Biólogo, mestre em Ecologia e agente de fiscalização ambiental federal
nalinhadefrente@faunanews.com.br
A escavadeira hidráulica abre um canal para desviar o igarapé. As motobombas jogam jatos de água no barranco enquanto sugam água e lama. No meio dessa lama está o ouro. Todo o resto é descartado, aterrando o que restou do igarapé. Depois se usa o mercúrio, que se ligará ao ouro formando a amálgama. A separação do ouro do amálgama contaminará o ambiente com o mercúrio.
O igarapé morre e a água que dele escorre, agora contaminada com o mercúrio. O rio se torna turvo em razão da areia e lama revolvidas. Várias espécies de peixes não se adaptam e morrem. As sobreviventes acumulam mercúrio em seus tecidos e contaminarão animais, humanos ou não.
Contaminando a teia alimentar
Com a morte dos igarapés e dos rios, os peixes desaparecem. Os que sobram contaminam quem os come. Este é um dos custos invisíveis do garimpo e quem o paga não são os garimpeiros: somos eu, você e todos que se alimentam de peixes, incluindo os indígenas que deles dependem.
A destruição não se limita aos rios. Os garimpeiros entram nas terras indígenas com freezer, fogão, café, arroz, açúcar, sal, farinha, feijão, entre outros materiais e mantimentos. Também levam carne, mas não se furtam de matar antas, veados, jacus, macacos, pacas e outros animais. O barulho, queimadas e o aumento da pressão de caça diminuem a densidade da fauna na região. Predadores como as onças sofrem, além dos indígenas.
Portanto, os garimpeiros destroem os igarapés, contaminam os rios, caçam e afugentam os animais. Quando me perguntam por que os yanomamis passam fome se, como indígena, deveriam saber viver da natureza, da floresta, eu explico.
Agora podemos todos explicar o que acontece. Agora podemos todos enxergar e entender que garimpo é incompatível com conservação ambiental. A floresta derrubada e o igarapé destruído são apenas as partes visíveis da destruição. Não vemos o mercúrio nos rios e, tampouco, o massacre aos animais, vítimas silenciosas do vil metal.
O texto reflete posição pessoal e não, necessariamente, institucional.
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