Fotografando o tuiuiú

Olá, como vai? Retomando nossa série de como fotografar importantes espécies de animais brasileiros, decidi abordar neste texto a ave símbolo do bioma que não sai das manchetes nas últimas semanas, o tuiuiú (Jabiru mycteria). Infelizmente, o Pantanal está mais uma vez enfrentando incêndios enormes que devastam seus ecossistemas e afetam diretamente a vida selvagem que os habitam. Portanto, o objetivo aqui é manter a esperança e nos preparar para o momento em que for possível fotografar os tuiuiús com tranquilidade novamente, fora de uma tragédia como essa.

Tuiuiú

O tuiuiú, também conhecido como jabiru (ou jaburu), ocorre desde a região norte até os estados de São Paulo e Bahia, além de ter raros registros nos três Estados da região Sul. Fora do Brasil, também pode ser encontrado do México até o Paraguai, Uruguai e o norte da Argentina. Também presente em seu binômio científico, o nome “jabiru” tem origem do tupi e significa “pescoço inchado”.

Essa espécie de cegonha pode chegar a 1,60 metro de altura, três metros de envergadura e pesar cerca de oito quilos, sendo a maior ave voadora do Pantanal. Suas principais características são o pescoço, papo e rosto pretos e sem penas, assim como seu gigantesco e poderoso bico de 30 centímetros. Uma mancha vermelha-viva em seu papo também faz parte de sua identidade e ajuda a diferenciar o tuiuiú de seu “primo”, o cabeça-seca (Mycteria americana). Há dimorfismo sexual, no qual os machos são um pouco maiores do que as fêmeas.

Sua dieta consiste em peixes, moluscos, répteis (lagartos e serpentes), insetos e pequenos mamíferos, sendo assim uma ave bem generalista. Além disso, há registros de tuiuiús se alimentando de peixes mortos durante os períodos de seca, principalmente no Pantanal.

Na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), o tuiuiú está classificado como “pouco preocupante”, com tendências populacionais desconhecidas (dados atualizados pela última vez em 2019).

Localização

Como dito no começo do artigo, o tuiuiú é a ave símbolo do Pantanal, então não é novidade nenhuma que a maior concentração de seus indivíduos se encontra nesse bioma. Mais especificamente, cerca de 50% de toda sua população (isso inclui os tuiuiús “estrangeiros”) está distribuída entre o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. Portanto, dou 99% de garantia que, se você pisar em um desses Estados, conseguirá achar pelo menos um modelo para fotografar.

Além disso, a Área de Proteção Ambiental Tanquã (em Piracicaba, no interior paulista) é um ponto que os tuiuiús também visitam com uma certa frequência, tendo vários registros espalhados em diferentes plataformas de observação de aves. É uma boa alternativa (e talvez até mais acessível, dependendo de onde você morar) em relação ao Pantanal.

Essas cegonhas costumam ser encontradas próximas a rios e lagos, assim como em regiões pantanosas e alagadas, onde gostam de pescar. Geralmente, elas preferem essas áreas com árvores bem esparsas, sendo que você raramente verá um tuiuiú em regiões de mata bem fechada.

Também é fácil encontrar e fotografar essas aves no céu, por conta do seu tamanho. Além de realizar alguns movimentos migratórios, é comum observar elas em voo no final da tarde, momento em que estão retornando aos seus ninhos e locais de repouso para passar a noite.

Equipamento

Como de costume para as aves, uma lente teleobjetiva é a melhor escolha para registrar tuiuiús, evitando a necessidade de se aproximar tanto. Porém, também é possível capturar imagens mais abertas (que incluam o ambiente ou um grupo de indivíduos) com lentes grande-angulares, dando um foco maior ao contexto da foto ao invés do próprio assunto.

Além disso, lembre-se dos acessórios que podemos utilizar em algumas situações, como o parassol para evitar o lens flare e os extensores, caso seja necessário um alcance maior. Também temos os tripés, mas não são tão essenciais nesse caso (e até praticamente inúteis, caso esteja fotografando de cima de um barco no Pantanal).

Técnicas

Não há muito segredo em relação às configurações utilizadas para registrar tuiuiús. Priorize deixar o ISO baixo e expor corretamente a imagem, deixando o animal nítido com o auxílio do modo de foco AI-Servo/AF-Continuous. Se conseguir se manter no nível dos olhos da cegonha, melhor ainda.

Para fotos desse animal em voo, não é necessário aumentar demais a velocidade do obturador, tendo em vista que ele não é tão ágil e seu bater de asas é mais lento, sendo fácil de acompanhá-lo no céu com a câmera. Algo em torno de 1/1000s ou um pouco mais rápido que isso deve dar conta de congelar a maioria dos movimentos. Lembre-se de utilizar o modo burst de disparo em conjunto para garantir boas sequências de imagens.

Tente procurar planos de fundo mais interessantes (algo que não falta no Pantanal), tanto para retratos quanto para fotos que incluam a paisagem. O verde da vegetação é uma cor que contrasta bem com a mancha vermelha do seu pescoço, sendo uma boa escolha para os closes (foto abaixo). Os rios e lagos, árvores com ninhos, cenas com bandos de indivíduos e até o nascer/pôr-do-sol também são elementos que ajudam a contar uma história sobre a biologia e o hábitat dos tuiuiús.

Dicas extras

Algo muito comum na observação e na fotografia de aves não se aplica para os tuiuiús: o playback. Essa espécie não canta e nem vocaliza para demarcar território e se comunicar. Para substituir isso, ela emite sons batendo seu bico com diferentes padrões e intensidades. Apesar de ser uma ave bem chamativa, essa informação pode ser útil caso escute um indivíduo que estava passando despercebido.

Os ninhos dos tuiuiús são extremamente característicos, sendo as maiores estruturas construídas por aves de todo o Pantanal. Normalmente, são estabelecidos em árvores bem altas e podem atingir quase dois metros de diâmetro e 70 centímetros de espessura, sendo frequentemente reutilizados no próximo período de reprodução. Também é comum encontrar outras aves utilizando esses ninhos para seu benefício, até mesmo simultaneamente aos tuiuiús, como diferentes espécies de garças e a caturrita (Myiopsitta monachus).

Continuando com o tópico da reprodução, ela ocorre a partir do início da seca no Pantanal, quando as águas baixam e as presas dos tuiuiús ficam mais expostas e vulneráveis. Algo para se ter em mente caso esteja interessado em fotografar ninhos e filhotes (sempre com cuidado e respeito aos limites dos bichos).

Espero que este texto tenha ajudado e, mais ainda, dado um pouquinho de visibilidade para uma das centenas de espécies que estão sofrendo com o fogo no Pantanal. Vamos torcer para que esses animais consigam resistir e se recuperar, mais uma vez, para que possamos voltar a fotografar a beleza deles vivendo de forma saudável e em paz! Até a semana que vem!

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