Há forma correta de gostar da fauna silvestre?

Vitor Calandrini, da PM Ambiental de SP, traz uma reflexão sobre a maneira que apreciamos a fauna silvestre, se ela é nociva ou benéfica aos animais.

Vitor Calandrini

Nascido em 1986, é capitão da Polícia Militar Ambiental do estado de São Paulo. Atua como comandante da 2° Companhia do 1° Batalhão da PM Ambiental e como professor de Direito Ambiental na Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB ) desde 2017. É mestre e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP).
É bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pela APMBB, em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) e em Gestão Ambiental (USP).Também possui especialização em Ciências Jurídias (Unicsul), em Policiamento Ambiental (Comando de Policiamento Ambiental da PM do Estado de São Paulo), em Técnicas de Policiamento Náutico (Comando de Policiamento Ambiental da PM do Estado de São Paulo) e em Preservação do Bioma Pantanal (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).
Em 2018, participou do Willife Trafficking Investigator Program da International Law Enforcement Academy (ILEA), em Botsuana.

30 de maio de 2023

Embora o título pareça contraditório, é uma pergunta que temos que nos fazer e analisar: será que há um limite ou formas certas de gostar dos animais silvestres? E se sim, quais são esses limites? Este mês gostaria de fazer um diálogo com você, leitor, sobre a importância de saber gostar dos silvestres, pois, quando perdemos de vista o respeito, podemos ser mais danosos do que benéficos a esses animais.

Inicialmente temos que entender que a própria origem da denominação “silvestre” vem de “ser livre, pertencente à natureza”. Não é um ser vivo para tomarmos posse ou domesticá-lo. Precisamos ter a convicção de que o melhor é mantê-lo em seu hábitat próprio, ainda que tenhamos uma natural tendência a nos apropriarmos do que é belo e valioso. Portanto, a primeira lição é apreciá-lo como ele o é, ou seja, livre em seu hábitat natural.

Dessa premissa outras decorrem, como: se ele é recoberto de pelos, penas ou pele, não cabe a mim tentar “humanizá-lo” com adereços como correntes, bonés, roupas ou objetos que não pertencem à sua natureza; ensiná-lo “truques” para ganhar likes em redes sociais; ou até mesmo, como é o mais comum, alterar sua dieta, podendo inclusive fazer muito mal à sua saúde, como ofertar café ou alimentos ultraprocessados?

É nesse ponto que devemos refletir: gostamos de ter o animal disponível para nossa apreciação ou estou sabendo ponderar e procurar ver um silvestre em vida livre, em locais destinados ao avistamento ou nas matas?

Não posso achar que o jeito correto de gostar dos silvestres é retirando-os da natureza e os trancafiando em gaiolas, viveiros ou jaulas para deixá-los lá pelo resto de sua vida com o objetivo de entreter seu “proprietário”. Ao fazer isso, retira-se dele o direito de se reproduzir, exercer seu papel na natureza e coabitar com toda a biodiversidade.

Para que respeitemos os silvestres, sabemos o que é necessário: a manutenção de florestas com qualidade, a não aquisição de animais advindos do tráfico, a certeza de que não preciso tocar nem domesticar o animal silvestre para que eu demonstre meu sentimento por ele, pois, como seres providos de inteligência, sabemos que o que realmente importa é que eles estejam nos locais certos, seguros e saudáveis.

Fica aqui minha lição deste mês. Reflitamos sobre o que é gostar da fauna silvestre e ensinemos esta forma para as presentes e futuras gerações.

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Sobre o autor / Vitor Calandrini

Nascido em 1986, é capitão da Polícia Militar Ambiental do estado de São Paulo. Atua como comandante da 2° Companhia do 1° Batalhão da PM Ambiental e como professor de Direito Ambiental na Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB ) desde 2017. É mestre e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na […]