Fotografia de fauna na cidade de São Paulo. Será que é possível?

Olá, como vai? No último sábado, 25 de janeiro, foi o 471° aniversário da cidade de São Paulo, a maior metrópole do Brasil e lugar onde nasci, cresci e comecei minhas experiências com a fotografia de natureza.

Pelo fato de ser uma região altamente urbanizada, a palavra “biodiversidade” está longe de ser a primeira coisa que as pessoas associam à capital. E com razão. Ao mesmo tempo, já adianto ser mentira que só é possível encontrar pombos, ratos e animais domésticos pelas ruas paulistanas. Portanto, neste texto, tentarei discutir resumidamente a possibilidade de fotografar animais silvestres na “selva de pedra” e deixar algumas recomendações para quem tenha interesse em encarar o desafio.

Recentemente, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), com o apoio do Instituto Ampara Animal, lançou o Manual Cidade Amiga da Fauna, um guia educativo cujo objetivo é orientar a população e empreendedores de São Paulo a coexistir de forma saudável com a fauna do município. É um documento muito interessante que explicita a variedade e a importância dessas espécies (além dos problemas que elas enfrentam na cidade), sendo um ótimo meio para iniciar os estudos para fotografá-las.

Depois de escolher seu assunto, o próximo passo é definir a localização que você tentará encontrar o animal, sendo esse o principal segredo para fotografar fauna em São Paulo: saber onde procurar. A seguir, vou deixar uma pequena lista de lugares em que já fotografei (e obtive resultados positivos), assim como outros que ainda não tive a oportunidade de visitar, mas que têm uma boa reputação entre os fotógrafos e observadores de fauna.

Jardim Botânico

O Jardim Botânico de São Paulo, localizado na zona sul, próximo ao Zoológico de São Paulo, é uma das melhores alternativas para fotografar animais na capital. O fato de abrigar um fragmento de Mata Atlântica bem conservado e contar com uma grande diversidade de flora é um excelente atrativo para várias espécies da fauna. Os roteiros educativos do local também são bem interessantes, com museus, estufas e trilhas informativas.

Ao longo de várias visitas ao Jardim Botânico, já encontrei e fotografei bugio-ruivo (Alouatta guariba), sagui-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata), cuíca-de-três-listras (Monodelphis americana), tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), pequenos lagartos, cágados, alguns anfíbios e uma enorme variedade de aves – destaque para o tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) e a araponga (Procnias nudicollis).

Alguns dos poucos pontos negativos são o acesso (que não é tão simples por transporte público, mas nada que algumas baldeações não resolvam) e o ingresso (R$ 40 a inteira). Ao mesmo tempo, a entrada controlada de pessoas deixa o ambiente mais seguro para você e seu equipamento e evita tumultos que possam assustar os animais.

Parque Ecológico do Tietê

O Parque Ecológico do Tietê, localizado na zona leste relativamente próximo ao aeroporto de Guarulhos, é formado por uma extensa área arborizada que circunda um trecho do rio Tietê (não se preocupe, ele é mais limpo nesse pedaço). Ele conta com um Centro de Educação Ambiental e um Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras), além de diversas outras atrações que parques públicos costumam ter (trilhas, parquinhos, lanchonetes, pedalinhos etc.).

Para nós fotógrafos, o principal atrativo são os quatis-de-cauda-anelada (Nasua nasua), que povoam e “dominam” o parque, sendo praticamente garantido o encontro com grandes grupos desse bicho. Eles estão extremamente habituados com a presença do público e costumam se aproximar das pessoas passeando pelas trilhas. Isso é ótimo para fotografá-los, mas péssimo para os conflitos que acabam ocorrendo com os visitantes.

Além dos quatis, é comum encontrar macacos-prego (Sapajus nigritus), capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris), irerês (Dendrocygna viduata), biguás (Phalacrocorax brasilianus) e outras aves aquáticas. Também consegui escutar a araponga vocalizando lá, uma ave que não é tão comum, ainda mais em áreas urbanas.

A entrada é gratuita e o parque é bem movimentado e seguro (pelo menos aos finais de semana, quando o visitei), mas a localização pode ser um problema. Por estar bem no meio na zona leste da cidade, a distância acaba ficando um pouco grande para as pessoas que não moram na região (e a alternativa do transporte público não é tão rápida também).

