Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os biomas brasileiros têm por definição sua distinção entre si, ou seja, são ambientes com diferenças um do outro, processos bem característicos ao seu nicho ecológico e peculiaridades de período e tempo ao seu modo de existência.
Dentro das peculiaridades de cada bioma, podemos citar os períodos reprodutivos da fauna. Ainda assim, eles são tão extensos que, mesmo em um mesmo bioma, são os limites geográficos que irão determinar as épocas de reprodução das espécies.
Para exemplificar, podemos citar os mais populares biomas brasileiros dentro desse processo e diagnosticar como eles influenciam o quadro nacional de reprodução de fauna e, por consequência, a rotina dos centros de triagem e de reabilitação de animais silvestres (Cetras) brasileiros, que acabam tendo de se preparar para cada período reprodutivo. Nos Cetras, os filhotes sempre são motivos de muito trabalho e dedicação para toda equipe técnica.
Nos Cetras do Brasil, basicamente vamos ter dois períodos em que se deve ter total atenção a recepção de filhotes: os períodos reprodutivos dos biomas onde o centro tem área de atuação direta e no período reprodutivo do Cerrado e do Pantanal, de onde parte a maior parte de animais que alimentam o tráfico de fauna silvestre do país – fator que mexe em toda a rotina dos centros existentes onde esses espécimes são destinados para venda.
Podemos citar como funciona e como se prepara o Cetras Tangará, de Pernambuco, onde temos área de influência de dois biomas que ocorrem no Estado e ainda ter o Cerrado como um terceiro a trazer preocupação e atenção.
Em Pernambuco, teremos a Caatinga com seu processo reprodutivo baseado nas chuvas que podem ocorrer entre dezembro a maio, se concentrando mais em quatro meses dentro desse período, e a Mata Atlântica nordestina, com período bem definido de março a julho, pois os ciclos de chuvas são mais regulares. Além desses, iremos ter atenção com o Cerrado e o Pantanal, que têm as épocas reprodutivas simultâneas entre agosto a dezembro.
No processo dos biomas de influência do Estado, Caatinga e Mata Atlântica nordestina, o perfil de recepção de animais vai ser mais de filhotes resgatados por incidentes com os pais, como tamanduás, gatos-do-mato, quatis, guaxinins, sabiás e iguanas, por exemplo. Já no período do Cerrado e do Pantanal, iremos ter, em sua grande maioria, os filhotes de psitacídeos tirando a tranquilidade de qualquer Cetras, pois chegam em apreensões de traficantes em números bem significativos, como ocorreu 2010, quando em uma única apreensão foram resgatados 517 filhotes dessa ordem.
Visto isso, podemos destacar que em Pernambuco só teremos um período de baixa em relação aos filhotes entre julho e setembro. Mesmo assim, pode haver alterações caso tenhamos uma estiagem maior, o que amplia um período para dentro de outro e, com isso, fecha-se basicamente o ano todo em atenção a esses processos.
Dessa forma, também vamos ter uma preparação bem diferente para cada processo. Como o Cerrado e o Pantanal trazem um maior número de apreensões de psitacídeos, temos um trabalho que exige uma equipe maior e bem treinada. Por isso, algumas coisas são pensadas para atender essa demanda, como a seleção de novos estagiários um pouco antes do período para adquirirem experiência para o início de temporada. Outra estratégia é ter um bom estoque de papas tipo sucedâneo, equipamentos tipo seringas e bicos de alimentação para o manejo alimentar dos filhotes e produtos de higiene como luvas de procedimentos, máscaras e desinfetantes.
Quando o assunto é filhotes de psitacídeos, os Cetras do Brasil sempre vão ter um grande desafio. É preciso urgentemente traçar diretrizes e ações que apoiem de forma estrutural e financeira os locais onde se centralizam esses recebimentos para que se obtenha sucesso, tanto nos procedimentos de manejo quanto no de destinação desses animais, que são recebidos aos milhares todos os anos.
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