Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS).
Seus interesses estão ligados à conservação da natureza, principalmente à Ecologia de Rodovias para a compreensão dos impactos dos empreendimentos viários sobre a fauna.
Embora muitos ainda neguem, vivemos em um mundo em rápida mudança, sejam elas na paisagem ou no clima. Não só essas mudanças afetam a nossa espécie, como tristemente vimos nas inundações que recentemente afetaram o Rio Grande do Sul, como impactam todas as outras espécies que coabitam este planeta conosco. Mudanças no clima e na paisagem influenciam na disponibilidade de recursos para a fauna, como alimento, água, locais de abrigo e o encontro de parceiros reprodutivos, por exemplo. Para sobreviver a essas alterações ambientais, os animais possivelmente precisarão ajustar seu comportamento. Entender como as mudanças antrópicas afetam diferentes dinâmicas da fauna é muito importante para que possamos tomar decisões assertivas em estratégias de conservação das espécies.
Uma grande fonte de mudança na paisagem do planeta são as rodovias, com mais de 21 milhões de quilômetros espalhados globalmente. Em resposta a essas estruturas, as espécies da fauna podem modificar seu comportamento e movimento de diferentes maneiras. A diversidade de respostas é enorme, seja entre as espécies ou dentro de uma mesma espécie. Indivíduos podem responder de maneira particular, dependendo das atividades que estejam desempenhando (descansando ou se reproduzindo, por exemplo) ou de acordo com a época do ano. Uma maneira interessante de entender o comportamento dos animais em relação às rodovias é por meio da avaliação de seus padrões de movimento, utilizando colares de telemetria (dispositivos fixados nos animais que gravam sua localização de tempos em tempos).
Pensando nisso, pesquisadores da Argentina e dos Estados Unidos avaliaram o comportamento de guanacos, camelídeos da América do Sul, em relação às estradas. Para isso, eles monitoraram o movimento e o uso do hábitat da espécie nos arredores de vias pavimentadas e não pavimentadas no Parque Nacional Monte León, na Argentina, com colares de telemetria. Além disso, monitoraram os cruzamentos dos indivíduos nas estradas presentes na área de estudo. Os cientistas também compararam esses padrões de movimento dos guanacos nas quatro estações do ano e de acordo com a atividade desempenhada pelo animal (descanso, alimentação e deslocamento).
O monitoramento dos animais ocorreu entre 2019 e 2022 e a localização dos indivíduos era registrada a cada duas horas pelo equipamento de telemetria. Com os dados de distância e ângulo entre as localizações registradas, os pesquisadores puderam caracterizar a atividade desempenhada pelos animais.
Foi registrado que os guanacos selecionam as proximidades das estradas pavimentadas para se alimentarem, enquanto para se deslocarem eles escolhem as não pavimentadas. Além disso, apesar da proximidade desses animais com as estradas, os resultados indicam que eles evitam cruzá-las.
O estudo não investigou especificamente por que os guanacos estariam selecionando esses ambientes marginais das rodovias para alimentação, mas os pesquisadores imaginam que a produtividade da vegetação deva ser maior nesses locais, atraindo os animais. O comportamento dos guanacos indica que as estradas podem estar sendo uma barreira para o movimento da espécie e ao mesmo tempo uma armadilha ecológica, pois podem expor esses animais a maiores riscos de colisões com veículos e caça, por exemplo.
Uma questão importante levantada pelos cientistas, que nos mostra uma aplicação prática em decorrência dos resultados desse estudo, é o fato de muitas estimativas populacionais de guanacos serem feitas a partir de observações realizadas de carro em rodovias. Considerando que esses animais se atraem por esses ambientes, as estimativas populacionais podem estar superestimando o tamanho populacional da espécie, o que tem impacto direto na avaliação de seu estado de conservação.
Compreender como as espécies respondem às mudanças ambientais é essencial para que possamos melhorar nossas estratégias de conservação e planejar medidas mitigadoras. Para os guanacos, talvez a solução esteja em promover uma maior conectividade entre os lados da rodovia em ambientes com maior disponibilidade de vegetação e em adequar a maneira de estimar o tamanho das populações. Para outras espécies, essas respostas e estratégias devem ser diferentes.
O que é certo é que neste mundo de rápidas mudanças, não podemos negá-las, mas enfrentá-las e mitigá-las com a melhor evidência que pudermos produzir.
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS). Seus interesses estão ligados à conservação da natureza, principalmente à Ecologia de Rodovias para a compreensão dos impactos dos empreendimentos […]
