
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
andreaskindel@faunanews.com.br
…salvar pelo menos um animal silvestre em alguma rodovia brasileira!
Todo final de ano refletimos sobre o que fizemos ou deixamos de fazer. Embora eu reconheça que olhar para o passado é uma forma de aprender com erros e acertos, e ainda que eu tenha inúmeras razões para comemorar o ano de 2015 – o raro fato, na história brasileira, envolvendo as prisões de inúmeros corruptores ou o fato de estar escrevendo uma coluna quinzenal no Fauna News, só para citar dois exemplos –, eu gosto de olhar para frente, de sonhar, de me desafiar.
Como pesquisador, estou acostumado a compilar o número de mortes da nossa fauna nas rodovias, identificar os seus padrões espaciais e temporais, buscar eventuais explicações para esses padrões ou então predizê-los na ausência de observações. Não raro busco oportunidades para influenciar decisões que possam levar a redução dessas mortes e talvez até tenha sido bem-sucedido em algumas dessas oportunidades.
Mas quantos indivíduos efetivamente as minhas ações salvaram? Será que salvaram algum? Será que posso fazer mais para salvar algum ou muitos? Com a quantidade de informações que detenho, muito provavelmente sim!
Foi seguindo essa sequência de raciocínios que me dei conta que deveríamos buscar outro tipo de estatística – quantos deixaram de morrer – e divulgá-la com o mesmo alarde com que divulgamos as mortes, numa mensagem de esperança. Afinal, existe outra razão para comemorarmos a virada do ano que não a expectativa por algo melhor?
A meta de salvar animais nas estradas brasileiras pode ser alcançada de várias formas. Por exemplo, adotando uma direção mais defensiva e alerta às eventuais travessias de animais, permitindo evitar a colisão. Ou então protegendo uma travessia mais lenta, chamando a atenção dos motoristas para o ilustre transeunte. Ou até mesmo dando uma mãozinha, transportando o animal para o outro lado. Melhor ainda se tivermos oportunidade, como membros de ONG, Ministério Público, consultores ou analistas ambientais, empreendedores, concessionários de rodovias, de exigir ou implantar medidas de mitigação que não salvem apenas um indivíduo, mas todos os que tentarem atravessar um determinado ponto da estrada.
Resumindo, em 2016 eu quero salvar e quero saber quantos consegui salvar. E vou adorar contar isso para você!
Quem sabe você não compartilha essa meta comigo e me escreve sobre suas conquistas. Nossas poucas histórias poderão ser o início de uma outra estatística: uma estatística que contabiliza os sucessos e não só os fracassos.
Um baita 2016 para todos!!!