Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
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Toda passarinhada é gratificante e sempre traz aprendizados. Estava chegando o feriado de Carnaval em 2019 e estávamos decidindo qual seria o local em que iríamos passarinhar. Mil dúvidas… Queríamos sair do estado de São Paulo para conhecer novos locais e explorar outros biomas.
Depois de muitas pesquisas, resolvemos ir para Alta Floresta (MT), na Fazenda Anacã.
Tínhamos pouco tempo para planejar a viagem e foi um corre-corre. Convidamos nossa amiga Tânia, que aceitou de imediato o convite. Bora reservar pousada, passagem de avião e organizar todos os itens para uma boa passarinhada.
No aeroporto de Alta Floresta, fomos recepcionados pelo Fernão, proprietário da pousada, que nos recebeu com muito carinho e nos transportou até a fazenda.
Nos surpreendemos quando chegamos na pousada: muito aconchegante, com quartos espaçosos e limpos e ampla área social, muito bem decorada com objetos da região. Os jardins estavam muito bem cuidados, um primor. Outra grande surpresa foram as refeições, elaboradas com muito carinho pela Viviana, esposa do Fernão, uma grande chefe.
Consciência ecológica
A pecuária é a principal atividade da Fazenda Anacã e, como grande parte das fazendas de criação de gado, tinha sido transformada quase que totalmente em pastos pelos antigos proprietários.
Com muita dedicação dos atuais proprietários, a fazenda vem sendo revitalizada. Foram plantadas 30 mil mudas de arvores, criando-se corredores ecológicos para ligar os fragmentos de mata da propriedade. As áreas de nascentes e de cursos d’agua foram protegidos para que o gado não tenha acesso e instaladas caixas-ninhos, que são utilizadas pelas aves como dormitório e para nidificação.
Hoje, esses corredores ecológicos já são uma realidade e são observados diversos animais: tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, anta, quati, jaguatirica, cateto, ariranha, irara, macaco-prego, mico-emiliae, esquilo e capivara.
Passarinhadas
A fazenda conta com o guia local, Gilberto, que nos conduziu nas passarinhadas na Anacã e nas fazendas vizinhas.
Uma das passarinhadas, foi com barco em um local muito interessante. Uma área totalmente alagada, mas que durante o inverno fica seca, servindo de estrada para carros e caminhões. Durante a época das chuvas, esse lugar se torna um santuário para as aves. Várias ciganas vão para esse local nessa época para procriação e depois desaparecem. Um dos nossos objetivos ali era registrar o socoí-zigue-zague. O danado vocalizou várias vezes, mas não quis posar para nossas fotos.
Foram três dias de passarinhadas em que destacamos alguns registros: coruja-de-crista, suindara, mãe-da-lua-gigante, Macuru-de-testa-branca, limpa-folha-do-buriti, ipecuá, papagaio-campeiro, polícia-do-mato, chora-chuva-de-cara-branca, arapaçu-elegante, arapaçu-de-listas-brancas-do-leste, cigana, caçula, tem-tem-de-dragona-branca, choquinha-estriada-da-amazônia, papa-formiga-de-sobrancelha, maracanã-guaçu, anacã, saí-de-mascará-preta, saíra-de-cabeça-azul, tiriba-do-madeira, dentre outras.
Aprendizado
Nessa viagem, aprendemos que com esforço, investimento e dedicação é possível minimizar os efeitos da degradação na natureza com resultados gratificantes.
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