Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente trabalha junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma universidade
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As queimadas apresentam uma grande ameaça à flora e à fauna de algumas regiões durante períodos extensos de seca e calor. Mesmo em regiões onde são importantes para a dinâmica do ambiente, eventos de incêndios, quando mais intensos, podem impactar negativamente as plantas e os animais. No Estado de São Paulo, existe um plano de ação de combate, a Operação Corta Fogo, que tem como objetivo reduzir os incêndios e as suas consequências.
Como demonstrado em um estudo, a dinâmica dos incêndios em áreas naturais gira em círculo: as queimadas provocam mais seca, o que gera maior ocorrência de queimadas. Assim, se mais casos ocorrem, a quantidade de fumaça aumenta e a de chuva diminui. Além disso, como consequência desses incêndios, as áreas florestais diminuem e as áreas abertas aumentam, tornando o ambiente mais propício a novas queimadas.
E o que as queimadas têm a ver com as rodovias?
As rodovias geram impactos diretos e indiretos ao ambiente. Um dos possíveis impactos é aumentar os riscos de incêndios. O potencial para ocorrência de queimadas pode ser elevado nas rodovias por conta do aumento do desmatamento e da vegetação seca ao redor das estradas, acompanhados de longos períodos sem chuva. Ainda, a dispersão de gramíneas invasoras pela beira das rodovias pode aumentar a ocorrência de ocorrências com fogo. Além disso, as bitucas de cigarros jogadas pelos ocupantes de veículos e o vento gerado pelo movimento dos carros podem ampliar a quantidade e/ou a força das queimadas.
Mas o aumento que as rodovias proporcionam na quantidade de casos de queimadas tem algum efeito no atropelamento de fauna?
Entre as consequências desses incêndios está o aumento do número de acidentes, principalmente pelo fato de a fumaça atrapalhar a visibilidade dos usuários das rodovias. Além disso, os animais precisam buscar locais seguros para se proteger durante o fogo e, também, para obter recursos após o fim da queimada. Na busca por esses locais seguros, as estradas, por não estarem em chamas, podem parecer um “refúgio” ou precisam ser transpostas para que se encontre abrigo na outra margem. Nesse contexto, as rodovias podem ser armadilhas tão fatais quanto as queimadas.
Uma série de reportagens tem anunciado o aumento no número de atropelamentos de felinos, sugerindo que esses animais têm sido atingidos por veículos enquanto fugiam das queimadas ao redor das rodovias.
Sem dúvida é uma questão interessante a ser investigada. Será que diminuir os incêndios indesejados poderia diminuir a ocorrência de atropelamentos?