
Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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A fauna silvestre brasileira possui uma riqueza de espécies sem igual. Somos considerados como uma das maiores riquezas em diversidade biológica do mundo, isso devido principalmente à variedade de biomas e de características de ambientes que possuímos, o que também nos levou a ter especificidades e espécies da fauna que só habitam nesses locais.
A fauna brasileira é caracterizada por animais de médio a pequeno porte, não existindo grandes mamíferos ou répteis como no continente africano ou animais extremamente peçonhentos ou venenosos como na Austrália. Porém, a sombra do medo e da dúvida sempre percorrem a mente da população, principalmente por desconhecimento dos hábitos e habitat de nossa fauna e da capacidade de adequação de animais exóticos aos seus ambientes.
O fator redes sociais tem sido um grande parceiro para identificar animais que precisam de ajuda, ou seja, de resgate por terem sido vítimas de algum incidente urbano, como eletrocussões e atropelamentos, ou ainda de doenças. Porém, informações dúbias ou infundadas são sempre recorrentes no quesito fauna em conflito com humano. O medo ou o desconhecimento das espécies e seus hábitos levam a incursões frustradas para resgatar ou capturar certos animais.
O Centro de Triagem de Animais Silvestres Tangará, do CPRH (PE), não é diferente de outros centros e sempre estamos recebendo ligações ou mensagens sobre fauna que precisa de resgate. Porém, muitas não são reais, mas boatos. Temos alguns exemplos clássicos, como o caso de alguém ter soltado serpentes da espécie mamba-negra em área de mata atlântica e que estariam se disseminando pela região ou uma sucuri que soltaram em determinadas localidades e que estaria se alimentando de pessoas. Há também os casos de onças que andariam pela região e estariam matando animais domésticos e pessoas – sendo que o último registro de suçuarana na nossa região, infelizmente foi da década de 1980.
É evidente que precisamos ficar atentos a essas questões, pois sabemos que o tráfico de animais silvestres não tem limites e o gosto exótico das pessoas por possuir animais de outras localidades e com características pouco usuais se dá por pelo desejo de exibição de um troféu pelo maior animal adquirido ou pelo mais perigoso.
Contudo, o desconhecido e o medo exacerbado de algumas espécies levam a incursões totalmente frustradas como foi o caso do acionamento para realizarmos o resgate de filhotes de onça que precisavam urgentemente de ajuda. O pedido partiu de uma delegacia da Polícia Civil situada a mais de 500 quilômetros de Recife
Já estávamos nos preparando para ir, mesmo sabendo que poderia ser mais um caso fake. Porém, a convicção do solicitante no momento ludibriaram a possibilidade de ser outra espécie. Pedimos uma foto dos filhotes, que não nos foi enviada pois o solicitante alegou estar distante dos animais e que eles já tinham sido recolhidos, estando na casa de outra pessoa. Por se tratar de filhotes, a urgência em fazer o resgate é sempre grande pela possibilidade de haver uma rápida baixa de glicose, inanição e o risco do uso de leites que não são o corretos no manejo alimentar da espécie.
Quando foi enviada a foto os animais, verificamos que eram gatos domésticos, que merecem cuidados tanto quanto um felino selvagem. Porém, a demanda deveria ser encaminhada para outro órgão e não para o Cetas que não cuida de animais domésticos devido a questões sanitárias.
Fica claro o quanto que as redes sociais ajudam no resgate de um animal que esteja precisando de ajuda ou que esteja fora do seu ambiente natural. Porém, o cuidado no filtro das informações é muito importante para evitar esforços desnecessários.
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