Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento animal, além de divulgação científica.
Olá, tudo bem? Na semana passada, abordamos o triângulo da exposição, formado por três configurações essenciais para a fotografia :abertura do diafragma, velocidade do obturador e o ISO. Porém, ainda há uma “quarta ponta” secreta do triângulo que talvez tenha a mesma importância de todas as outras, já que é a principal responsável pela nitidez das fotos. Estou falando do foco, tema deste artigo.
Antes de tudo, devo esclarecer que o foco só pode ser alcançado em situações que tenham qualquer contraste (de luz, cores, tonalidades etc.), mesmo que seja mínimo. Caso contrário, seu equipamento tentará infinitamente encontrar, sem sucesso, um ponto de foco (ao apontar a câmera para uma parede inteiramente branca e igualmente iluminada, por exemplo, a câmera terá muita dificuldade em determinar uma área de nitidez).
Basicamente, existem dois tipos principais de foco na fotografia: o manual e o automático.
O foco manual, como o próprio nome diz, é controlado manualmente pelo fotógrafo através do anel de foco das lentes, possibilitando ajustes mais minuciosos e precisos.
No modo automático, a câmera é a responsável por determinar o foco com base no que ela está vendo dentro do frame e no que você está apontando para ela (o anel de foco das lentes fica desativado). A princípio, parece que este modo não é muito confiável e que a câmera pode “endoidar” e focar em objetos que não são do nosso interesse (como a vegetação ou pedras, ao invés do próprio animal). Porém, existe uma série de outras configurações que nos ajudam a impedir que isso aconteça.
Primeiro, é possível selecionar uma área de foco personalizada. Diferentes modelos de câmeras possuem diferentes quantidades de pontos de foco que preenchem o frame. No menu, você consegue selecionar individualmente os pontos onde você quer manter o foco, dando prioridade para alguma área desejada (como selecionar os pontos do centro para manter o foco nele ou pontos das extremidades para alguma composição mais planejada).
Além disso, existem três “submodos” do foco automático. São eles: o One Shot/AF-S, o AI Servo/AF-C e o AI Focus/AF-A (Canon/Nikon e outras marcas, respectivamente).
No modo One Shot ou AF-S (significa autofoco único, em inglês), ao apertar o botão do obturador até a metade, o foco será travado no plano escolhido até que a foto seja tirada ou que o botão seja solto, possibilitando mexer a câmera para ajustar o enquadramento sem perder a nitidez estabelecida no ponto inicial. Este modo é ótimo para situações e assuntos mais estáticos como paisagens, objetos e retratos.
Já no modo AI Servo ou AF-C (significa autofoco contínuo), pressionar o obturador até a metade faz com que o foco continue seguindo o assunto principal da foto, mesmo que ele se mexa de posição. Isso é feito através de uma inteligência artificial (baseada justamente nas diferenças de contraste e movimento) que, nas câmeras modernas, costuma ser bastante eficiente na maioria das vezes. Também é legal utilizar o modo de disparos contínuos da câmera em conjunto com esse tipo de foco, o que possibilita a captura de grandes sequências de fotos de alguma ação, frame a frame.
Por fim, no modo AI Focus ou AF-A (parece pleonasmo, e até acho que é mesmo, mas significa autofoco automático) a câmera tenta identificar a situação e escolher o melhor modo de foco entre os dois anteriores (One Shot/AF-S e AI Servo/AF-C), também alternando entre eles caso necessário.
Tendo em vista todas essas diferentes funções, vamos ver quais delas são mais eficientes em determinadas situações na fotografia de vida selvagem.
Começando pelo foco manual, acredito que esse seja o modo mais raro de ser utilizado na fotografia de vida selvagem (com exceção da macrofotografia, que basicamente depende dessa função para exibir bons resultados). Na maioria dos encontros com os animais, temos pouquíssimo tempo para realizar ajustes no equipamento, portanto ficar rodando milimetricamente o anel de foco da lente até alcançar uma boa nitidez pode privar você de muitas oportunidades. Mesmo assim, o foco manual consegue ser útil em algumas ocasiões específicas.
