Bióloga com mestrado e doutorado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A paleontologia foi o foco de sua pesquisa no doutorado.
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O Brasil em que hoje vemos seus maravilhosos e únicos biomas pegando fogo dia após dia é o resultado de milhões de anos de evolução e modificações nessas porções rochosas que chamamos de nosso país. Por exemplo, há cerca de 400 milhões de anos, em um período denominado Devoniano, a região central do Brasil, compreendida pelos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, era ocupada por um mar continental. Esse mar depositou metros de sedimentos, que com o passar dos milhões de anos se transformaram nas rochas contidas dentro da Bacia do Paraná e cujo nome é Formação Ponta Grossa.
Os sedimentos que deram origem às rochas da Formação Ponta Grossa foram depositadas em um contexto de mar raso e gelado, uma vez que o período Devoniano é marcado por uma queda das médias globais de temperatura. Esse mar pertencia ao oceano Panthalassa e tinha como característica suas águas calmas, mas que ainda assim permitia o soterramento rápido de organismos mortos e, consequentemente, sua preservação na forma de fósseis. Dessa forma, a Formação Ponta Grossa é bastante prolífica em restos fósseis muito bem preservados.
Hoje, veremos um pouco sobre as estrelas que essas rochas escondem.
Os Echinodermata são um grupo de animais deuterostômios (o blastóporo, primeira abertura formada no embrião, gera o ânus, assim como em nós seres humanos) com formas corporais bem variadas, como o ouriço, a bolacha e o pepino-do-mar. Mas não podemos esquecer das maravilhosas estrelas-do-mar (Asteroidea) e dos ofíuros (Ophiuroidea), que possuem, em geral, cinco braços e tem seus corpos compostos por placas de calcita. Essas estruturas são mantidas unidas por ligamentos que facilmente são quebrados ou decompostos após a morte do animal, tornando extremamente difícil encontrar fósseis de estrelas-do-mar e ofiuroídeos completos ou bem preservados.
Devido ao cenário de baixa energia, frio e com rápido soterramento de animais mortos, a Formação Ponta Grossa nos brinda com maravilhosos e praticamente completos fósseis de estrelas-do-mar e ofiuroídeos! Aqui, apresentamos as duas novas espécies descritas por Fraga & Vega (2020) e os demais novos achados do trabalho.
Às vezes, para chegarmos ao que buscamos, precisamos apenas encontrar o lugar certo para procurar! Ótimo mês a todos.
Novas espécimes descritos para formação Ponta Grossa:
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