Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento animal, além de divulgação científica.
Olá, espero que esteja tudo bem com você! Boa parte dos meus primeiros artigos na coluna Photo Animal foram relacionados a questões técnicas da fotografia, nos quais abordei diversos temas como foco, triângulo da exposição e dicas de equipamentos para registrar diferentes animais. Porém, conversando com um amigo uns dias atrás, percebi que ainda não havia discutido sobre os sensores e decidi dedicar esse texto ao tema.
Os sensores são o “cérebro” das câmeras fotográficas, sendo responsáveis por capturar a luz que foi direcionada pelas lentes e transformá-la (através do efeito fotoelétrico) em uma imagem digital, que é gravada no cartão de memória. Existem dois tipos mais comuns de sensores: o CMOS (presente na maioria das câmeras DSLR e mirrorless) e o CCD (presente em equipamentos mais profissionais), mas essa dualidade não é o tema deste artigo.
O que realmente influencia nossos resultados na fotografia de vida selvagem é a diferença de tamanho dos sensores, a qual separa as câmeras em dois grupos: as câmeras full frame e as câmeras cropadas.
Nas câmeras full frame, os sensores são de 36 x 24mm, sendo essas as mesmas dimensões dos filmes de 35mm da era analógica.
Já nas câmeras cropadas, os sensores variam de tamanho de acordo com o modelo do equipamento, sendo o principal sistema o APS (Advanced Photo System). Entre os tamanhos mais comuns temos o APS-C com 25,1 x 16,7mm (presente na maioria das DSLR e mirrorless) e o APS-H com 27,9 x 18,6mm (presente em algumas linhas da Canon).
Mas então, como escolher o tamanho de sensor ideal e, consequentemente, a câmera ideal para fotografar animais?
Os sensores das câmeras full frame costumam ter diversas vantagens em comparação aos do sistema APS, principalmente em relação à qualidade da imagem. Por serem fisicamente maiores, são muito mais sensíveis à luz e permitem melhores resolução, nitidez e contraste de cores nas fotos. Além disso, o índice de ruído em imagens com ISO alto é muito reduzido, algo extremamente importante para a fotografia de fauna, considerando que é bem comum enfrentarmos situações de baixa luminosidade.
Outro “benefício” das full frame é uma maior quantidade de pixels na imagem, um dos principais atrativos na escolha dos melhores celulares para fotografar (os famosos MP, ou megapixels). Porém, nas câmeras fotográficas uma maior quantidade de megapixels não significa necessariamente uma imagem melhor, mas sim o conjunto de diversas outras especificações. Portanto, tente não basear a escolha do seu equipamento somente no número de megapixels.
Sendo bem realista, os sensores das full frame possuem somente duas desvantagens. A primeira, e principal, é o preço. Câmeras full frame costumam ser muito mais caras do que câmeras cropadas, justamente por conta da quantidade maior de benefícios oferecidos.
Já a segunda tem relação com o fator de corte (ou crop factor), que influencia o alcance das lentes que estão sendo utilizadas. A distância focal das lentes é baseada no sensor full frame, cujo fator de corte é 1x. Logo, se você estiver utilizando uma lente com distância focal de 200 mm este será exatamente o alcance dela (200 x 1 = 200).
Com isso, as fotos geradas pelo sensor de uma full frame serão mais amplas (com menos alcance, ou “zoom”), algo que pode incomodar fotógrafos de fauna já que são raras as vezes em que conseguimos chegar muito próximo dos animais. Vale lembrar que a qualidade de imagem superior desse tipo de sensor dá uma liberdade maior para que as fotos sejam cortadas posteriormente na edição, com a finalidade de deixar o assunto maior no enquadramento, sendo uma boa forma de compensação.
As vantagens que os sensores do sistema APS oferecem estão diretamente opostas às desvantagens das câmeras full frame. Além de serem mais baratas, as câmeras cropadas possuem diferentes fatores de corte que aumentam o alcance das lentes. Novamente, o valor destes fatores varia de acordo com o equipamento que você está utilizando e pode ser facilmente consultado na internet.
Vou dar meu exemplo pessoal: minha câmera não é full frame e possui um fator de corte de 1.6x (sensor APS-C de uma Canon). A lente que utilizo é uma 70-300 mm, mas na prática ela funciona como uma 112-480 mm (70 x 1,6 = 112 e 300 x 1,6 = 480) quando acoplada com o sensor do meu equipamento.
Já sabemos o quão importante um alcance maior é para conseguir fotos mais detalhadas da vida selvagem. Portanto, o uso de câmeras cropadas para conseguir esse tipo de benefício é uma ótima alternativa a investir em lentes mais caras.
Acho que basicamente cobri as desvantagens das câmeras cropadas falando dos prós das full frames. Não posso mentir para você: a qualidade da imagem e, principalmente, a performance dos sensores APS em situações de baixa luminosidade (por conta do ruído maior) são realmente inferiores. Mas quero deixar claro que as diferenças de nitidez, contraste e resolução são bem mínimas. Somente olhos muito treinados e experientes da fotografia conseguem identificá-las logo de cara.
Hoje em dia qualquer câmera fotográfica (e até celulares mais modernos) são capazes de capturar imagens quase que tecnicamente perfeitas. Apesar de os sensores das full frame oferecerem uma melhor qualidade, não são eles que definem o valor artístico de uma fotografia.
Além disso, estudar e aplicar corretamente as configurações do seu equipamento em diferentes situações é uma forma de amenizar e até evitar os impactos de seus pontos fracos no resultado final. Também é possível corrigir outros problemas na pós-produção (edição), como a redução de ruído e o contraste, por exemplo.
Peço que você não fique bravo(a) e nem sinta que seu tempo foi perdido durante a leitura deste texto, mas a verdade é que não posso dar uma única resposta que seja a correta. Assim como quase tudo na fotografia, a escolha do melhor sensor é questão de gosto, adaptação e de bolso! Diferentes fotógrafos possuem diferentes níveis de experiência, tempo e dinheiro para dedicar à uma atividade que é, na maioria das vezes, apenas um hobby para eles.
Por isso meu conselho é: tente fazer uma reflexão com você mesmo antes de comprar seu novo equipamento. Se pergunte quais suas necessidades, seus objetivos e seu orçamento e avalie a melhor opção que esteja de acordo com tudo isso. Além disso, não esqueça do equipamento que você já possui! As lentes possuem compatibilidades específicas, então não adianta nada comprar a melhor câmera full frame do mercado se sua lente não se encaixa nela. Claro que existem adaptadores, mas pessoalmente não sou muito fã deles, tendo em vista que costumam impactar a qualidade da imagem de forma considerável.
Espero que este artigo tenha ajudado você a entender um pouquinho melhor o funcionamento dos sensores e como as fotografias são afetadas por seus diferentes tipos. Confesso que esse tópico sobre especificações de equipamentos é meu menos favorito na fotografia. Ainda assim, é muito importante estudá-lo para conhecer e, consequentemente, extrair o máximo daquilo que temos em mãos – além de se manter atualizado na área da tecnologia. Muito obrigado pelo seu tempo e sua leitura. Nos vemos em breve!
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).
Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento […]