Como citado anteriormente, em situações de quase nenhum contraste a câmera não consegue focar automaticamente com facilidade. É aí que o foco manual entra em cena. Na natureza, ele é muito útil em ambientes de baixa luminosidade (como matas bem fechadas) e para conseguir focar animais que se camuflam com o plano de fundo. Além disso, através do foco manual é possível escolher alguma parte do corpo do animal específica que seja de maior interesse para a foto (isso é muito mais fácil em bichos que estão parados, utilizar foco manual com assuntos em movimento é quase torturante).
Quanto aos modos de foco automático, o AI Servo ou AF-C é o melhor amigo do fotógrafo de fauna, justamente por conseguir manter o foco de forma independente em assuntos que estão em movimento – algo muito recorrente nessa área. Em algumas câmeras um pouco mais completas, também é possível personalizar esse modo para que o foco sempre siga os olhos. Apesar disso ter sido inicialmente desenvolvido para funcionar com pessoas, também dá certo com os animais. Resumindo, o AI Servo (AF-C) é a configuração padrão para andar por aí enquanto procura os bichos, já que ela consegue uma ótima nitidez na maioria dos casos, além de ser um método de foco extremamente ágil.
As poucas situações em que o AI Servo (AF-C) pode se tornar uma desvantagem são durante ventanias, com rios e cachoeiras de fundo e com grupos de vários animais ao mesmo tempo (o foco pode ficar alternando entre o assunto principal e a vegetação balançando, o fluxo da água ou entre os outros indivíduos do grupo, por conta do movimento desses fatores).
Porém, o modo One Shot ou AF-S ganha a minha preferência para a realização de retratos, pois me oferece um maior controle em relação à área onde quero focar. Em situações em que o animal está parado, calmo e você percebe que terá um pouco mais de tempo para fotografá-lo, é interessante testar esse modo, mesmo que tenha que fazer várias fotos com focos diferentes até gostar de uma delas.
Na minha opinião, o modo AI Focus (AF-A) é o pior de todos eles, pois tira completamente o controle do fotógrafo sobre onde (e como) o foco será estabelecido, deixando essa decisão para um pedaço de tecnologia. Nas poucas vezes que o experimentei, minha câmera ficou muito perdida e quase não consegui registros que tenham me agradado. Portanto, prefiro ter que pensar e escolher o tipo de foco sozinho. Vivo bem sem o AI Focus até hoje.
Antes de finalizar, quero retomar brevemente a relação do foco com a abertura do diafragma (determinada pelas lentes), que já comentei em alguns outros artigos da coluna. Quanto maior a abertura que estiver utilizando, menor será a profundidade de campo da imagem, ou seja, menor é a quantidade de planos que estarão em foco (o que resulta em planos de fundo e de frente desfocados), e vice-versa. Uma analogia que gosto de utilizar para facilitar esse aprendizado é um doce mil-folhas, no qual cada folha representa um plano de foco (logo, quanto maior a abertura, menor é a quantidade de folhas do doce que você consegue enxergar com nitidez). A foto de capa deste artigo foi feita com uma abertura grande para desfocar o boi de fundo, por exemplo.
Também devo lembrar que as lentes possuem uma distância mínima de focagem, isto é, a distância que você deve ficar do objeto para que sua lente consiga enxergá-lo com clareza. Assim como nossos olhos, a maioria das lentes não são capazes de focar em coisas extremamente próximas a elas.
Espero que o texto de hoje tenha ficado bem nítido. Agradeço a sua companhia e espero por você ainda mais focado(a) na semana que vem, para ler algumas dicas sobre como começar e progredir na fotografia de vida selvagem com ênfase nos investimentos e estudos necessários. Um abraço e até lá!
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento […]
