Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
O termo eutanásia, do grego eu – bom e thanatos – morte, é a prática de causar a morte de um animal de maneira controlada e assistida para alívio da dor ou do sofrimento, devido a impossibilidade de reestabelecer a saúde e o bem-estar, utilizando analgésicos, sedativos e demais fármacos, conforme o parágrafo 1º do artigo 14 da Lei nº 11.794 de 2008. É um assunto que deve ser abordado com cautela, ética e respeito, visando sempre a saúde e o bem-estar animal.
Francis Bacon, filósofo inglês que utilizou o termo eutanásia no século 17, sugeriu que os médicos proporcionassem uma morte doce e pacífica aos pacientes (humanos) com doenças incuráveis e em estado terminal. Nesse contexto, a Medicina tem como objetivos a promoção da saúde, a prevenção e a cura de doenças, além do alívio dos sintomas, da dor e do sofrimento. Dessa forma, esse assunto será abordado no âmbito na Medicina Veterinária, em que a eutanásia por vezes se faz necessária em animais domésticos, silvestres, exóticos e nativos.
Nos empreendimentos de fauna, como os centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras), a eutanásia têm sido cada vez mais discutida, pois em diversas situações o tratamento mais adequado aos animais silvestres encaminhados é esse procedimento. No entanto, é extremamente importante que os casos clínicos sejam avaliados pelo profissional habilitado e qualificado, com formação ética e humanitária, como os médicos veterinários. Esses profissionais avaliam a espécie, peso e condições do animal, e assim utilizam o fármaco e o método mais adequado para cada caso.
Nos deparamos com inúmeros casos clínicos em que lesões, fraturas, mutilações de membros, comprometimentos locomotores e alterações neurológicas irreversíveis são recorrentes nos animais silvestres. Nos últimos meses, com a predominância da estação seca no cerrado goiano, tem sido frequente o recebimento de seriemas (Cariama cristata), vítimas de atropelamento em rodovias, com múltiplas fraturas pelo corpo, impossibilitando a reabilitação.
As seriemas são aves pernaltas, ou seja, possuem os membros inferiores alongados, de voos curtos, onívora, de hábito diurno e de forrageio durante grande parte do tempo na busca por alimentos. A ocorrência de atropelamentos pode estar associada à presença de áreas destinadas para lavouras na região, onde após a colheita, os caminhões carregados espalham os grãos pelas pistas. Há também a presença de pequenos insetos nas áreas de cultivo, contribuindo assim para a ocorrência dos acidentes.
Em sua maioria, as seriemas são resgatadas e encaminhadas ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Catalão com fraturas nos membros inferiores e pélvicos, nas asas e no crânio. Em virtude da impossibilidade de reabilitação, muitas são destinadas à eutanásia, pois as fraturas e as lesões são irreparáveis, o que compromete a saúde e o bem-estar dessas aves. Além das seriemas, foram encaminhados outros indivíduos que não possuíam condições de se reabilitar, como um ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis), com membro superior mutilado, miíase no olho esquerdo e fratura na região nasal, além de desidratação severa.
Mas não são todos os casos desse tipo que terminam na eutanásia. Conseguimos reabilitar muitos indivíduos que, apesar de ficarem com alterações físicas que impossibilitam o seu retorno à natureza, são encaminhados para cativeiro. Nesses casos, empreendimentos de fauna, como criadouros e zoológicos, podem manifestar o interesse em receber esses indivíduos para o desenvolvimento de projetos de conservação e genética animal, além da educação ambiental.
Todo animal tem o seu valor e merece respeito, independente da sua espécie ou condição.
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