Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS).
Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
Rotas de deslocamento, sejam terrestres, aéreas ou aquáticas, estão presentes e são necessárias na vida humana. Aqui nos artigos, costumamos discutir os impactos ambientais causados por essas infraestruturas lineares sobre a fauna. No entanto, a necessidade de se mover para acessar diferentes lugares e recursos não é exclusiva dos seres humanos. Os animais não utilizam apenas as rotas de deslocamento feitas pelos humanos, mas também criam suas próprias trilhas ou usam as trilhas de outras espécies. São estradas não humanas. Por exemplo, é fácil observar caminhos marcados pelas formigas no chão de uma floresta ou mesmo em uma horta urbana. Mesmo sendo animais de tamanho pequeno, elas conseguem modificar o solo por onde passam e criam uma “mini estrada”.
Animais maiores podem abrir caminhos semelhantes a estradas. Obviamente que não são largos o suficiente para carros passarem, mas apresentam características semelhantes, como a supressão de vegetação e a compactação do solo. Esses caminhos são facilmente perceptíveis quando são feitos por animais de criação de grande porte, como os bovinos.
As estradas criadas pelo gado também são utilizadas por outros animais e até para acesso humano – inclusive por nós, pesquisadores. Apesar do impacto causado pelo gado na paisagem, as trilhas criadas por eles facilitam o acesso a locais difíceis. Em meu último trabalho de campo, percebi que só consegui acessar uma área arbustiva densa devido à presença das trilhas percorridas por esses animais. Nem sempre era a rota mais rápida até o meu destino, mas o custo-benefício de compartilhar a estrada poupou muito esforço em abrir novos caminhos.
Acredito que esse cálculo de benefício energético também seja considerado por outros animais que não desejam gastar energia quebrando galhos ou percorrendo caminhos desconhecidos. Mesmo indivíduos que nunca usaram uma rota específica, o caminho pode ser reconhecido por meio de cheiros e marcas feitas por outros.
Um estudo realizado no Arizona traz uma perspectiva positiva em relação às estradas feitas por ungulados (mamíferos com cascos). Os pesquisadores defendem que esses caminhos podem ser benéficos em ambientes montanhosos áridos, criando manchas arbustivas e mosaicos de paisagem. Isso resulta em uma maior complexidade na distribuição de recursos hídricos, o que beneficia a resiliência do ambiente durante períodos de estiagem.
No entanto, tanto em nossas rodovias quanto nas estradas feitas por animais, principalmente o gado, em uma escala desproporcional, podem causar malefícios para outras espécies. Existem estudos demonstrando o impacto no solo e na vegetação causados pelos caminhos criados pelo gado devido ao pisoteio intensivo no mesmo local.
Além disso, alguns impactos podem ser comparáveis aos causados pelas rodovias, como a alteração e a perda de hábitat. Acredito que até mesmo o possível pisoteio em pequenos animais pode ser análogo (em uma escala bem menor) ao impacto causado pelo atropelamento de fauna.
É interessante observar a possível analogia entre as necessidades e as estratégias de movimento humano com as de outras espécies, assim como os impactos. Embora saibamos que animais de muitas espécies têm o hábito de utilizar caminhos já existentes, a Ecologia do Movimento da fauna ainda apresenta muitas lacunas a serem compreendidas. Quem sabe, no futuro, encontraremos mais semelhanças entre as nossas escolhas de rotas e as de outros animais.
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Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS). Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
