Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Apesar do gif tendencioso ao lado, este artigo não é para alertar sobre a força de um jacaré ou para criar uma imagem de perigo. Pelo contrário, a intenção é alertar que esses animais estão dividindo o espaço conosco e devemos demonstrar empatia, respeito e cuidado para que eles não entrem na estatística de mortalidade de fauna atropelada.
Já comentamos sobre a migração de animais em rodovias, mas poucas pessoas sabem que além dos caranguejos e anfíbios (os casos mais conhecidos), os jacarés também deslocam-se em busca de ambientes com melhores condições. É possível observar esse deslocamento pelas fêmeas junto com os seus filhotes (o cuidado parental de jacarés é bem minucioso e pode durar mais de ano). Ou então, indivíduos solitários em busca de novos territórios e recursos acabam atravessando estradas.
Tenho observado na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) SESC Pantanal, em Barão de Melgaço (MT), o Jacaré-do-Pantanal (Caiman yacare) utilizando estradas como habitat (outros animais também utilizam estradas para viver), devido ao acúmulo de água no declive dessas vias em períodos de estiagem. Aqui há uma mudança drástica na paisagem no período da seca e poucos ambientes aquáticos ficam disponíveis, fazendo com que os jacarés se concentrem na lama formada em estradas e se desloquem para encontrar lugares propícios para sobreviverem nas condições de escassez.
Como as estradas-parques internas da RPPN Sesc Pantanal são restritas, atropelamentos são menos frequentes. O fluxo acaba sendo menor e também há uma proteção maior para os animais que vivem aqui (uma unidade de conservação) em comparação com outros tipos de estradas e rodovias.
Apesar de não ser muito documentado o deslocamento de fêmeas com filhotes, devemos sempre ter atenção redobrada (independente da categoria da estrada) para esses fenômenos em massa, pois um único carro pode matar dezenas de animais de uma só vez (como no exemplo da chacina de tartaruguinhas).