Fauna marinha: os impactos da dragagem no bentos

A dragagem consiste na limpeza, desassoreamento, alargamento, desobstrução, remoção, derrocamento ou escavação de material do fundo de mares, baías e canais. Ela pode ser de implantação/aprofundamento ou de manutenção. Ambas têm o objetivo de garantir a profundidade necessária para a segurança da navegação, execução de manobras de navios e operação portuária.

A dragagem é permitida via licenciamento ambiental pelos órgãos ambientais competentes, pois sua atividade gera impactos significativos ao meio ambiente e eles precisam ser acompanhados e monitorados. A Licença de Instalação nº 1144/2016, emitida pelo Ibama, prevê a dragagem de aprofundamento para o porto de Paranaguá (PR) com várias condicionantes específicas, dentre elas a condicionante 2.8 – Execução do Programa de Monitoramento da Biota Aquática e Identificação de Bioindicadores.

Impactos nos diferentes bentos

Esse monitoramento inclui diversos grupos taxonômicos que podem ser impactados pela dragagem; como o bentos. O bentos compreende os organismos que vivem associados a algum tipo de substrato, seja inconsolidado ou consolidado. Eles são responsáveis pela ciclagem de nutrientes, composição na teia trófica e construção de hábitats.

O bentos de substrato inconsolidado compreende os animais que vivem na areia ou lama, como os poliquetas (Polychaeta), também chamadas de minhocas marinhas.

Com a retirada do sedimento pela dragagem, muitas espécies de bentos inconsolidado são retiradas juntas e acabam morrendo, alterando a ecologia do local. E alguns metros já fazem a diferença para espécies tão pequenas!

Em um estudo realizado no litoral do Paraná (Negrello-Filho et al., 2018), foi registrado que a riqueza (quantidade de espécies) no canal de navegação é bem menor se comparada à riqueza dos pontos amostrados em áreas paralelas. Outro impacto da dragagem seria o deslocamento de espécies para outros lugares (por exemplo espécies de sedimento fino, como a lama, irem para a areia, sedimento mais grosso), podendo morrer ou colonizar outros ambientes se forem espécies com maior capacidade de adaptação e/ou exóticas.

Já o bentos de substrato consolidado compreende os animais que vivem associados a um substrato duro, como os corais (Anthozoa, Hexacoralli – foto no alto da página). Eles podem ser afetados pelo aumento da turbidez e da sedimentação gerado pela dragagem, pois suas algas simbiontes necessitam de luminosidade adequada para realizar a fotossíntese. Essa prática também causa sufocamento e soterramento dos pólipos e reduz o recrutamento, a sobrevivência e o assentamento das larvas (Erftemeijer et al., 2012).

Uma medida de mitigação adotada no porto de Paranaguá é a janela ambiental. Nos períodos em que há maior fertilização das espécies e disponibilização de novos recrutas (primavera e verão) há trechos não dragados ou dragados em menor frequência. No entanto, é imprescindível o contínuo monitoramento ambiental dos possíveis impactos e da avaliação de formas como mitigá-los.

Referências
– Negrello-Filho, O. A., Ugaz-Codina, J. C., Oliveira, L. H. S., Souza, M. C., Angulo, R. J. (2018). Subtidal soft sediments of the Paranaguá Bay inlet: mapping habitats and species distribution at a landscape scale. Brazilian Journal of Oceanography, 66(3):255-266. https://doi.org/10.1590/S1679-875920180192406603
– Paul L.A. Erftemeijer, Bernhard Riegl, Bert W. Hoeksema, Peter A. Todd. (2012). Environmental impacts of dredging and other sediment disturbances on corals: A review, Marine Pollution Bulletin, 64 (9): 1737-1765. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2012.05.008

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