Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac (MS)
photoanimal@faunanews.com.br
Olá, tudo bem com você?
Há uns meses, eu estava fotografando aves em um parque aqui da minha cidade, Campo Grande (MS), e muitas fotos saíam “com defeito”, tipo quase sem foco, com algum obstáculo na frente do assunto registrado impossibilitando a visão completa da espécie e outros probleminhas. Mas na quase totalidade desses registros era possível saber qual a espécie animal fotografada, por detalhes específicos como plumagem, bico, pelos, patas e outros. E eu não queria descartar esses registros, até mesmo para analisar os erros que eu cometi e corrigi-los em ocasiões seguintes. Aí eu pensei: o que transforma uma foto em ideal para possibilitar a identificação de uma espécie animal? Por detrás dessa simplicidade em forma de pergunta, o leque de respostas é muito grande e vou tentar esmiuçar o tema em alguns artigos. Vamos lá!
Para começar a responder essa “simples” pergunta, precisamos de cara definir qual o caráter da fotografia, saber qual a sua finalidade. Mas por quê? Bom, aí já desdobramos a resposta em duas linhas iniciais: a que leva para o lado profissional da coisa e a linha da curiosidade, do amador. Mas lá na frente essas duas linhas irão se encontrar, em um ponto em comum. No decorrer do artigo, vou explicar esse encontro.
Partindo da segunda linha (a do curioso e amador), temos que considerar inicialmente os aspectos físicos da espécie a ser fotografada. Sabemos que todas as aves têm penas, muitos têm pelos e outros tantos, escamas. Esse é o ponto inicial. Esse agrupamento de características físicas tanto de aves quanto de outros animais se chama topografia animal. Essa classificação permite a cientistas a identificação correta de uma espécie e é importante quando há a necessidade de uma intervenção cirúrgica ou exames médicos. Focando nas aves, como dito antes, o corpo delas é coberto com penas. Estas não se distribuem uniformemente, agrupando-se em regiões mais ou menos evidentes e que, com mais ou menos variações, são comuns a todas as aves. Em conjunto com as partes nuas (sem penas, como bicos e patas) e outras características físicas (cor de olhos, tamanho de cabeça), esses grupos de penas formam o que se chama de topografia das aves.
Uma das características mais importantes para a identificação de espécies de aves é a coloração da plumagem e a respectiva distribuição das cores ao longo do corpo. Portanto, essa é a informação mais valiosa a ser registrada na hora da fotografia. Esse conjunto de fatores, reunidos na fotografia, colabora, e muito, para a correta identificação da espécie registrada.
Outro item que ajuda é o canto ou som emitido pela ave, já que muitas espécies só se diferenciam entre si por esse quesito (vide as Elaenia como exemplo). Mas é só uma complementação do assunto, já que estamos lidando com imagens apenas. Para outras espécies animais, como répteis e mamíferos, aconselho um bom estudo a respeito dessas categorias para saber quais são as características principais de cada grupo que facilitam a identificação correta da espécie através de fotos.
Existem disponíveis na internet aplicativos e sites específicos, em que é possível identificar com precisão espécies de aves através de fotos. Os mais usados atualmente são o Wikiaves e o app Merlin. Temos também os guias impressos de identificação que, a meu ver, é o melhor método para se aprender a conhecer e reconhecer espécies animais (sou “raiz” nesse quesito…).
Wikiaves
O Wikiaves é um site brasileiro de observadores de aves que tem como objetivo apoiar, divulgar e promover a atividade de observação de aves através de registros fotográficos e sonoros. Nele, são cadastrados fotos e sons de espécies de aves que ocorrem no Brasil. Compare suas fotos com as do site e busque registros semelhantes nos mapas disponíveis. Você pode incluir suas fotos e pedir a identificação para os membros mais experientes.
Merlin
Esse aplicativo gratuito foi criado e desenvolvido pela Universidade de Cornell, nos EUA. Por enquanto, esse app permite que você identifique aves das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Ele disponibiliza duas formas para identificar aves.
A primeira opção é por meio de uma série de perguntas, como: “quando você a viu?”, “qual o tamanho da ave?” e “quais eram suas principais cores?”. Ao fim do questionário, o app mostra uma série de espécies que podem fechar com as características informadas. Já a segunda opção é inserir uma foto da ave no aplicativo, que então fornece uma lista de espécies mais prováveis. O Merlin Bird ID é totalmente gratuito e está disponível para Android e IOS. Além disso, ele funciona sem internet! Demais, hein!?
Agora destrinchando a primeira linha (a profissional), precisamos saber se a fotografia vai ser utilizada em materiais de estudo a serem publicados, se vai ser usada para divulgação científica em apresentações ou até mesmo ser impressa em livros. Aí detalhes como nitidez, definição e outros precisam ser os melhores possíveis. Nesse caso, a quase totalidade de características físicas da espécie precisa ser capturada na imagem, o que é quase 100% do percurso para se identificar corretamente uma espécie animal.
Porém surge outra questão: quais características da espécie essa imagem deve conter? Continuando com o foco nas aves e complementando o item já descrito acima (sobre coloração de plumagem), acrescento: formatos do corpo, cabeça, patas e bico, além do formato e cor dos olhos. Quanto mais detalhes dessas partes sua imagem conter, maiores são as chances de conseguir uma identificação correta da espécie fotografada. E claro, a qualidade do material conseguido será alta. Ainda mais se a espécie registrada apresentar alguma anomalia, uma ou mais características que fogem do seu padrão normal. Dentre exemplos de anomalias, podemos citar o leucismo, o melanismo e o albinismo.
O leucismo é uma particularidade genética devido a um gene recessivo, que confere à cor branca a animais que geralmente são coloridos. Essa falta de pigmentação em partes do corpo pode ser parcial ou total. Isso pode ter fundo genético, metabólico ou até de fatores externos, como alimentação. O melanismo é o inverso do leucismo, já que o animal portador dessa anomalia produz melanina em excesso, pigmento que confere cor escura à pele e aos pelos. Já o albinismo é a ausência completa de melanina. O albinismo é uma doença genética hereditária, que faz com que as células do corpo não sejam capazes de produzir melanina, que quando está em falta resulta na ausência de cor na pele, olhos e pelos. Assim, a pele de um albino é geralmente branca, mais frágil e sensível ao sol, enquanto a cor dos olhos pode variar de azul muito claro quase transparente a castanho. Essas condições genéticas podem acometer tanto aves quanto mamíferos. São registros importantes do ponto de vista da Ciência, para estudos dessas mutações nesses animais.
Falando em mutações genéticas, alguns dias atrás tive a sorte de registrar uma ave com uma dessas anomalias. Ficou curioso para saber qual a espécie e qual a mutação registrada? Eu conto pra vocês, mas só no próximo artigo do mês que vem.
Até lá!
– Leia outros artigos da coluna PHOTO ANIMAL
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)