Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia na mesma universidade, atuando no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Você muda o seu comportamento quando vê uma placa de ocorrência de animais silvestres nas estradas? Muito provavelmente não. No Brasil, as placas mais comuns com essa finalidade são aquelas placas de advertência que apresentam a silhueta de um cervo. Mesmo se localizadas em locais estratégicos, os motoristas já se acostumaram a vê-las e não há porque acreditar que eles se importariam com elas. Na literatura de Ecologia de Rodovias, há uma forte discussão sobre a ineficiência desse tipo de placa mesmo em outros países do mundo, como Canadá e Estados Unidos.
Porém, não é toda a placa que não funciona e nem em todo lugar. Você certamente não muda o seu comportamento para a placa oficial de animais silvestres que mencionei acima, mas será que você prestaria mais atenção se você estivesse visitando um parque nacional e avistasse uma placa dizendo que naquele ponto há maior risco de atropelamento de animais silvestres?
Um estudo publicado neste ano por pesquisadores da África do Sul mostra que placas com avisos mais explícitos e localizadas em uma estrada dentro de uma área protegida podem ser efetivas para reduzir os atropelamentos. Os pesquisadores fizeram um experimento com uma falsa serpente e observaram o comportamento de mais de seis mil motoristas com e sem a presença de placas sinalizadoras de locais com maior risco de atropelamento. O experimento foi realizado em uma estrada dentro de uma das áreas protegidas mais visitadas da África do Sul, o Pilanesberg National Park.
O primeiro resultado demonstrado pelo experimento é que a probabilidade de atropelar a serpente foi maior se o motorista era um turista (comparado aos funcionários do parque) ou se o motorista estava acima do limite de velocidade (independentemente de ser turista ou funcionário). Além disso, 37% dos motoristas mudaram o seu comportamento ao volante quando avistaram a falsa serpente (para evitar atropelá-la). Ainda mais interessante foi o resultado na presença das placas sinalizadoras: 61% dos motoristas mudaram o comportamento ao avistarem a serpente. A mudança de comportamento poderia ser reduzir a velocidade, parar o veículo ou desviar. Entre esses comportamentos, desviar foi mais efetivo em reduzir os atropelamentos em comparação a apenas reduzir a velocidade ou parar o veículo. Claro, estamos falando de um experimento com uma serpente falsa, que ficava imóvel. Talvez na vida real, reduzir ou parar o veículo também sejam comportamentos que diminuiriam as mortes.
Os pesquisadores usaram placas dizendo que se tratava de uma área de risco de atropelamento e elas eram de diferentes tipos. Eles também queriam comparar se uma placa com uma serpente era mais ou menos efetiva que uma placa com um guepardo e se a foto do animal era ou não melhor que apenas a silhueta. Esses animais foram escolhidos porque há evidências, a partir de entrevistas, mostrando que os guepardos seriam os animais que mais estimulariam a mudança de comportamento de motoristas, enquanto que as serpentes são as que menos influenciariam.
A conclusão foi que quando as placas estavam distantes (um quilômetro) da falsa serpente não houve diferença na efetividade entre os tipos de animais. Entretanto, quando as placas estavam mais próximas (100 metros), a placa com a serpente foi mais efetiva em reduzir os atropelamentos do que a com o guepardo.
Placas mais criativas ou que indiquem áreas de risco podem então ser mais interessantes e efetivas, pelo menos em áreas protegidas. No Brasil, já há uma tentativa em diversas regiões como nos casos da Reserva Biológica Sooretama (ES), do Parque Nacional Chapada dos Guimarães (MT), na Estação Ecológica Águas Emendadas (DF), no Parque Estadual do Rio Preto (MG), entre outras. Ainda não sabemos se elas de fato estão fazendo diferença para reduzir a mortalidade, mas já sabemos que têm potencial para fazer.
Por quanto tempo funcionam, já que pode ocorrer a habituação do motorista, também não sabemos. Placas são a estratégia mais recorrente de mitigação aplicada em estradas brasileiras, mas desconhecemos qualquer trabalho experimental, em qualquer contexto, que tenha avaliado sua efetividade. Vale a pena investir nelas? Por quê?