Parque Villa Lobos

O Parque Villa Lobos, localizado na zona oeste, não é das melhores opções, mas também possibilita fotografar alguns animais. Como sua infraestrutura é voltada principalmente para esportes, como ciclismo, e passeios, grande parte da área é formada por gramados bem abertos e caminhos de asfalto. Mesmo assim, nos pequenos bosques arborizados é onde dá para encontrar alguns bichos.

Grande parte das fotos que tirei no Villa Lobos foram de aves, que é definitivamente o grupo mais abundante que reside no parque. Já registrei pica-pau-do-campo (Colaptes campestris), bandos de anus-brancos (Guira guira) e pretos (Crotophaga ani), alma-de-gato (Piaya cayana), sabiás-laranjeira (Turdus rufiventris), etc. Além dos inúmeros cachorros, o único mamífero que consegui observar lá foi o sagui-de-tufos-pretos.

A entrada também é gratuita e o acesso é bem fácil, tendo pontos de ônibus e uma estação de trem bem no portão do parque. Porém, há alguns anos os relatos de assaltos (principalmente em dias/horários mais vazios) começaram a aumentar e, desde então, não tive coragem de revisitar com minha câmera. Conheço pessoas que frequentam bastante o Villa Lobos e, segundo elas, parece que a questão da segurança está melhorando um pouco.

Parque Ibirapuera

O Ibirapuera, localizado no centro-sul de São Paulo, é talvez o parque mais famoso da cidade. Além das mesmas atrações que citei do Villa Lobos, você pode usufruir de grandes museus (incluindo o Museu de Arte Moderna e o Museu Afro Brasil), de um planetário, do pavilhão japonês e da OCA, uma obra de Oscar Niemeyer que também comporta exposições e eventos temporários.

Das vezes que fui fotografar a vida selvagem do parque, o que mais me chamou atenção foram as aves aquáticas que ficam em volta de um riacho e do grande lago. Observei uma enorme variedade de ardeídeos – garça-moura (Ardea cocoi), socozinho (Butorides striata), garça-branca-grande (Ardea alba) e pequena (Egretta thula) -, patos – marreca-toicinho (Anas bahamensis), irerê, pato-do-mato (Cairina moschata) – e até um mergulhão-caçador (Podilymbus podiceps), ave que só consegui ver uma vez na vida. Também é possível fotografar os saguis no Ibirapuera, além de gambás-de-orelha-preta (Didelphis aurita), cágados, gaviões e corujas.

Tendo uma localização estratégica, infraestrutura quase impecável, entrada gratuita e uma bela biodiversidade, não há tantos fatores que te desmotivem a visitar o Ibirapuera. A segurança dentro do parque também é boa, mas vale tomar um cuidado maior nos arredores que contam com alguns roubos no seu histórico.

Outras opções de localidades que ainda não tive a oportunidade de fotografar, mas que me foram recomendadas são: Parque Estadual do Jaraguá (zona norte), Parque do Carmo (zona leste) e Parque Anhanguera (zona oeste). O município também conta com a RPPN Sítio Curucutu, situada em meio à Mata Atlântica e que abriga uma rica biodiversidade desse bioma. Nesse caso, por ser uma reserva privada, o acesso também é mais controlado.

Quando pensamos em fotografia de vida selvagem no Brasil, nosso cérebro automaticamente a associa ao Pantanal e à Amazônia. Porém, o nosso país é tão rico em diversidade de fauna, que acaba sendo possível realizar essa atividade em praticamente qualquer lugar – até em uma das cidades mais populosas do mundo.

Aos paulistanos que enfrentam diariamente o caos urbano da capital, espero que este artigo sirva de inspiração para dar umas “escapadas” dessa vida maluca, nem que seja uma vez por mês. Seja a trabalho ou turismo, São Paulo também é uma das cidades mais visitadas do planeta, então deixo aqui aos “forasteiros” que gostam de ter contato com a natureza essas recomendações para serem encaixadas no roteiro de viagem.

Agradeço a leitura e até mais!

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