Bióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
transportes@faunanews.com.br
Geralmente, pensamos aqui nos impactos que nós humanos e as nossas estradas causam sobre a fauna. Mas e se hoje a reflexão fosse o contrário? Qual o impacto que a fauna e as estradas podem causar aos seres humanos?
Um estudo publicado semana passada investigou o efeito de estímulos auditivos urbanos versus estímulos auditivos da natureza no humor, na paranoia e na cognição de seres humanos. Não surpreendentemente, o estudo encontrou que o som de aves cantando foi capaz de reduzir sintomas de depressão e ansiedade, enquanto o som do tráfego de veículos agravou os estados de depressão.
Desde 2007, a maior parte da população humana vive em áreas urbanas e a relação entre urbanização e doenças mentais já foi comprovada. Não é de hoje que a nossa saúde mental vem piorando. Entretanto, a fauna urbana, muitas vezes esquecida e negligenciada, pode ser nossa aliada, como um alento para o nosso bem-estar.
Riscos para os animais
Contudo, essa fauna também está exposta aos riscos de colisões com veículos, já que fatalidades de fauna não são exclusividade de rodovias que cortam grandes áreas de habitat conservado e longe das cidades. É o que mostra um outro estudo que identificou locais de agregação de fatalidades de capivaras em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Durante 13 anos, eles registraram 125 atropelamentos desses mamíferos na cidade. Os pesquisadores encontraram uma relação positiva entre as colisões e a proximidade para corpos d’água e parques, destacando essas regiões como prioridade na mitigação dessas fatalidades. Estudos como esse podem ajudar no planejamento urbano a fim de compatibilizar a persistência dessas populações silvestres com a nossa existência dentro de grandes centros urbanos.
A coexistência entre a fauna e os seres humanos em áreas urbanas, porém, deve ser estudada e planejada de maneira a reduzir os conflitos desse encontro, já que nem sempre ele será benéfico. A proximidade entre capivaras e cidades, por exemplo, aumenta os riscos de acidentes graves e com prejuízos econômicos e à saúde humana. Além disso, esses animais podem estar associados com maior proliferação de doenças, como a febre maculosa e a leptospirose.
Embora o convívio entre seres humanos e fauna nos traga inúmeros desafios, parece claro, inclusive para nossa saúde mental, que devemos cada vez mais buscar compatibilizá-lo de maneira saudável para ambos os lados.
– Leia outros artigos da coluna FAUNA E TRANSPORTES
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)