Fotografia de animais: por onde começar?

Olá, espero que esteja tudo em paz por aí nesse final de semestre! Quero conversar com você sobre como dar os primeiros passos na fotografia de vida selvagem, contando um pouquinho de como foi a minha experiência.

Tudo começou em 2017, no auge dos meus 16 anos. Estava fazendo uma trilha em uma viagem com amigos no interior de São Paulo e um deles tinha uma câmera DSLR. Durante a caminhada, avistamos um par de corujas-buraqueiras (Athene cunicularia) e esse amigo, que sempre soube que eu gostava de animais, me ofereceu seu equipamento para eu dar uma olhada. Como um amor à primeira vista, me encantei com a aproximação e os detalhes que a lente me possibilitou enxergar no bicho.

Um ano depois, eu tinha uma expedição científica planejada para o México e pensei que seria a oportunidade perfeita para fotografar a viagem. Conversei com meus pais, que me ajudaram a comprar minha primeira câmera, apenas uns meses antes de fazer as malas. Era uma superzoom da Canon (aquelas que possuem uma lente fixa), que me atendeu muito bem durante aquela época.

Depois da viagem, percebi que realmente me interessei pelo universo da fotografia e comecei a estudar o assunto, ainda de forma autodidata e pela internet mesmo – só cheguei a fazer um ou outro curso pequeno depois que entrei na faculdade. Em pouco tempo, comecei a ter resultados melhores e, em 2019, fui testar meu conhecimento no Pantanal.

Apesar de ter conseguido ótimos registros lá, comecei a notar que o meu equipamento estava me limitando em alguns aspectos – principalmente na velocidade do zoom e do foco, além da menor qualidade da imagem. Com isso, como já havia flertado com a ideia de ter a fotografia como algo a mais do que um simples hobby, fiz meu primeiro grande investimento em 2020: comprei minha primeira DSLR e lente teleobjetiva, que me acompanham (e não me limitam) até hoje.

Investimento inicial

Com isso, a primeira coisa que quero discutir é a questão do investimento inicial. Como todos sabemos, equipamento fotográfico não é nada barato, então aconselho analisar e comparar várias opções antes de tomar uma decisão. Além disso, cada pessoa tem um tamanho de bolso e diferentes prioridades no gasto de dinheiro.

Portanto, minha principal dica é: tenha muito claro seus objetivos, tanto a curto quanto a longo prazos. Se você pretende fotografar como hobby, para mostrar as fotos para seus amigos e família ou somente para registrar seus encontros com animais (algo muito comum para observadores de aves, por exemplo), não há nenhuma necessidade em gastar montanhas de dinheiro em equipamentos mais caros, considerando que um mais simples (como a superzoom que eu tive) dá conta do recado.

Porém, se você planeja mergulhar na fotografia de vida selvagem, tem vontade de conseguir os melhores resultados possíveis ou até deseja se profissionalizar na área, aconselho a já investir direto em uma câmera intermediária (conhecidas como câmeras de entrada) e em uma lente de boa qualidade para não cometer o mesmo “erro” que eu. Assim, você evita ter que ficar substituindo um equipamento que o está limitando, mesmo que demore um pouquinho mais para dominar o manuseio de algo ligeiramente mais complexo. Vale lembrar que equipamentos mais caros também são muito duradouros se cuidados da maneira correta, então a “facada” dói só no começo.

Onde encontrar animais para fotografar

Depois de adquirir sua máquina, está na hora de ir a campo para fotografar. Uma das perguntas que mais recebo é: onde eu vou encontrar os animais para fotografar? Isso vai depender, novamente, do perfil do fotógrafo. Pessoas que moram em regiões mais urbanizadas terão uma dificuldade um pouco maior em registrar uma biodiversidade mais rica e terão menos acesso à natureza diariamente. Enquanto isso, habitantes de zonas rurais ou mais isoladas acabam tendo uma vantagem logística nessa área da fotografia.

Apesar de não ter uma única resposta para essa pergunta, gosto de recomendar lugares onde os animais estejam minimamente acostumados à presença humana. Não estou falando de zoológicos ou animais domésticos, pois isso fugiria da fotografia de vida selvagem, mas de parques públicos, lagos no meio da cidade, jardins etc. Começar direto em ambientes mais inóspitos pode ser um pouco frustrante para iniciantes, tanto pela dificuldade em encontrar os bichos, quanto pela desconfiança e cautela deles na hora da aproximação. O ideal é ir treinando com animais que praticamente posam para a foto para dominar as técnicas e seu equipamento, até que você se sinta preparado para subir o nível de dificuldade, sempre de forma gradual.

Conheça os animais que pretende fotografar

Outra etapa indispensável pela qual você terá que passar para melhorar seus resultados é estudar os animais e os comportamentos deles. Como desde pequeno fui fascinado pela fauna e cursei biologia, isso nunca foi um empecilho para mim. Mas, acredito que existam pelo menos duas formas bem eficientes de aprender e fixar o conhecimento para registrar diferentes espécies.

A primeira é se planejar com antecedência. Se quiser fotografar um tamanduá-bandeira, estude tudo sobre a espécie antes de ir a campo… seu hábitat, período de maior atividade, se é agressivo ou não e qualquer outra característica que possa facilitar seu trabalho. Nesse caso, os tamanduás enxergam muito mal, mas têm ótimo olfato, portanto é recomendado se aproximar na direção contrária do vento e não se movimentar muito.

A outra maneira é a boa e velha tentativa e erro, que eu mesmo utilizo em algumas ocasiões. Às vezes, você encontrará um animal desconhecido ou que nunca tenha visto na natureza e perderá a chance de fotografá-lo. Ao invés de me irritar e desistir logo de cara, gosto de pesquisar sobre aquela espécie para descobrir como posso encontrá-la novamente ou para evitar cometer os mesmos erros que fizeram com que o bicho se assustasse.

Mantenha-se motivado

Depois de iniciado na fotografia de vida selvagem, o próximo desafio é continuar motivado e criativo. Isso também é muito pessoal para os fotógrafos, mas gosto de estabelecer pequenos e grandes objetivos.

Um dos maiores que tenho é fotografar todas as espécies de aves do Brasil, o qual vou atualizando em uma lista cada vez que encontro uma nova. Acredito que nunca vou conseguir completá-la (até porque muitas espécies estão, infelizmente, ameaçadas de extinção). Mas como disse, é uma forma de motivação. Também gosto de me desafiar a tirar fotos mais interessantes de bichos mais cotidianos (como bem-te-vis, sabiás etc.) ou de outros que eu já tenha registrado várias vezes.

Se você estava pensando em adentrar o universo da fotografia de fauna, espero que este texto tenha ajudado. Caso você já tenha iniciado, também espero que tenha se identificado com algumas das minhas experiências.

Muito obrigado pela leitura. Semana que vem, vamos discutir mais profundamente sobre como a biologia pode ajudar os fotógrafos dessa área tão interessante. Um abraço!

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