Por Daniel Campesan¹ e Larissa Ferreira²
¹Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental atuando no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS)
²Graduanda em Gestão e Análise Ambiental. É estagiária na Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
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Desde cedo, nos deparamos com a ideia de que o nosso caminho está traçado e que temos toda a clareza no modo de conduzi-lo, com diferentes pensamentos em mente. Por exemplo, os nosso hábitos alimentares ou então, até mesmo, a nossa profissão. Quem nunca se imaginou que com determinada idade estaria atuando naquela profissão que sempre sonhou?
Mas algo que quase nunca paramos para pensar é que as nossas vivências influenciam nossas escolhas e que esta são construídas por toda vida. Por isso, estamos sempre em constante mudança e aprendendo algo novo. E aonde queremos chegar dizendo tudo isso? Que nossos caminhos mudam com o passar do tempo. Tente resgatar junto às suas memórias qual profissão você ansiava quando criança. É a mesma que você hoje exercem?
Para algumas pessoas, a resposta é completamente diferente e para outras muda-se bem pouco. Mas por que mudou? Pois no percorrer de nossa vida, fomos tendo vivências e todas essas experimentações nos ressignificaram, moldaram nossos saberes, valores e nossa participação na sociedade. Cada caminho é único e grandioso em seu saber, por isso sempre devemos valorizar as oportunidades de cada um deles e refletir sobre como diferentes caminhos podem vir a direcionar para uma mesma vertente.
Para ilustrar esses diferentes caminhos, apresentaremos duas entrevistas realizadas com diferentes profissionais que trabalham com educação ambiental para a conservação. A primeira entrevistada é a Sarah Furucho, educadora especial formada pela Universidade Federal de São Carlos e a segunda é a Monica Gonçalves, mestra em Ciências Ambientais e educadora ambiental. Ambas trabalham na startup Fubá Educação Ambiental. Elas puderam compartilhar sobre como começaram a trabalhar na educação ambiental para conservação da biodiversidade e o que mais chama atenção nessa área.
“Tudo começou quando uma pessoa me enviou um edital por achar que combinava com o meu perfil. Quando eu li, já senti que a vaga tinha sido feita pra mim. O projeto era sobre educação ambiental em espaços de educação não formal e a proposta era trabalhar com inclusão. Pronto, juntou duas paixões minhas. Eu participei então do processo seletivo e comecei de fato a trabalhar na área com esse projeto. E já faz quase três anos que estou na Fubá.
Além disso, tive a oportunidade de conhecer e trabalhar em diversas atividades e outros projetos incríveis na área de conservação e só tenho vontade de continuar alinhando essa área com a minha de formação.
Mas antes disso, sem entender muito da área, eu já era a “ecochata” da casa e há muito tempo me interesso pelas causas da área. Mesmo com sentimento de impotência muitas vezes, tentava participar de alguma forma, nem que fosse colocando a assinatura em abaixo assinado de ongs.” – Sarah Furucho.
Quando questionada sobre o que mais chama a sua atenção na área, Sarah compartilha que é a forma como a educação ambiental abraça o mundo e todas as áreas; é esse olhar do todo. “Através dela, eu pude ampliar e mudar em alguns aspectos meu modo de enxergar nossas relações com os diferentes seres e nossas responsabilidades de uma maneira mais leve, mas não com menos compromisso. Poder participar de ações que podem contribuir para que outras pessoas possam ter esse tipo de experiência, e tornar isso acessível e inclusivo para diferentes pessoas e necessidades, é o que me motiva.”
Sarah em exposição itinerante promovida pelo Instituto de Animais Silvestres (ICAS) em Aquidauana (MS). O momento é de tirar as dúvidas dos estudantes sobre os animais que foram flagrados nas armadilhas fotográficas – Foto: ICAS
Em relação a Monica, que já tinha tido contato com a área ambiental ao longo da sua formação, ela conta mais sobre como os seus gostos da infância influenciaram na sua carreira profissional e sua trajetória até chegar na educação ambiental para conservação.
“Bom, eu sempre gostei de natureza, de bichinhos, e busquei um curso na área ambiental. Fiz Gestão e Análise Ambiental e sempre me envolvi nos projetos que eu conhecia de educação ambiental, mas não tinha muita noção de como seria o mercado de trabalho na área.
Depois eu fiz mestrado em Ciências Ambientais. Minha pesquisa foi sobre gestão de áreas verdes urbanas e, como conversava com o tema, participei de um projeto de educação ambiental em bosques urbanos. Esse projeto trazia um pouco a questão de sensibilização para valorização da biodiversidade em espaços urbanos. Foi uma experiência bem legal!
Logo que eu terminei o mestrado, vi uma vaga de bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para pesquisa em educação ambiental na empresa Fubá Educação Ambiental. Me inscrevi e fui selecionada para trabalhar na construção de um aplicativo para espaços educadores como zoológicos, trilhas e museus. O protótipo e a pesquisa foram feitos no Parque Ecológico de São Carlos (SP). E foi nessa época que eu me aprofundei na educação ambiental para conservação da biodiversidade, com foco em animais, porque a gente sabe que biodiversidade envolve tudo, não só os animais.
Por meio da Fubá, eu pude conhecer os projetos do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) e tive a oportunidade de colaborar com as ações de educação ambiental do Projeto Tatu Canastra e do Bandeiras e Rodovias, que são referência em conservação das espécies tatu-canastra e tamanduá-bandeira.
E esse é o resumo da trajetória: eu já vinha da área ambiental, aí fui permeando os caminhos da educação ambiental e hoje estou atuando na Fubá e no ICAS (também pela Fubá), que, para mim, são duas referências: uma em educação ambiental e o outro em conservação.” – Monica Gonçalves
Monica complementa que a área em si chama muito a sua atenção. Sobretudo as possibilidades de trabalhar com diversos temas, relações e interações entre eles e a associação com praticamente todos os assuntos.
“Porque tudo está conectado, né? Então para abordar a conservação de uma única espécie tem muita coisa envolvida. E aí é possível criar muita atividade que sensibiliza e que ajuda a compartilhar saberes, que gera reflexões, que gera valor. Eu até me empolgo com todas as possibilidades e ideias que dá para ter nessa área. Ah, e também a sensação boa de sentir que está contribuindo um pouquinho para favorecer a biodiversidade que é tão rica e tão bonita no nosso país!”
Após a apresentação desses incríveis relatos, observamos algo muito interessante. Os caminhos, vivências e conexões percorridas por essas duas educadoras foram diferentes, mas ambas trabalham na mesma área. Essa diversidade de experiências e saberes junto a outros pontos torna a área da educação ambiental tão apaixonante.
O potencial de equipes multidisciplinares é gigantesco. Um time que pensa diferente, mas que busca objetivos em comum, tem mais chances de encontrar uma solução efetiva para as problemáticas socioambientais, inclusive na conservação da biodiversidade.
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