência e promover a educação informal. Esse formato é capaz de transmitir informações complexas de forma simples e cativante, além de estimular a imaginação e a criatividade dos leitores. A utilização desse formato de publicação para popularizar conhecimentos científicos tem se tornado cada vez mais popular em todo o mundo, inclusive no Brasil. Porém, exemplos do campo da paleontologia ainda são raros. Um bom exemplo é a história em quadrinhos chamada “EUROPASAURUS – Life on Jurassic Islands”.

Claro que essa obra não é a primeira a apresentar dinossauros (e outros animais pré-históricos) em quadrinhos. Muitas espécies pré-históricas famosas já despontaram em obras populares, em que o principal uso delas nos quadrinhos foi (e ainda é) para fins de puro entretenimento, sem nenhum interesse direto em educação. No geral, as espécies são apresentadas apenas como forças da natureza ou um adversário a ser vencido.

Assim, o quadrinho “EUROPASAURUS” se destaca por apresentar uma abordagem documental sem personagens principais antropomorfizados e pela integração de fatos científicos e referências a achados fósseis reais. Essa obra foca num dos mais importantes sítios mesozóicos para fósseis de vertebrados na Europa: a pedreira de Langenberg, na Alemanha. Com idade datada do Jurássico Superior (cerca de 154 milhões de anos atrás), essa região apresenta uma alta diversidade de fósseis de vertebrados terrestres, como lagartos, crocodilomorfos, pterossauros, dinossauros terópodes diversos, mas especialmente o dinossauro saurópode Europasaurus holgeri.

Detalhes do Europasaurus
Naquela época, a Europa ainda era um arquipélago tropical e fósseis de Europasaurus são particularmente muito comuns. Com uma altura máxima de três metros e cerca de oito metros de comprimento, esse saurópode era muito menor do que seus parentes mais próximos.  Europasaurus é normalmente interpretado como apresentando nanismo insular, um padrão recorrente ao longo da evolução quando animais são restritos a viverem em ilhas e arquipélagos.

Com foco especial para pessoas acima de 10 anos, que muitas vezes parecem ter superado seu fascínio e consumo por informações sobre dinossauros, os leitores dessa obra são capazes de experimentar a vida dos dinossauros visualmente e desfrutar de conteúdo de mídia facilmente acessível. Soma-se a isso o fato de que o conteúdo apresentado permite que os leitores não tenham conhecimento prévio sobre assunto, uma vez que o material é de fácil compreensão por meio da narrativa em imagens. Mesmo sem ler o texto, o design permite que os leitores sigam a história. O foco de uma história em quadrinhos é, obviamente, na parte da narrativa gráfica, mas, ao mesmo tempo, as informações básicas nos textos incluem resultados de pesquisa em uma linguagem mais acessível.

Tal empenho resultou em sucesso. Quase dois anos após a data de publicação do livro, um estudo realizado pelos paleontólogos envolvidos na criação da HQ abordou diferentes questões através de um questionário on-line. Mais de 150 pessoas foram entrevistadas e cerca 22% delas informaram que houve uma expansão sobre o seu conhecimento paleontológico, o que, no entanto, provavelmente se refere a áreas diferentes e desconhecidas anteriormente. Além disso, 96% dos participantes consideraram a obra uma ferramenta útil para a transferência de conhecimento científico.

Assim, fica a dica de uma excelente obra, criada com conteúdo bilíngue (alemão e inglês)  – infelizmente, ainda não traduzida para a língua portuguesa -, mas que pode ser um exemplo a ser seguido por artistas e paleontólogos nacionais para divulgar fósseis brasileiros.

Para saber mais
– ARAÚJO, G. C.; COSTA, M. A.; COSTA, E. B. As histórias em quadrinhos na educação: possibilidades de um recurso didático-pedagógico. A MARgem – Estudos, v. 1, nº 2, p. 26-36, 2008
– Wings, O., Fischer, J., Knüppe, J., Ahlers, H., Körnig, S., and Perl, A.-M.: Paleontology-themed comics and graphic novels, their potential for scientific outreach, and the bilingual graphic novel EUROPASAURUS – Life on Jurassic Islands, Geosci. Commun., 6, 45–74

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