Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac (MS)
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Oi, gente!
Dando continuidade ao artigo anterior, em que falei sobre quais aspectos uma fotografia deve ter para ser possível a identificação da espécie animal registrada, trago mais algumas informações para complementá-lo. Bora lá!
Eu salientei que as duas linhas iniciais desse tipo de fotografia iriam se encontrar em um ponto comum. Então, esse ponto é o da ciência cidadã, que une amadores e profissionais com um único objetivo: o de ampliar o conhecimento e a importância da natureza e de tudo que dela faz parte. Considero a ciência cidadã a mais importante ferramenta de educação, conscientização e conservação ambiental que existe, já que proporciona o encontro de dois mundos: o do saber e fazer (profissionais da área) e o dos que querem saber e contribuir para fazer tudo isso acontecer (fotógrafos amadores, observadores de aves, admiradores da natureza). O resultado dessa interação e união de forças não poderia ser outro senão o aumento mais do que expressivo de descobertas de novas espécies e comportamentos, além da redescoberta de espécies consideradas extintas. Que maravilha! A natureza agradece!!! E isso garante a nossa permanência enquanto espécie nesse planeta, já que está tudo interligado, como bem sabemos.
E além das informações ditas no primeiro artigo, a fotografia de espécies animais deve conter também detalhes sobre o local onde a espécie foi registrada, como árvores, flores, folhas e frutos se houver, e o que mais possa ser utilizado para identificar o bioma onde a foto foi feita. Se possível, captar também ações de alimentação. Esses detalhes são importantes, já que mostram determinados comportamentos e a “moradia” das espécies registradas, reduzindo a lista de “suspeitos” iniciais e servindo de filtro para se chegar à uma identificação correta e seus hábitos. Isso vale para fotos feitas com câmeras ou com celulares. Claro que a reunião de todos esses dados também aumenta o nosso conhecimento sobre tudo o que nos cerca e aguça, cada vez mais, a curiosidade e a vontade de obter conhecimento e conservar, de manter e recuperar. Ao menos comigo funciona assim. Espero que com vocês também.
E agora chegou o instante de revelar qual espécie com anomalia genética eu registrei e contar o porquê essa foto se encaixa neste material de fotografias para identificação de espécies. A espécie registrada é essa da foto aí embaixo, o beija-flor besourinho-de-bico-vermelho. De acordo com o Wikiaves, essa ave mede entre 7,5 e 10,5 centímetros e pesa entre 3 e 4,5 gramas. Como seu nome diz, seu bico é vermelho com a ponta escura. Sua plumagem verde-brilhante abrange as partes dorsais e ventral, apresentando um brilho dourado mais intenso na fronte e mais azulado na garganta. As penas da cauda são de coloração azul metálico iridescente e visivelmente bifurcada. A fêmea (foto ao lado) distingue-se por uma linha curva branca atrás dos olhos e pela ponta da cauda esbranquiçada. Sua mandíbula apresenta coloração mais discreta que a mandíbula do macho da espécie. A plumagem dos jovens da espécie são similares à da fêmea. Quando jovem, sua mandíbula apresenta-se escura. Os machos imaturos têm penas claras na garganta, peito e ventre, mescladas por penas verde azuladas. Possui vocalizações distintas para expressar ataque, arma etc, frequentemente entoadas em vôo.
O camaradinha que eu registrei é portador de leucismo, que já expliquei no primeiro artigo do que se trata. Agora vem o porquê eu vou postar a foto que fiz da espécie neste artigo: ela não ficou uma “foto para prêmio”, mas tem as principais características citadas nos dois artigos para a identificação de espécie, além de mostrar com clareza a mutação sofrida pelo indivíduo. Eis a imagem:
Nessa imagem temos detalhes de bico, olhos, cabeça, corpo e penas, que são as informações principais para identificação da espécie da ave com exatidão. Esse cidadão aí apareceu no meu quintal por diversas ocasiões, mas em quase todas elas eu estava sem câmera. Meu equipamento infelizmente “faleceu” e essa captura só foi possível graças a um grande amigo-irmão, o Roberto Pellizzer (já falei dele em um artigo). Ele me cedeu uma câmera super zoom para que eu pudesse fazer as fotos e um vídeo. Agradeço imensamente e eternamente a ele por isso!
Esse registro pelo ponto de vista da história da espécie é importante, pois é o primeiro no país com leucismo total, onde a anomalia genética toma conta de toda a plumagem e não de pequenas partes separadas. Hoje, ele figura na página inicial da espécie no site especializado Wikiaves, na parte que aborda as mutações que ela pode sofrer. Claro que nem tudo são flores nessa situação. Fiz outras imagens, mas com péssima qualidade (devido à falta de familiaridade com a super zoom) e que não continham nenhuma informação das citadas nos artigos para identificação de espécie nem de sua anomalia. Abaixo segue um exemplo do que falo.
Fiquei muito feliz com esse registro, tanto pela “raridade” quanto pelo fato da dificuldade em consegui-lo. Espero que tenha ficado bem claro nesses dois artigos o que faz com que uma foto se torne especial na identificação de uma espécie animal. Um grande abraço a todos e até o mês que vem com mais um artigo para a Photo Animal!
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