
Bióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Estruturas de drenagem, como pontes e bueiros, não são intencionalmente planejadas para a passagem de fauna. Motivados em descobrir se essas estruturas facilitavam o movimento da cobra-real (Ophiophagus hannah), entre os lados de uma rodovia na Tailândia, pesquisadores monitoraram 21 indivíduos da espécie por telemetria. As serpentes foram capturadas nas proximidades de uma rodovia de particular interesse para conservação por estar localizada entre áreas de agricultura e de fragmentos de floresta nativa.
Durante o estudo, eles mapearam 32 estruturas de drenagem (pontes e bueiros), em aproximadamente 15 quilômetros de rodovia, que poderiam ser usadas pelas serpentes para atravessar a rodovia em segurança. Além disso, eles registraram 84 tentativas de travessia na rodovia pelos indivíduos monitorados, sendo que uma delas resultou na morte de um indivíduo por atropelamento. Essa tentativa foi a única em que se constatou não haver qualquer estrutura de drenagem nas proximidades. Foram avistados três indivíduos monitorados utilizando pontes e bueiros, bem como indivíduos não monitorados atravessando sobre a rodovia ou atropelados.
Embora o estudo não tenha conseguido avaliar diretamente o uso das estruturas de drenagem pelas serpentes, os pesquisadores ressaltam que muitas travessias bem-sucedidas coincidiram com os locais das estruturas de drenagem, por isso eles têm confiança para dizer que esses animais as estão utilizando para se movimentar. Entretanto, o avistamento de animais na superfície da rodovia e o registro de atropelamentos evidenciam que essas estruturas de drenagem não são suficientes para mitigar os atropelamentos. Ainda assim, são promissoras para a manutenção da conectividade entre ambientes utilizados por essa população de serpentes.
Estruturas de drenagem podem ser benéficas para a fauna, principalmente se associadas a cercas direcionadoras que também bloqueiem o acesso dos animais à rodovia. Um estudo que monitorasse diretamente as estruturas, com armadilhas fotográficas, por exemplo, poderia ajudar a confirmar essas travessias, como este trabalho realizado no Canadá. Além disso, outros estudos (outubro de 2020 e novembro de 2020) já registraram o uso desse tipo de estrutura por diferentes espécies, como lontras, pequenos mamíferos e outros répteis, e demostraram que algumas adaptações podem aumentar ainda mais seu uso pela fauna. É o caso da instalação de plataformas secas (artigos de 2013 e 2014) e que permitem que os animais utilizem a estrutura mesmo na presença de água.

É interessante pensar que essas estruturas de drenagem já fazem parte do projeto das rodovias e existem em vias já construídas. Se pudéssemos encontrar formas de aumentar seu uso pela fauna ou identificar os modelos ou adaptações mais adequadas para diferentes espécies, faríamos delas uma oportunidade de reduzir o impacto das rodovias. Otimizando assim, recursos, esforços e mitigação.
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